A História dos Grandes Prêmios – Itália 1954

Monza foi palco do GP da Itália e viu uma grande disputa entre a velha e nova geração, com Alberto Ascari revivendo seus grandes momentos na Ferrari e Stirling Moss desafiando os grandes. Mas foi Juan Mnauel Fangio quem saiu sorrindo ao final.

Juan Manuel Fangio a caminho de sua sexta vitória na temporada, quarta pela Mercedes (Foto: Motorsport Images)

O campeonato de 1954 tinha sido decidido a favor de Juan Manuel Fangio em Bremgarten durante o GP da Suíça, onde o piloto argentino foi impecável ao liderar todas as voltas do GP com autoridade e sem dar nenhuma chance aos seus rivais em mais outra demonstração de superioridade da equipe da Mercedes. Apesar de o campeonato estar liquidado, ainda faltavam duas etapas para serem realizadas e a próxima parada era em Monza para a disputa do Grande Prêmio da Itália – era o reencontro da Mercedes com o veloz circuito italiano onde ela e a Auto Union nos anos 30, dividiram as vitórias entre 1934 e 1938. Por outro lado, apesar de  saberem bem das poucas chances que ainda tinham, a esperança da Ferrari – que até aquele  momento era a única a conseguir seguir o ritmo da Mercedes em algumas situações – tinha sido revitalizada com o breve retorno de um velho conhecido para aquele GP caseiro, o que deixaria não apenas a equipe com grande expectativa, mas também os tiffosi com uma dose grande ver um piloto italiano vencer em Monza – e de Ferrari.

Os Inscritos

Foram 21 inscrições para este GP da Itália distribuídas em cinco equipes. A Ferrari inscreveu seis carros e entre eles o retorno de um velho conhecido: Alberto Ascari conseguiu liberação junto a Lancia para que pudesse pilotar pela Ferrari naquele GP da Itália e portanto, tomaria partido de um dos modelos 625 ao lado de Robert Manzon, Maurice Trintignant, Jose Froilan Gonzalez, Umberto Maglioli e Mike Hawthorn. Maserati partiu para esta prova com sete carros inscritos, sendo seis oficiais e um particular: os 250F oficiais ficaram para Sergio Mantovani, Giovanni de Riu, Luigi Musso (ambos estreavam no mundial, mas apenas Musso é quem correu o GP enquanto que Riu andou apenas nos treinos e não pôde largar por ter sido considerado lento demais), Luigi Villoresi, Roberto Mieres, Louis Rosier e Stirling Moss; o outro Maserati foi inscrito por Jorge Daponte, que utilizou um modelo A6GCM.

A Vandervell Productions foi a única equipe britânica nesta corrida, inscrevendo seu modelo Vanwall Special para Peter Collins. Já a Mercedes inscreveu seus três modelos Streamlined (os de rodas cobertas) para recém-coroado campeão do mundo Juan Manuel Fangio, Hans Hermann e Karl Kling. A lista foi encerrada com a Gordini que levou seus três habituais T16 que ficaram a cargo de Fred Wacker, Jean Behra e Clemar Bucci.

Duelo já na disputa pela pole

Os testes anteriores ao GP italiano, que serviu para as equipes e pilotos acertarem seus carros, e mais os treinos de sexta-feira, já mostraram o quanto que a qualificação podia ser disputada. A presença de Ascari na Ferrari foi importante para mostrar que o bicampeão do mundo estava ainda em grande forma e que o carro da Ferrari lhe caía como uma luva: ele ficou apenas dois décimos do tempo estabelecido por Fangio, que fizera mais uma vez a pole com o tempo de 1’59’’0 contra 1’59’’2 de Ascari. Na terceira posição aparecia Moss, com apenas três décimos de desvantagem para o piloto da Mercedes, apresentando um bom ritmo. Ao contrário de outras corridas onde as diferenças eram gritantes, a marca que separava Fangio do seu conterrâneo Roberto Mieres, que fizera o décimo tempo, era de apenas 2’’7 segundos – sendo que em outras pistas a diferença entre o pole e o décimo chegava até a casa dos quatro segundos para cima. Kling, Gonzalez, Villoresi, Hawthorn, Hermann, Mantovani e Mieres completavam os dez primeiros.

Ascari e Moss brilham. Fangio vence

Os três primeiros no grid para o GP italiano: Stirling Moss em terceiro (#28); Alberto Ascari em segundo (#34) e Juan Manuel Fangio na pole (#16). Atrás, na quarta colocação, Karl Kling com o Mercedes #14 que assumiria a liderança nas primeiras voltas

O GP italiano sempre foi emocionante e o deste de 1954, até certa parte, não decepcionou aqueles que estiveram presentes em Monza.

Karl Kling conseguiu uma melhor partida que os três que estavam na primeira fila e avançou para primeiro deixando Fangio, Moss e Ascari nas demais posições. Infelizmente o piloto alemão, ao tentar imprimir forte ritmo para conseguir boa diferença, acabou errando num dos pontos do circuito e caiu para quinto. Isso deixou Fangio na liderança por algum tempo, mas na sexta volta Ascari ultrapassou o Mercedes e assumiu a liderança de uma corrida – algo que não acontecia desde o GP da… Itália de 1953.

Com a liderança, Alberto passou a ter sua rotina de abrir grande vantagem, algo que fazia com maestria nas campanhas que o levaram ao bicampeonato consecutivo, mas a corrida ainda tinha um bom par de voltas. Conseguiu abrir até seis segundos para Fangio, que neste período era pressionado por Gonzalez e Moss, mas o atual campeão conseguiu se desvencilhar do dois pilotos e voltar a encostar em Ascari onde ele conseguiu, momentaneamente, assumir a liderança na volta 23 e que foi recuperada por Alberto na volta seguinte. Um pouco antes, na volta 16, Gonzalez abandonou com problemas no câmbio, mas voltas depois Umberto Maglioli que estava em décimo,  acabou cedendo o carro ao argentino que voltou a prova.

O duelo pela primeira posição teve mais um capitulo quando Moss conseguiu apanhar os dois campeões e desafiá-los a ponto de assumir por uma volta (45) a liderança, que foi logo retomada por um valente Ascari que brindava a torcida ferrarista com a sua habitual velocidade. Infelizmente a oportunidade de ver um italiano vencer em Monza com a Ferrari se esvaiu assim que o motor do carro de Ascari estourou na volta 48, mas o foi o suficiente para mostrar que a sua velocidade ainda estava em dia. Bem provável que aquele desempenho tenha feito algumas mentes pensarem como teria sido o ano caso ele estivesse ao volante de um Ferrari…

Moss era o novo líder e a promessa inglesa estava a vontade na liderança que segurou por quase vinte voltas, aproveitando-se bem do fato de Fangio estar enrolado com um surpreendente Gonzalez que escalou o pelotão para chegar ao terceiro lugar mesmo enfrentando problemas de adaptação a um cockpit que mal o cabia, fazendo com que fosse aos boxes para colocarem uma almofada. Mais tarde ele entregou o carro novamente a Maglioli que voltou em quinto. A esperança de Moss vencer seu primeiro GP se foi quando um vazamento de óleo no seu Maserati se fez presente e isso lhe causou uma boa dose de dores de cabeça, já que teve de visitar os boxes varias vezes para reparos custando a ele nove voltas de desvantagem e um melancólico décimo lugar no geral.

Fangio assumiu a liderança e venceu com tranquilidade nas derradeiras voltas, já que seus grandes opositores tiveram problemas. Mike Hawthorn salvou um segundo lugar que talvez nem lhe passasse pela mente e isso após um duelo visceral com Sergio Mantovani que durou quase que toda prova – este último acabou tendo problemas de suspensão nas últimas voltas e fechou em nono. A terceira posição ficou para Maglioli/ Gonzalez, a quarta para Hans Hermann e a quinta posição para Maurice Trintignant.

Este GP ficou marcado pelo primeiro pódio e pontos para Umberto Maglioli e última aparição do argentino Jorge Daponte e do britânico Fred Wacker nos GPs oficiais.

Juan Manuel Fangio ampliou a pontuação para 53 pontos (42 com descartes); Jose Froilan Gonzalez com 26 (25 com descartes); Maurice Trintignant com 17; Mike Hawthorn com 16; Karl Kling com 10.

Resultado Final

Grande Prêmio da Itália de 1954 – 8ª Etapa

Autodromo Nazionale Monza – 5 de Setembro – 80 Voltas

 

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