A História dos Grandes Prêmios – Argentina 1955

A abertura do campeonato de 1955 foi no extremamente quente GP da Argentina, obrigado os pilotos a se revezarem nos carros. Enquanto isso acontecia, Juan Manuel Fangio continuou firme e preciso para inciar o campeonato com uma bela vitória diante de seu público

Juan Manuel Fangio celebrando a vitória em Buenos Aires. Foi a sua 14ª conquista, tornando-se o maior vencedor da categoria

Os dois últimos GPs de 1954 deixaram uma ponta de esperança de que a competitividade para aquela nova temporada de 1995 fosse ainda melhor. Apesar do aparecimento da Mercedes em Reims, o mundial teve boas corridas onde as três fábricas italianas conseguiram dar um calor na novata Mercedes. Maserati e Ferrari venceram seus GPs naquele ano, mas quando a Mercedes estreou em Reims, as coisas pareciam que voltariam ao estágio que a Fórmula-1 se encontrou anteriormente onde apenas uma equipe vencia e as demais apenas torciam para que azares dessem a ela oportunidade de vencer as corridas. Porém, mesmo após a estreia apoteótica da fábrica alemã em Reims, as chances apareceram e a Ferrari aproveitou – uma vez que a Maserati havia vencido no inicio do campeonato na Argentina e Bélgica – em Silverstone e Pedralbes com conquistas convincentes. Mesmo em Monza, onde a Mercedes venceu, a disputa tinha sido apertada para os alemães onde Fangio precisou contar com seu talento e sorte para vencer Alberto Ascari e Stirling Moss. E ainda teve a corrida final na Espanha, onde a Mercedes não foi bem e a Ferrari venceu com Mike Hawthorn, mas a imagem de uma espetacular Lancia, junto de Alberto Ascari, levantou a ideia de que 1955 poderia ser ainda melhor.  Seria uma reedição interessante dos anos 30 onde os italianos lutavam contra a Auto Union e Mercedes, mas desta vez seriam os italianos e maior número a tentar bater a esquadra prateada.

As principais equipes para aquele ano de 1955

A Mercedes não dormiu sobre os louros da vitória e trabalhou em seu W196 – ao mesmo tempo que desenvolvia o seu 300 SLR para o Mundial de Carros Sport, que teve como base o seu “irmão” campeão da Fórmula-1 – melhorando ainda mais um conjunto que havia sido quase que perfeito em 1954. Houve uma diminuição em 14cm na distância entre-eixos que se tornara importante para circuitos mais sinuosos e um aumento na potência do motor para 290cv. A equipe trabalhou naquele ano com a carroceria convencional – de rodas expostas – enquanto que a Type Monza ficou para os circuitos mais velozes. A Ferrari, que havia passado por um ano bem atribulado por conta dos desempenhos dos seus dois modelos 625 e 553, continuou a trabalhar nestes dois mesmo sabendo que o 625 – descendente do vitorioso modelo 500 – não tinha fôlego sufi ciente para acompanhar a Mercedes e até mesmo a Maserati – por mais que tenha sido através deste modelo as suas duas vitórias na temporada passada. A potência do motor subiu para 270cv.

A Maserati trabalhou em sua jóia, o 250F, que havia agradado bastante tanto os pilotos titulares, quanto os particulares. A principal melhoria ficava por conta do motor, que chegava aos 270cv. A Gordini continuava seu calvário: apesar de ter o T32 em desenvolvimento, a fábrica francesa partiu para aquele inicio de campeonato com o para lá de surrado T16 – e claro, a falta de dinheiro ainda fazia grande diferença.  A Lancia também trabalhou no motor, elevando a potência de 260cv para 285cv – o que deixava a equipe numa situação bem interessante, uma vez que o seu desempenho em Pedralbes tinha sido excelente e isso lhe dava total esperança de tentar algo maior para aquela nova temporada. A Vanwall continuou a desenvolver seu carro, ainda que num passo lento. Mas seu grande trunfo estava na condução do carro: Mike Hawthorn mudou-se para a equipe inglesa, levando consigo duas importantes temporadas de experiência que havia adquirido na Ferrari e teria ao seu lado Peter Collins. No entanto, a equipe estrearia apenas em Mônaco.

Os inscritos para o GP da Argentina

Para este GP na Argentina, que abriu a temporada de 1955, foram 21 pilotos inscritos pelas cinco equipes regulares do campeonato e mais uma inscrição particular. Na Mercedes a principal novidade era a chegada do jovem Stirling Moss – que assinara o contrato em dezembro de 1954 com a equipe de Fórmula-1 também participaria no Mundial de Carros Sport – e ele dividiria a equipe com o atual campeão Juan Manuel Fangio, Hans Hermann e Karl Kling. A Ferrari perdeu Mike Hawthorn para Vanwall, mas contava com o retorno dos convalescentes Jose Froilan Gonzalez e Giuseppe Farina para conduzirem um trio de 625 ao lado de Maurice Trintignant. A Maserati levou sete modelos 250F oficiais para Roberto Mieres, Harry Schell, Luigi Musso, Sergio Mantovani, Clemar Bucci, Jean Behra (que estreava na equipe após bons anos na Gordini) e Carlos Menditeguy. Um oitavo Maserati, este de modelo A6GCM, foi inscrito pelo uruguaio Alberto Uria de forma particular.

A Gordini, ainda seu T32, teve que contentar-se com os velhos T16 que foram pilotados por Elie Bayol, Pablo Birger e o estreante Jesus Iglesias. A Lancia estava pronta para aquela primeira etapa e levou três D-50 para Alberto Ascari, Eugenio Castelloti e Luigi Villoresi.

Gonzalez é o pole e forte calor se faz presente

A qualificação em Buenos Aires mostrou um panorama bem interessante para aquele primeiro GP: enquanto que muitos apostavam num pole da Mercedes – especialmente com Fangio no comando – viram um Jose Froilan Gonzalez superar as expectativas e colocar a Ferrari na pole com a marca de 1’43’’1. O piloto argentino foi meio segundo mais veloz que Alberto Ascari, que fez o tempo de 1’43’’6. Juan Manuel Fangio fechou a primeira fila tripla com o tempo de 1’43’’7. Os três melhores pilotos das duas últimas temporadas dividindo a primeira fila, sugeria que a corrida do dia seguinte fosse das mais interessantes.

A quarta colocação ficou para Jean Behra na sua estrea pela Maserati, ficando um décimo atrás da marca de Fangio; em quinto aparece Giuseppe Farina com o tempo de 1’43’’9 fechando a sequência de cinco pilotos que ficaram no mesmo segundo. Os dez primeiros foram fechados por Karl Kling, Harry Schell, Stirling Moss, Pablo Birger – que aproveitou-se bem do fato de conhecer o circuito para conseguir posicionar um Gordini entre os dez – e Hans Hermann ficando com a décima colocação, com um tempo 1’’8 mais lento que a pole de Gonzalez.

O forte calor prejudicou bastante os pilotos durantes os treinamentos, onde os carros tiveram problemas no carburador.

Fangio vence sob calor escaldante

Fangio seguido por Ascari e Moss no complemento da primeira volta em Buenos Aires: o forte calor foi o grande adversário dos pilotos

Apesar de um inicio promissor, onde os três primeiros do grid se revezaram na liderança, a corrida ficou marcada pelo forte calor do escaldante verão argentino aonde os termômetros chegaram a marcar 40° graus.

Fangio saiu melhor e estava na liderança ao final da primeira volta, seguido por Ascari e Moss. Enquanto isso, no meio do pelotão, um enrosco entre quatro carros eliminou Jean Behra, Karl Kling, Pablo Birguer e Carlo Menditeguy, sendo que estes dois últimos abandonaram no local enquanto que Behra e Kling ainda conseguiram ir aos boxes para lá encostarem seus carros.

Até a volta 25 Fangio, Ascari e Gonzalez se mantiveram próximos, o que resultou numa série de trocas de posições entre os três até o momento em que Alberto abandonou pelo cansaço e poucas voltas depois foi a vez de Gonzalez fazer uma pausa, ao entregar o comando do Ferrari a Giuseppe Farina – que havia parado nos boxes e entregado o comando de seu carro para Umberto Maglioli que estava na reserva da Scuderia. Eram os sinais de que o forte calor estava a dificultar a pilotagem.

Fangio seguiu líder com Moss logo em segundo, mas o jovem inglês veio abandonar na volta 29 com problemas no sistema de combustível. Voltas depois foi a vez de Fangio ir aos boxes, onde recebeu um balde de água fria e voltou a pista num momento que a corrida era liderada por Harry Schell, que também entraria nos boxes para entregar o Maserati a Jean Behra. Roberto Mieres teve a oportunidade de liderar pela primeira vez um GP, mas esse gosto durou apenas quatro voltas já que ele precisou ir aos boxes para trocar a bomba de gasolina. Dessa forma, Fangio voltava à liderança.

Com a liderança em suas mãos a partir da 43ª volta, Fangio subiu o ritmo e liderou tranquilamente até a 96ª e última volta para selar uma vitória importante, justamente num cenário que ficou marcado pelos inúmeros revezamentos entre os pilotos que as equipe precisaram fazer para que seus carros chegassem ao final. A segunda, terceira e quarta colocações ficaram todas ocupadas por trincas de pilotos: na Ferrari #12, que originalmente era de Gonzalez, foi conduzida por Farina e Trintignant (que abandonara na volta 36 por problemas no motor); na Ferrari #10 que era de Farina, pilotaram Trintignant e Maglioli; na Mercedes #8 de Hans Hermann, Kling e Moss auxiliaram na condução. Apesar dos problemas na bomba de combustível, Roberto Mieres salvou um quinto lugar que poderia ter sido muito além disso. Ele, ao lado de Fangio, foram os únicos pilotos que completaram o GP sem precisar compartilhar o carro – numa corrida onde terminaram apenas sete carros. Apesar da grande pilotagem, essa corrida uma marca que Fangio levou para o resto de sua vida: uma de suas pernas encostava constantemente na lataria do carro, exatamente no ponto onde passava o escapamento, lhe causando uma grave queimadura que foi sarada no decorrer do ano e acabou por deixar uma grande cicatriz.

Devido as altas temperaturas, que chegaram aos 40° graus, este GP da Argentina continua a ser o mais quente da história – sendo igualado em duas oportunidades: Dallas 1984 – onde alguns acreditam que seria a prova mais quente, caso não tivesse sido adiantada para a manhã por conta disso – e no Bahrein em 2005. Essa corrida com uma empresa de auditoria contábil para auxiliar no resultado final, uma vez que os pontos da terceira até a quarta colocação foram repartidos entre os trios. O GP argentino marcou a estreia de Eugenio Castellotti, Alberto Uria e Jesus Iglesias – para este último foi também a derradeira participação, exemplo que foi seguido por Pablo Birguer, Clemar Bucci e Sergio Mantovani.

Resultado Final

3º Grande Prêmio da Argentina de 1955 – 1ª Etapa

Autódromo Municipal 17 de Octubre – 16 de Janeiro

Circuito de 3.912km – 96 Voltas

* Apesar de seus nomes não aparecerem no resultado acima, Giuseppe Farina e Maurice Trintignant (#12); Umberto Maglioli e Maurice Trintignant (#10); Karl Kling e Stirling Moss (#8) também marcaram pontos

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