Circuitos: Brands Hatch

Com quase um século de existência, Brands Hatch já viu muita história acontecer em sua pista e continua ativo como nunca.

Ficha técnica
Nome do circuito: Brands Hatch
Comprimento da pista: 4,207km (até 1986, 3,916km atualmente)
Número de voltas: 75
Distância total: 315,525km
Recorde da pista: 1:09.593, Nigel Mansell, 1986
Primeira corrida na F1: 1964

Com quase um século de existência, Brands Hatch é um dos principais circuitos da Inglaterra, mas sua história começou como uma pista de ciclismo, nos anos 1920, quando Ron Argent fez uma pausa em sua longa pedalada em uma fazenda perto de Londres. Ao ver o formato ovalado da pista, que na época servia como local de treinamento militar, Argent pediu permissão para treinar no local. Logo a fazenda se tornou ponto de encontro dos ciclistas aos fins de semana, com pequenas competições sendo realizadas, inclusive de cross-country. 

Traçado original de Brands Hatch. Formato era perfeito para as competições de ciclismo e motovelocidade. 

Brands Hatch preserva até hoje, traços de sua história rural, com caminhos que relembram os encontrados em fazendas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os motociclistas foram os próximos a aparecerem para se aproveitar da nova pista, mas as competições e treinos tiveram que ser suspensos durante a Segunda Guerra Mundial, já que Brands Hatch foi utilizado pelos militares como estacionamento. O local também sofreu com os bombardeios e precisou ser reconstruído depois da Guerra, mas logo voltou a receber as competições de motovelocidade. Vendo o sucesso que a pista fazia, foi criada em 1947, a empresa Brands Hatch Stadium Ltd, que passou a gerenciar o circuito e nesse mesmo ano, o canal BBC transmitiu pela primeira vez uma corrida de motociclismo, mostrando o sucesso que as competições no circuito faziam.

 

Motos tomaram o lugar das bicicletas nas competições e a popularidade do circuito aumentou, ganhando espaço na televisão. 

Em 1950, a empresa que administrava o local foi convencida que era melhor pavimentar a pista, para que os carros também pudessem competir e no dia 16 de abril de 1950, cerca de 7 mil espectadores foram a Brands Hatch para ver Don Parker vencer a primeira das dez corridas disputadas naquele dia pela F3 500cc, a primeira categoria a andar no circuito. Outro piloto que participou da corrida foi Sir Stirling Moss, que em junho do mesmo ano, venceu as cinco corridas disputadas na etapa. Com o sucesso do automobilismo, a imprensa começou a se interessar ainda mais e para melhorar o circuito, tanto para os pilotos quanto para o público, a pista foi recebendo melhorias, como linhas telefônicas ligando os fiscais com o centro de controle, arquibancadas, além de um hospital. Em 1954, foi feita a mudança na direção da pista, que até então era no sentido anti-horário. O circuito passou a receber provas de monopostos e também de motociclismo e com espaço para expansão, a pista ganhou o trecho Druids, além de uma área de pits e mais arquibancadas. 

 

Sir Stirling Moss pilotando uma Cooper 500 em Brands Hatch, no dia 25 de junho de 1950. Piloto britânico venceu as cinco corridas disputadas naquele dia.

Com a popularidade crescendo, o circuito ganhou novas arquibancadas e área de boxes, além de ter seu traçado expandido com a criação do hairpin Druids.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas a maior mudança viria em 1960, com a expansão da pista, deixando o circuito com dois tipos de traçados: o Indy, que seria o traçado original, com 1,995 km e o Grande Prêmio, que conta com a parte estendida, com 4,265 km. Para marcar a inauguração dessas melhorias, foi feita uma corrida não-oficial da F1, em 1960, vencida por Jack Brabham, correndo pela Cooper, depois que o líder da prova, Jim Clark, abandonou com problemas no câmbio.

Jack Brabham em Brands Hatch. Pilotos venceu a primeira corrida não-oficial da F1 disputada no circuito, em 1960.

Em 1960, uma extensão no circuito permitiu a realização de corridas de F1, deixando Brands Hatch com duas opções de layouts. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 1961, a Grovewood Securities, uma empresa imobiliária, comprou as terras onde o circuito estava. Mas ao invés de destruir o circuito para construir casas, a empresa criou uma subsidiária, a Motor Circuit Developments para gerenciar o circuito. Todas essas mudanças fizeram com que o circuito recebesse em 1964, seu primeiro GP da Inglaterra, corrida que passou a alternar com Silverstone e foi vencida por Jim Clark. Outra competição que passou a ser realizada em Brands foi a Race of Champions, feita em duas baterias de 40 voltas cada, com a primeira edição tendo a vitória geral de Mike Spence, que também venceu a segunda bateria, enquanto que Jim Clark venceu a primeira.

Jim Clark venceu a primeira corrida oficial da F1 disputada em Brands Hatch, que contou com um pódio todo britânico, com Graham Hill em 2º e John Surtees em 3º.

Mas a pista apresentava um grave problema: a curva Paddock Hill Bend, que entre 1965 e 1966, vitimou os pilotos George Crossman, Tony Flory e Stuart Duncan. Em 1971, a morte de Jo Siffert foi a gota d’água para que o circuito passasse por melhorias, que só vieram em 1976,  alterando a Paddock Hill e a curva Bottom Straight, renomeada Cooper Straight, além de ter barreiras instaladas por todo o circuito.

Traçado depois da reforma de 1976. Mudanças foram provocadas por acidentes e mortes nos anos anteriores. 

Carro de Jo Siffert após acidente em Brands Hatch. Acidente provocou mudanças no circuito.

 

 

 

 

 

 

 

 

Brands Hatch continuou a receber corridas de várias categorias e em 1980, o circuito entrou para a história por presenciar a primeira vitória de uma mulher em uma competição ligada à F1. Na época, era realizada a Aurora British F1, que durou apenas quatro temporadas e a sul-africana Desiré Wilson venceu a etapa em Brands Hatch, fazendo também a volta mais rápida e terminando o campeonato daquele ano na 6ª colocação, apesar de não ter disputado todas as etapas.

Desiré Wilson foi a primeira mulher a vencer uma prova ligada à F1. 

O circuito também viu um jovem Ayrton Senna estrear em monopostos, no dia 1º março de 1981, quando o piloto brasileiro fez sua primeira corrida na F- Ford 1600, chegando em 5º. Duas semanas depois, em 15 de março de 1981 e pilotando uma Van Diemen RF81, Senna venceu a etapa da Townsend Thoresen debaixo de chuva, a primeira das 12 vitórias do brasileiro entre os campeonatos da Townsend Thoresen e da Race of Champions daquele ano. Para os ingleses, a alegria foi ver Nigel Mansell conseguindo sua primeira vitória na F1, durante o GP da Europa de 1985.

Ayrton Senna durante a disputa da Townsend Thoresen Formula Ford 1600. O brasileiro conseguiria sua primeira vitória em monoposto no circuito.

Em 1986, um acidente com vários carros durante a prova de F1, feriu Jacques Laffite, que teve as duas pernas quebradas. Se a realização de corridas da F1 já estava ameaçada, o acidente contribuiu para que a categoria optasse por ficar apenas em Silverstone. A justificativa para a escolha era que Brands Hatch não tinha espaço para expandir, principalmente ampliar suas áreas de escape, ao contrário de Silverstone. Com a FISA optando por fazer contratos longos, Brands Hatch perdeu a oportunidade de permanecer no calendário da F1.

Acidente de Jacques Laffite, na largada da corrida de 1986. Sem espaço para melhorias de segurança, circuito ficou de fora do calendário da F1. 

Nas 14 corridas de F1 disputadas no circuito (12 GP da Inglaterra e 2 GP da Europa), apenas três contaram com vitórias de pilotos da casa, com Jim Clark vencendo a inaugural e Nigel Mansell vencendo as duas últimas. Dentre os brasileiros, Emerson Fittipaldi, que fez sua estreia na F1 justamente em Brands Hatch, venceu em 1972, enquanto que Nelson Piquet saiu vitorioso em 1983.

Emerson Fittipaldi fez sua primeira corrida na F1, durante o GP da Inglaterra de 1970, chegando em 8º com a Lotus. Dois anos depois, o brasileiro venceria a corrida.

A partir daquele ano, a categoria mais alta que Brands Hatch recebeu foi a F3000. Mas mesmo com algumas mudanças no traçado, como na Westfield Corner, que buscavam trazer mais segurança, o circuito ainda enfrentava problemas em alguns pontos do traçado, como na Dingle Dell, que sem área de escape, ganhou uma chicane. O problema é que com a chicane, os carros entravam às cegas na curva e um grave acidente em 1988 colocou dois pilotos no hospital. A categoria parou de competir em Brands Hatch em 1992 e o circuito passou a receber a World Superbike.

Novos acidentes fizeram a pista passar por mais alterações em 1988, com as curvas Westfield e Dingle Dell tendo suas velocidades reduzidas. 


Novas reformas foram feitas nos anos 1990, com algumas curvas sendo remodeladas e em 2003, a chicane da Dingle Bell foi retirada para a criação de uma nova curva, chamada de Sheene’s. Em 2004, o circuito foi vendido para a MotorSport Vision, grupo formado por Jonathan Palmer, que correu na F1 entre 1983 e 1989. Com a nova administração e as melhorias feitas no circuito, Brands Hatch recebeu a aprovação para receber a WTCC e a DTM. Atualmente, além delas, o circuito também recebe etapas da British Touring Car, British Superbike, British F3, British Truck, British GT, Britcar Endurance e W Series, além de ter recebido em 2003, uma etapa da CART (hoje Indycar). Mas todas as competições acontecem com um porém: o circuito só pode ser usado com limite de tempo, para que o barulho não incomode os vizinhos perto da curva Clearways!

Mudanças feitas em 1999, na Graham Hill Bend e no pitlane. Uma nova reforma, feita em 2003 retirou a chicane na Dingle Dell Corner. 

Brands Hatch atualmente. Circuito tem horário restrito de funcionamento para não incomodar os vizinhos. Motores só podem roncar entre 8:30 e 18:30. 

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E não só de automobilismo viveu o circuito. Em 2012, Brands Hatch foi ponto de largada e chegada para algumas provas de ciclismo de estrada das Paralimpíadas. Alessandro Zanardi, que competiu pela primeira vez no circuito em 1991, correndo pela F300, levou a medalha de ouro nas provas de H4 do contra-relógio e de estrada.

Alex Zanardi comemora medalha de ouro em Olimpíada. Prova teve Brands Hatch como ponto de largada e chegada.

 

 

 

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