A História dos Grandes Prêmios: Bélgica 1953

A Ferrari foi enfim desafiada nesta etapa belga por uma fortíssima Maserati. Porém, a fábrica de Alfieri Maserati acabou sendo traída pela confiabilidade e a Scuderia de Enzo Ferrari ficou livre para comemorar mais uma vitória.

Alberto Ascari durante o GP belga: vitória de presente e recorde de vitórias consecutivas
(Foto: Motorsport Images)

Durante o período de quase seis meses entre os GP s da Argentina e Holanda, Gioacchino Colombo e Valerio Colotti trabalharam incansavelmente na melhoraria do Maserati A6GCM para que este pudesse igualar em desempenho contra o Ferrari 500, que dominava as ações desde a temporada de 1952. No entanto, a corrida em Zandvoort não traduziu o que esperavam: os Maserati foram praticamente dominados pelos Ferrari naquele circuito. Porém havia ficado duas marcas que deviam ser levadas em consideração: tanto Fangio, quanto Gonzalez, tinham conseguido furar a bolha ferrarista. Enquanto que Juan Manuel conseguira um belo segundo lugar no grid, Gonzalez fez uma corrida de recuperação após assumir comando do Maserati de Felice Bonetto que se encontrava no meio do pelotão. A recuperação de Froilan Gonzalez até chegar no terceiro lugar, ultrapassando o Ferrari de Mike Hawthorn, deixou um ar de esperança para a equipe italiana mostrando que a velocidade do A6GCM estava ali. A Maserati estaria, enfim, pronta para desafiar a Ferrari?

A lista de inscritos para este GP da Bélgica, no veloz Spa-Francorchamps, trouxe algumas novidades: A Ferrari manteve seus quatros principais pilotos (Alberto Ascari, Luigi Villoresi, Giuseppe Farina e Mike Hawthorn), mas outros quatro Ferrari 500 foram inscritos de forma independente: A Ecurie Rosier contava com dois 500 para Louis Rosier (dono da equipe) e Harry Schell, enquanto que outros dois Ferrari 500 ficou para a Ecurie Francorchamps formada por Jacques Swaters e Charles de Tornaco. A Maserati teve uma mudança entre seus principais pilotos: Felice Bonetto ficou de fora daquela corrida, sendo substituído pelo argentino Onofre Marimon – que acabria por ficar na equipe até o final da temporada. Jose Froilan Gonzalez, Juan Manuel Fangio e Johnny Claes compunham o restante da equipe, enquanto que Emmanuel de Graffenried alinhou um Maserati particular. A Gordini apresentou a sua principal novidade daquele final de semana: Jean Behra retornou da sua convalescência do acidente de um ano antes em Modena, alinhando ao lado de Maurice Trintignant e Fred Wacker. O piloto local Georges Berger inscreveu um Simca Gordini T15 de forma particular. Os ingleses não contaram com a presença da Cooper nesta etapa, tendo apenas a HWM (que levou três carros para Lance Macklin, Paul Frère e Peter Collins) e um Connaught que foi inscrito de forma particular pela Ecurie Belge e pilotada por André Pilette. Outra entrada única e particular foi por conta de Arthur Legat, que inscreveu um Veritas.

Na qualificação, Fangio quebra a sequência de Ascari e Ferrari

Os treinos foram a melhor forma de mostrar como a Maserati estava num nível próximo, ou até mesmo, um pouco a frente da Ferrari em Spa-Francorchamps: Juan Manuel Fangio liderou as ações na pista belga até chegar no tempo da pole position com a marca de 4 minutos e 30 segundos, conseguindo superar Alberto Ascari em dois segundos. Ascari superou Froilan Gonzales nos décimos, negando uma dobradinha para a Maserati naquela primeira fila, porém o atual campeão estaria envolvido por duas velozes Maserati. Na segunda fila aparecia as Ferrari de Giuseppe Fraina e Luigi Villoresi, para depois aparecera a terceira fila com Onofre Marimon, Mike Hawthorn e Maurice Trintignant, conseguindo ingressar um Gordini entre a horda de carros italianos. A pole de Fangio quebrou uma sequência de poles de Ascari que vinha desde o GP da Alemanha de 1952 e também uma sequência de poles de carros da Ferrari, que remonta ao GP da Espanha de 1951. A última pole de um carro não Ferrari foi do próprio Fangio, quando largou na posição de honra do GP da Itália de 1951 com a Alfa Romeo.

Maserati surpreende, mas quebra. Ferrari leva

Mais de cem mil pessoas estiveram presentes em Spa-Francorchamps naquele 21 de junho para presenciar o GP belga. O ritmo assombroso que a Maserati impôs nos treinos foi ainda mais impressionante na corrida. Fangio largou bem, mas Froilan Gonzalez, que partia de terceiro, ultrapassou Ascari ainda na largada e depois assumiu a liderança no topo da Eau Rouge/ Radillion para imprimir um desempenho fortíssimo a ponto de cravar a melhor volta da corrida ainda na segunda passagem (4’34’’0), colocando naquele momento oito segundos de vantagem sobre Fangio e vinte para terceiro colocado Alberto Ascari. Uma situação impensável até o último GP disputado na Holanda. Onofre Marimon, apesar de ter despencado para sexto, já havia superado Hawthorn e Villoresi e corria forte em quarto mostrando o quanto os Maserati A6GCM estavam muito a frente dos Ferrari 500.

Mas havia os problemas: pilotos do fundo do pelotão enfrentaram avarias que os forçaram abandonar: Arthur Legat ficou pelo caminho com seu Veritas por problemas no câmbio, enquanto que Collins abandonou com problemas na embreagem; Berger e Behra saíram da prova com problemas no motor. A Maserati parecia intocável com a sua dupla argentina nas duas primeiras posições, mas o azar acabou por aparecer: Gonzalez saiu na volta onze com o acelerador quebrado, dando a Fangio a liderança da corrida que também não foi muito longe com o “El Maestro” saindo duas voltas depois com motor avariado. Uma tarde que prometia ser impressionante, tornou-se frustrante para a Maserati. Alberto Ascari, que não tinha grandes chances de acompanhar o passo dos dois argentinos, viu a liderança cair no seu colo e ter apenas o trabalho de administrar a vantagem para seus companheiros de Farina, Hawthorn e Villoresi. Marimon ocupava o quinto lugar.

As coisas mudaram um pouco para a Ferrari: Farina saiu da corrida na volta 16 com motor quebrado, deixando a segunda colocação para Mike Hawthorn e o terceiro para Luigi Villoresi, que logo perderia essa posição para Onofre Marimon. Juan Manuel Fangio retornou à corrida após assumir o comando do Maserati de Johnny Claes e avançar na classificação após pegar o carro no meio do pelotão. Mais a frente, Hawthorn enfrentou problemas de vazamento de combustível no Ferrari, o que obrigou o inglês ir aos boxes e cair algumas posições. Apesar de conseguir recuperar-se momentaneamente, Mike acabou por retornar aos boxes e encerrar a corrida em sexto. Onofre Marimon havia herdado o segundo lugar, mas falha no motor do Maserati também o fez ir aos boxes e retornar em quarto. Isso deixou Fangio num espetacular segundo lugar após grande recuperação, mostrando mais uma vez o grande desempenho da Maserati naquele dia. Mas a sorte não estava ao seu lado e na última volta, quando se aproximava da Stavelot, a direção falhou e o argentino escapou para uma vala. Apesar do susto, Fangio teve algumas escoriações e voltou de ambulância para os boxes. Ascari venceu o GP belga – a sua nona vitória consecutiva, iniciada exatamente um ano antes ali mesmo em Spa – seguido por Villoresi, Marimon – que conquistou seu primeiro pódio na F1 e logo na primeira corrida pela Maserati – Emmanuel de Graffenried e Maurice Trintignant.

Classificação após o GP da Bélgica: Alberto Ascari 25 pontos; Luigi Villoresi 13; Bill Vukovich 9; Jose Froilan Gonzalez 7; Giuseppe Farina 6.

Resultado Final –

Grande Prêmio da Bélgica de 1953 – 4ª Etapa

Circuito de Spa-Francorchamps – 21 de Junho – 36 Voltas

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