A História dos Grandes Prêmios – Bélgica 1952

O Grande Prêmio da Bélgica de 1952 foi a terceira etapa do campeonato mundial, e como não poderia ser diferente, sediado no circuito de Spa-Francorchamps. As 36 voltas belgas foram disputadas no dia 22 de junho, três semanas depois da etapa anterior, a Indianápolis 500. Voltando de uma fracassada tentativa em terras americanas, Alberto Ascari correu sua primeira corrida no campeonato aquele ano.  Encontrou uma Ferrari dominante, que deu a ele uma vitória tranquila naquele dia. Essa foi a terceira da carreira do bicampeão italiano, e a quinta da scuderia. Esse GP também presenciou outro marco: foi o primeiro do campeão de 1958, Mike Hawthorn.

Pôster do GP da Bélgica de 1952, também referenciado como GP da Europa na época. (Fonte: https://www.collectorsweekly.com/stories/112897-1952-belgian-grand-prix-race-poster)

Tragédias no circo

Nas semanas anteriores à corrida na Bélgica, dois acidentes marcaram fortemente o mundo do automobilismo. Primeiro, Luigi Fagioli, colega de equipe de Fangio e Farina na Alfa Romeo dos anos anteriores, se machucou depois de bater seu Lancia em Mônaco, em testes para o GP de Monte Carlo. Naquele ano, a corrida não fez parte do calendário da F1 e somente carros esportivos competiram. Inicialmente, a batida não pareceu nada demais, mas ele sofreu complicações e morreu no hospital, três semanas depois. Somente dois dias antes do GP belga. O italiano tinha apenas 54 anos.

O outro foi um acidente que quase terminou a carreira do penta campeão Juan Manuel Fangio. No dia 8 de junho, ele participou do GP de Monza, outra corrida fora do calendário. Sem participar dos treinos e nunca ter dirigido o carro, um Maserati A6GMC, Fangio foi correr muito cansado da viagem. Ele largou de trás e fez belíssimas ultrapassagens. Mas na segunda volta ele perdeu o controle do carro e voou em direção a um banco de grama, uma batida violentíssima. Ele perdeu a consciência na hora e foi levado para o hospital. Várias fraturas foram identificadas, a pior no pescoço. Dessa forma, o argentino teve que passar o restante de 52 em recuperação. No trecho abaixo, retirado do livro Fangio, The Life Behind the Legend, de Gerald Donaldson, o piloto relembra o que passou por sua cabeça naquela época.

“Quando eu estava lá, deitado no hospital, pensando que eu estava desperdiçando aquele ano, o ano bom para mim, já que eu era campeão do mundo, e estava destinado a ganhar muito dinheiro, eu fiquei nervoso e tive febres fortes porque eu estava tão preocupado. Então eu disse para mim mesmo: ‘porque me preocupar? Eu ganhei minha vida. Estou vivo'”.

Lineup da corrida

A Ferrari venceu a primeira corrida do ano, na Suíça, e pelo seu desempenho no país alpino, seria muito difícil roubar uma vitória dos italianos em 1952. Dessa vez, Farina e Taruffi, que ditaram o ritmo da prova suíça, seriam acompanhados pela estrela do time, Ascari. Além desses titulares, Louis Rosier e Charles de Tornaco correram na Bélgica com Ferraris particulares.

A Gordini levou para a Bélgica seus titulares Robert Manzon, Jean Behra e Príncipe Bira, com exceção de Maurice Trintignant. Johnny Claes, piloto da casa, assumiu o lugar do francês. No entanto, Claes havia comprado um Simca Gordini para competir independentemente, substituindo o ultrapassado Talbot-Lago. Esse carro foi emprestado para o americano Robert O’Brien.

A HWM alinhou quatro carros. Os titulares, Peter Collins e Lance Macklin, foram acompanhados por dois convidados. Paul Frére, um jornalista esportivo, que havia demonstrado habilidade suficiente com o volante para ter essa oportunidade; e Tony Gaze, um piloto australiano que combateu na Segunda Guerra Mundial, que acabou virando piloto de corrida.

O único piloto da ERA foi Stirling Moss, que havia corrido pelo HWM na Suíça. O britânico correu com um novo carro da Série G da equipe. Outro futuro campeão, Mike Hawthorn, estreou pela Cooper, ao lado dos titulares Alan Brown e Eric Brandon. Ele mostraria seu valor logo de cara, superando os companheiros tanto na classificação como na corrida.

Ken Wharton repetiu a dose do GP da Suiça e correu com a Frazer Nash. Enquanto o piloto belga da era pré-guerra,Arthur Legat, correu seu GP de casa a bordo de um Veritas. Por fim, a nova fabricante britânica Aston-Butterworth, alinhou um carro no grid, com Robin Montgomerie-Charrington ao volante.

Classificação

A classificação foi extensamente dominada pela Ferrari. A pole ficou com Ascari, com um tempo de 4min37s0. Farina conseguiu o segundo melhor tempo e Taruffi o terceiro, assim fechando a primeira fila de vermelho. Manzon e Behra vinham atrás, em quarto e quinto respectivamente. Como já dito, Hawthorn brilhou classificação e conseguiu um sexto lugar, nove segundos mais rápido que seu companheiro Brown. Mais para trás, tínhamos Moss em décimo e Collins em 11º. A Ferrari de Rosier largou apenas de 17º.

Hawthorn, em sua primeira corrida na Fórmula 1. (Fonte: https://www.conceptcarz.com/articles/article.aspx?articleID=384)

Outro passeio do cavalo

Momentos antes da largada, uma chuva fina começou a cair em Spa. Com a bandeirada, Taruffi se atrapalhou e ficou, caindo para nono. Mazon, que vinha logo atrás, ficou para trás junto. Já Behra largou muito bem: passou esses dois, além de Ascari e Farina, assim assumindo a liderança. Outro piloto que largou forte foi Moss, que pulou para quinto, mas não conseguiu completar nem a primeira volta. Suas rodas traseiras travaram e ele rodou, abandonando a prova.

A liderança de Behra durou pouco, já que na segunda volta ele sucumbiu à pressão das Ferraris e rodou na La Source, caindo para terceiro. A partir desse ponto a chuva começou a apertar, o que não impediu que Ascari e Farina abrissem vantagem. Também da segunda volta, Ascari fez a melhor volta: 4min55s. Na quarta volta, Taruffi já havia se recuperado e estava na P4.

No décimo giro, Wharton, que estava em sexto, perdeu o controle do carro e bateu em uma cerca de arame farpado. Ele conseguiu escapar apenas com ferimentos leves. Enquanto isso, Taruffi vinha reduzindo a diferença para Behra. Quando chegou, o piloto da Gordini não facilitou a ultrapassagem. Até que na volta 14 o italiano consegue, apenas para algumas curvas depois também rodar, levando Behra junto. Fim de prova para ambos.

Com esse abandono duplo Hawthorn assumiu a terceira colocação. O britânico estava prestes a disputá-la com Manzon, que vinha em quarto, quando foi chamado para um pit stop não previsto. Manzon assumiu a P3 para não perder mais. Lá na frente, Ascari cruzava a linha de chegada tranquilamente, seguido de Farina. Hawthorn terminou com a quarta colocação, pontuando na estreia, e Frére levou o quinto lugar.

Resultado do GP da Bélgica de 1952

Com a vitória e a volta mais rápida, Ascari marcou nove pontos e passou a dividir a primeira colocação do campeonato com Taruffi. Em segundo estava o campeão da Indy 500, Troy Ruttman, com oito pontos. Já o terceiro lugar era dividido por Farina, Jim Rathmann e Rudi Fischer, cada um com seis pontos.

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