A História dos Grandes Prêmios – Alemanha 1954

O GP da Alemanha era o cenário perfeito para a Mercedes retomar o caminho das vitórias após o fiasco em Silverstone. Eles conseguiram e mais uma vez com Fangio, mas o final de semana foi marcado pela morte de Onofre Marimon.

Fangio com o W196 com a nova carroceria de rodas descobertas: grande vitória, apesar o clima triste pela perda de Marimon

O GP da Grã Bretanha havia sido de gosto dúbio para Ferrari e Mercedes: para os italianos, que até tiveram boas apresentações na Argentina e Bélgica, a vitória de Gonzalez em Silverstone foi um presente para eles que passaram perto de tal nas provas já citadas; por outro lado, não se pode negar a simbiose que Jose Froilan Gonzalez e Silverstone possuem com o argentino a conseguir desempenhos tão bons naquele antigo aeródromo. Assim foi em 1951 quando ele deu a Ferrari a sua primeira vitória e passados três anos, voltou a vencer o GP e pilotando uma Ferrari. Certamente um predestinado. Do outro lado da moeda a Mercedes, que foi uma grande decepção na corrida britânica: os problemas de câmbio de Fangio e a falta de visão de seus pilotos que teimavam em acertar os tambores que demarcavam as curvas, danificando a dianteira do W196 em vários locas, fizeram a equipe alemã parecer uma amadora frente as equipe italianas com Fangio e Kling a tomarem voltas de um soberbo Gonzalez. Foi uma derrota humilhante para aqueles que semanas antes haviam “passeado” em Reims, mas por outro lado a Ferrari e as demais sabiam que outra chance como aquela de Silverstone seria bem rara e, portanto, era de suma importância aproveitar essas ocasiões. O GP da Alemanha – também entitulado como GP da Europa – seria um palco importante para a recuperação da Mercedes que, pela primeira vez desde 1939, estaria disputando um Grande Prêmio no seu território.

Os Inscritos

Para este GP alemão foram 24 inscritos distribuídos em onze equipes. Como tem acontecido nas corridas anteriores, os italianos é quem tinham o maior contingente para este GP. A Ferrari contava com seis carros, sendo quatro oficiais e dois particulares: a Scuderia levou para Nurburgring quatro Ferrari 625 e chamou Piero Taruffi para substituir o convalescente Giuseppe Farina. Taruffi alinhou ao lado de Jose Froilan Gonzalez, Mike Hawthorn e Maurice Trintignant; os outros Ferrari 625 ficaram para a equipe de Louis Rosier (Ecurie Rosier) que além de contar com o próprio Louis ainda tinha Robert Manzon. A Maserati levou oito carros, sendo sete 250F e um A6GCM: a equipe oficial contou com Onofre Marimon, Luigi Villoresi e Sergio Mantovani; Roberto Mieres alinhou um 250F em seu nome, pratica que foi usada por Principe Bira, Stirling Moss e Harry Schell que inscreveu o único A6GCM; a Owen Racing levou um 250F para Ken Wharton.

A Gordini levou quatro T16 velho de guerra  que foram conduzidos por Jean Behra, Paul Frère, Cleman Bucci e André Pilette. Após o fracasso de Silverstone, a Mercedes agiu rapidamente ao colocar na pista o W196 com rodas expostas o que eliminaria os grandes problemas que afligiram Fangio na etapa britânica. Esse modelo foi conduzido por Fangio, Karl Kling e Hermann Lang, que fora convocado para este GP. O W196 com rodas cobertas foi pilotado por Hans Hermann – o carro recebeu a nomenclatura de STR de “Streamlined”. Theo Helfrich esteve no comando do Klenk BMW inscrito por Hans Klenk.

Pole para Fangio em meio a tragédia

Juan Manuel Fangio não teve grande trabalho para cravar mais um pole e desta vez com uma diferença considerável para o segundo colocado que era Mike Hawthorn: foram 3,2 segundos de vantagem sobre o inglês da Ferrari e 10,6 sobre Stirling Moss que colocara a sua 250F num ótimo terceiro lugar, conseguindo eclipsar os outros carros oficiais da Ferrari, Maserati e Mercedes.

Onofre Marimon morreu aos 30 anos

Mas aquele treino acabou por ser ensombrado pela morte precoce de Onofre Marimon. O piloto argentino, em sua tentativa de melhorar o tempo de volta, acabou escapando na curva Breidscheid. O seu Maserati desceu uma ladeira e acabou sendo catapultada após acertar uma vala, o que fez o Maserati capotar até parar com as quatro rodas para o ar. O piloto argentino, que ocupava naquele momento a oitava colocação, veio falecer na altura de seus 30 anos numa ocasião em que despontava como uma das grandes promessas da categoria e principalmente do automobilismo argentino. Foi um duro golpe para seus conterrâneos ali presentes, especialmente para Juan Manuel Fangio e Gonzalez que foi ao choro compulsivo e amparado por Fangio. Onofre Marimon foi o primeiro piloto morto em uma competição oficial da Fórmula-1 – excetuando as 500 Milhas de Indianapolis. Luigi Villoresi se retirou do resto do final de semana, deixando apenas o carro de Sergio Mantovani como o único Maserati oficial. O mesmo exemplo foi seguido pela Owen Racing que se retirou do GP.

Vitória para Fangio

O grid de largada em Nurburgring

O inicio do GP deu a Ferrari alguma esperança quando Gonzalez conseguiu largar melhor que Fangio, mas quando a primeira volta foi completada era o piloto da Mercedes que estava na frente e lá perdeu momentaneamente para Karl Kling no decorrer da prova, que partira de ultimo e fizera uma corrida de recuperação.

A Ferrari não teve uma grande tarde em Nurburgring, apesar de Gonzalez ter feito uma bela largada. Aliás, o próprio Gonzalez acabou não mantendo o ritmo em face a grande tristez pela perda de Marimon – ele tinha sido o piloto que mais sentiu essa morte – a ponto da Ferrari pedir-lhe para parar na volta 16 entregar o carro para Mike Hawthorn, que abandonara na volta três com problemas na caixa de câmbio. Outros pilotos sofreram com problemas, como foi o caso de Stirling Moss que teve um rolamento quebrado na primeira volta e André Pilette que abandonou antes de completar a primeira volta com a suspensão avariada. Hermann Lang também veio abandonar com vazamento de combustível no seu Mercedes, marcando assim a sua derradeira aparição nos GPs.

Quando Hawthorn assumiu o comando da Ferrari #11 de Gonzalez, ele tentou alguma reação para alcançar Fangio – uma vez que ele assumira o segundo lugar após rodada de Karl Kling que despencara para quarto –, mas não teve tempo para tentar uma ameaça devido a chuva que começou a cair em alguns pontos do longo traçado de Nurburgring. Dessa forma e com mais de um minuto de avanço Fangio venceu o GP da Alemanha, assinalando a sua quarta conquista no ano. Mike Hawthorn e Froilan Gonzalez garantiram o segundo lugar e Maurice Trintignant o terceiro. Karl Kling desperdiçou uma possível dobradinha da Mercedes e foi apenas o quarto, mas fez a melhor volta e ganhou um ponto a mais; e Sergio Mantovani marcou o único ponto da Maserati num final de semana dos mais tristes para a grande equipe italiana.

Este GP da Alemanha teve 22 voltas, quatro a mais do que foi registrado em 1953 por exemplo. Isso elevou o percurso para 500Km e a corrida foi realizada em 3 horas 45 minutos e 45 segundos, o que a tornou na época a corrida de maior duração até então – algo que seria quebrado no GP do Canadá de 2011, quando esta superou a barreira das quatro horas. Porém há de se levar em conta que a corrida canadense, na ocasião, teve uma longa interrupção para ver se realmente podia ou não realizar a prova já que a chuva era intensa e durante este período o relógio não foi parado. Já na corrida da Alemanha de 1954, todo tempo foi de atividade transcorrendo de forma normal.

A vitória em Nurburgring deixou Fangio em boa situação, já que uma vitória no GP da Suíça era o suficiente para lhe assegurar o titulo daquele ano. Fangio aparecia com 36 pontos na primeira posição; Jose Froilan Gonzalez em segundo com 17; Maurice Trintignant em terceiro com 15; Mike Hawthorn em quarto com 10 e Karl Kling em quinto com 10 pontos.

Resultado Final

Grande Prêmio da Alemanha de 1954 – 6ª Etapa

Autódromo de Nurburgring – 1º de agosto – 22 Voltas

 

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