A História dos Grandes Prêmios – Alemanha 1953

Alberto Ascari esteve num dia iluminado em Nurburgring, mas os problemas mecânicos o privaram de uma vitória ainda mais impressionante que conseguira em Silverstone. Melhor para Giuseppe Farina, que passou para vencer seu único GP no ano e também o último na Fórmula -1.

 

A quadriculada para Giuseppe Farina em Nurburgring: foi a ultima vitória do campeão de 1950 na Fórmula 1

Se na França as coisas não saíram da melhor forma possível, após um magro quarto lugar, Ascari retomou a caminhada no campeonato com uma exibição impiedosa sobre os demais ao conseguir colocar volta no terceiro e ficar mais de um minuto a frente do segundo colocado em Silverstone. Aquele GP britânico viu Alberto Ascari mostrar a sua classe com uma performance impressionante, onde a velocidade esteve presente em todos o momentos principalmente quando a chuva começou a cair no circuito inglês nas últimas voltas: enquanto que boa parte se segurava como podia na pista molhada, Ascari continuava andar forte procurando extrair o máximo do Ferrari 500 para chegar numa vitória incontestável no GP britânico. Nem mesmo a crescente melhora da Maserati foi páreo nessa disputa contra Ascari, principalmente por conta de Jose Froilan Gonzalez que tem sido até esta altura o piloto que mais se aproximou do italiano em velocidade pura, mas ainda faltava algo para que pudesse, enfim, fazer frente para aquela perfeita simbiose que era implacável desde 1952. O GP da Alemanha, no majestoso Nurburgring, era o local perfeito para que Ascari continuasse a sua exibição de gala num campeonato que pendia cada vez para seu lado.

Dos 35 inscritos para aquele GP alemão treze eram de equipes locais: Veritas teve sete carros inscritos e todos de forma particular. Wolfgang Seidel, Willi Heeks, Theo Helfrich, Oswald Karch, Ernst Loof, Hans Hermann e Erwin Bauer eram os pilotos que representavam os Veritas; AFM teve três modelos 6 com motor BMW inscritos pelo antigo piloto da Auto Union Hans Stuck, Theo Fitzau e Günther Bechem; Edgard Barth inscreveu um EMW, Rudolf Krause um Greifzu e Ernest Klodwig um Hek. Todos estes três carros usavam motores BMW. A Ferrari continuou levou sua equipe oficial com Alberto Ascari, Giuseppe Farina, Luigi Villoresi e Mike Hawthorn. Outras três Ferrari foram inscritas particularmente: uma Ferrari 500 pela Ecurie Francorchamps, pilotada por Jacques Swaters, e outra 500 inscrita por Louis Rosier a partir de sua equipe Ecurie Rosier e a terceira Ferrari era uma 166C que vinha da equipe suíça Ecurie Espadon e que foi conduzido por Kurt Adolf. A Maserati estava desfalcada nesta prova: Jose Froilan Gonzalez se machucara durante uma prova em Portugal e desfalcaria a equipe italiana nesta corrida. Dessa forma a Maserati alinhou apenas três carros oficiais para Juan Manuel Fangio, Onofre Marimon e Felice Bonetto. O quarto Maserati vinha de Emmanuel de Graffenried, sempre de forma particular. A Gordini não estrearia nessa prova o seu motor V8  e sendo assim, não traria novidades. Alinhou três T16 para Jean Behra, Maurice Trintignant e Harry Schell. Connaught teve quatro carro nessa provas, sendo três oficiais para Principe Bira, Roy Salvadori e Kenneth McAlpine. O quarto Connaught vinha da equipe belga Ecurie Belge com Johnny Claes ao volante. A Cooper retornou com sua equipe ocifial, mas alinhando apenas um Special com motor Alta para Stirling Moss após este ter ficado de fora do GP da Grã Bretanha. Outros três Cooper T23 com motor Bristol foram inscritos por equipes particulares: dois por conta da Equipe Anglaise e pilotados por Alan Brown e Helm Glockler e o outro de for particular por Rodney Nuckey.

Ascari é o pole. E com sobras

Assim como acontecera em Silverstone, as primeiras atividades foram com chuva e isso inibiu a entrada de boa parte dos pilotos para tentarem acertar os carros. Foi tão atípico que Mike Hawthorn, ao invés de levar seu Ferrari 500 para pista, acabou levando um carro Sport da Ferrari para fazer testes. Outros tempos…

No sábado quando o tempo deu uma pequena melhora, foi o momento certeiro para que Alberto Ascari botasse o seu passo de gigante sobre os demais e cravasse a pole com a marca de 9’59’’8, cerca de 3’9 segundos mais veloz que Fangio que terminara em segundo. Farina ficou com a terceira posição, com 0’’4 décimos de atraso para o piloto argentino. Mike Hawthorn era o quarto,  treze segundos mais lento que o tempo feito por Ascari. A surpresa ficava por conta de Maurice Trintignant que colocara seu Gordini na quinta colocação, conseguindo furar a bolha dos carros italianos. Villoresi, Bonetto, Marimon, Behra e Schell completaram os dez primeiros do grid.

Aula de Ascari. Vitória de Farina

Giuseppe Farina ao lado do Principe do Japão Akihito, que aproveitou a sua ida à Europa para uma visita a Rainha da Inglaterra e foi até Alemanha para acompanhar aquele GP em Nurburgring (Foto: Motorsport Images)

Esse GP alemão foi praticamente uma continuidade do que foi visto em Silverstone semanas atrás, mas com um adendo importante que foi a atuação de Ascari ao volante da Ferrari ainda mais impressionante do que fora na corrida britânica. Fangio fez boa largada, mas seria superado logo em seguida por Ascari que imediatamente abriu largada vantagem, chegando a impressionantes dez segundos ao final da primeira volta. Foi o inicio de uma aula vertiginosa de virtuosismo e velocidade nas inúmeras curvas do Nordschleife pelas voltas seguintes, onde o italiano começou a fazer voltas velozes a cada passagem quebrando o recorde da pista e chegando a 37 segundo de vantagem sobre Fangio na quinta volta, num momento em que o argentino reeditava o famoso duelos de Reims com Mike Hawthorn. Mas a coisas passaram a dar errado para Ascari assim que ele iniciou a sexta volta, quando um cubo de roda quebrou e o fez perder a roda dianteira direita. Alberto conseguiu levar o Ferrari aos boxes enquanto via seus rivais o ultrapassarem e as coisas se tornaram ainda mais difíceis quando os mecânicos ferraritas não estavam prontos para a tal parada, fazendo perder ainda mais tempo no box enquanto estes tentavam achar o cubo de roda – que acabou sendo pego emprestado de um dos Ferrari particular. Ascari voltou em nono, para rapidamente subir o pelotão até a quinta posição, até verificar que estava muito longe do quarto colocado que era Luigi Villoresi. O então campeão do mundo solicitou trocar de carro com Villoresi que, apesar de não concordar com aquilo, acabou acatando a decisão e cedendo o carro #4 para Asacri e assumindo o #1 do campeão. Dessa forma, Alberto subia para quarto, tentando ainda alcançar uma vitória improvável, enquanto que Villoresi caia para 13º e daí começava a segunda parte da grande atuação de Ascari, onde o italiano continuou sua sucessão de voltas velozes para tentar resultar numa recuperação épica que o levaria a uma possível vitória. Infelizmente, ainda quando rodava em quarto e estava se aproximando de Hawthorn, o azar voltou a atacar quando o motor a Ferrari passou a fumaçar até que o forçou abandonar na volta 17. Uma aula de pilotagem que resultou em apenas um ponto pela melhor volta (9’56’’000) para o italiano e também o reconhecimento – mais uma vez – de sua destreza e velocidade pura ao volante de um carro de corrida..

Se Ascari teve seus azares, Giuseppe Farina voltou aos seus grandes dias ao efetuar uma bela prova em Nurburgring. Apesar de ter um inicio tímido, onde se viu atrás de Fangio e Hawthorn – que já estavam anos luz de Ascari –, Farina pareceu ter sido inspirado pela velocidade de Alberto assim que este teve seu problema na roda na volta seis. Giuseppe descontou em uma só volta 10 segundos que o separava de Hawthorn e consequentemente Fangio e foi uma questão de tempo para que ele chegasse a liderança – que aconteceu na volta sete. Dali em diante Farina continuou com seu ritmo forte, chegando se aproximar do recorde de volta de Ascari e aumentando a diferença dele para Fangio, que terminou em mais de um minuto de vantagem na sua melhor corrida naquele ano. Fangio fechou em segundo com problemas de escapamento, mas a folga que ele tinha sobre Hawthorn que vinha em terceiro ajudou a manter a posição. Felice Bonetto foi um dos que se beneficiaram pelos inúmeros problemas mecânicos dos demais para conseguir a sua melhor posição de chegada ao terminar em quarto, assim como Emmanuel de Graffenried que fechou em quinto. Stirling Moss foi o sexto, sendo o melhor dos pilotos que não corriam por Ferrari e Maserati e as coisas para ele poderiam ter sido bem melhores caso não tivesse de fazer uma parada de box para reabastecimento, que o jogou para trás na classificação. Efetuou uma corrida de recuperação que, entre abandonos dos que iam a sua frente e ultrapassagens, o ajudou a chegar na sexta colocação.

Ascari continuava líder do mundial com 37,5, seguido por Farina e Hawthorn com 20 pontos; Fangio com 19; Gonzalez com 14,5.

 

Resultado Final –

Grande Prêmio da Alemanha de 1953 – 7ª Etapa

Autódromo de Nurburgring – 2 de Agosto – 18 voltas

Deixe uma Resposta