Circuitos: Estoril

Enquanto Portimão tenta colocar Portugal de volta ao calendário da F1, Estoril vive das boas lembranças do passado.

Ficha técnica:

Nome do circuito: Fernanda Pires da Silva

Comprimento da pista: 4,360 km (até 1999, 4,182 km atualmente)

Número de voltas: 70

Distância total: 305,200 km

Recorde da pista: 1:22.446, David Coulthard (1994)

Primeira corrida na F1: 1984

Nos últimos dias, muito se falou da entrada do circuito de Portimão no calendário de 2020, marcando a volta da F1 à Portugal, depois de 24 anos da última corrida no país. Mas na época, quem estava nos holofotes era o circuito de Estoril. Localizado na cidade de mesmo nome, cerca de 30km da capital Lisboa, o circuito de Estoril foi ideia da empresária Fernanda Pires da Silva, que com recursos próprios, investiu na construção do circuito, que oficialmente leva seu nome.

A empresária Fernanda Pires da Silva, idealizadora do circuito que leva seu nome. Empresária faleceu em janeiro de 2020, aos 93 anos.

O arquiteto brasileiro Ayrton “Lolô”Cornelsen, que desenhou o circuito em Estoril. Arquiteto faleceu em março de 2020, aos 97 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O arquiteto brasileiro Ayrton “Lolô” Cornelsen, que também projetou o Autódromo Internacional de Goiânia, criou o projeto do circuito português e as obras começaram em 1970. O circuito só foi inaugurado em 17 de junho de 1972, recebendo etapas de carros de turismo. Mário de Araújo, pilotando um BMW CS 2800 Schnitzer, foi o primeiro vencedor no circuito, que também passou a receber provas de rally. 

Mário de Araújo, vencedor da primeira prova disputada em Estoril.

Depois da corrida inaugural, crises políticas e econômicas em Portugal fizeram com o circuito só recebesse sua primeira corrida internacional em 1975, quando Jacques Laffite venceu a etapa do campeonato mundial de F2. Nos dois anos seguintes, a F2 continuou a correr em Estoril, que também abrigou uma etapa do World Sportscar Championship. Mas logo a pista caiu no esquecimento e parou de receber competições internacionais. 

Não querendo que a pista ficasse vazia, o presidente do Automóvel Club de Portugal, César Torres, começou uma campanha para trazer corridas novamente para o circuito, alegando que uma corrida de uma categoria como a F1 poderia render frutos para o turismo local. Para ajudar ainda mais a situação de Estoril, a situação política na África do Sul impossibilitou que as equipes fizessem seus testes de inverno no circuito de Kyalami. Vendo a chance de ingressar no calendário da F1, o circuito passou por melhorias e a campanha deu certo, com Estoril fechando a temporada de 1984. E que desfecho! Companheiros de equipe, o francês Alain Prost e o austríaco Niki Lauda chegaram em Portugal brigando pelo título. Prost venceu a corrida, mas com o segundo lugar, o piloto austríaco levou a melhor e conquistou seu terceiro título com apenas 0,5 ponto de diferença, a decisão de título mais apertada da história.

Companheiros de equipe, Prost e Lauda exaltam um ao outro no pódio. Prost venceu a corrida, mas Lauda levou o campeonato com apenas 0,5 ponto de vantagem.

No ano seguinte, Estoril abrigou a segunda etapa do campeonato e testemunhou um show de Ayrton Senna, na época pilotando pela Lotus. O piloto brasileiro marcou sua primeira pole position e durante a corrida, realizada debaixo de uma forte chuva, liderou todas as voltas da corrida, ultrapassando todos seus adversários menos o segundo colocado, Michele Alboreto, para vencer sua primeira corrida na F1. 

Depois de dar um show sob a forte chuva que caia em Estoril, Senna comemora sua primeira vitória na F1, em 1985.

O circuito continuou recebendo a F1, mas a FIA vivia pedindo aos organizadores que modernizassem o circuito. Uma pequena mudança foi feita, com uma chicane, chamada de Gancho, sendo adicionada para substituir a curva Tanque, que por não possui uma área de escape grande, já que havia casas construídas logo atrás do circuito, era considerada perigosa. A curva Orelha também sofreu modificações para receber o campeonato de World Superbikes. 

Primeiro traçado de Estoril.

Alteração feito no traçado. Curva Gancho foi criada, substituindo a perigosa Tanque.

 

 

 

 

 

 

 

Alguns acidentes marcaram o circuito. Os mais graves foram os acidentes de Riccardo Patrese, em 1992, que após de chocar com a traseira de Berger, decolou e parou colado ao pitwall. Para o médico da FIA na época, Professor Sid Watkins, o acidente poderia ter sido catastrófico se o carro tivesse parado do outro lado do pitwall. Patrese sofreu apenas lesões nos joelhos, mas nada muito grave.

Carro de Patrese cai colado ao pitwall e por pouco não causa uma catástrofe. 

No ano seguinte, foi a vez de  Gerhard Berger, que teve um quebra de suspensão saindo dos boxes e cruzou a pista para bater no guard-rail do outro lado, quase batendo em outros competidores no caminho. 

Demora em atender ao pedido de modernização tirou o circuito do calendário da F1.

A FIA não pediu melhorias apenas na pista, mas também nas instalações. Sem ser atendida, a corrida de 1997 acabou cancelada. O governo reagiu, liberando o dinheiro para as obras e a corrida foi incluída no calendário de 1998, mas atrasos nas obras fizeram com que Estoril ficasse de fora permanentemente, com Jacques Villeneuve se tornando o último vencedor de uma prova de F1 no circuito, em 1996.

Acabada a reforma e com uma mudança de gestão, o circuito reabriu em 1999, mas as regras para receber a F1 já haviam mudado e o circuito conseguiu apenas permanecer com a licença para receber testes. O jeito foi abrigar a MotoGP, que fez sua primeira corrida no circuito em 2000, com alterações sendo feitas para melhorar a segurança dos motociclistas, além da gestão do circuito passar para as mãos do governo. Uma nova crise no país fez com que as taxas pagas para a FIM fossem demais para o governo continuar financiando, fazendo com que a MotoGP também tirasse o circuito de seu calendário. 

Apesar de não receber mais a F1, outras competições de automobilismo continuaram a acontecer, como a GT Series, DTM e a European Le Mans Series, com as 6 horas de Estoril. Em 2018, a pista passou por um recapeamento, que trouxe de volta a curva Tanque, que apesar de não ser muito usada, tornou-se uma alternativa. Atualmente, o circuito recebe as provas de Moto3 e Moto2, além de algumas categorias de automobilismo, além da Estoril Classic, uma corrida com carros antigos, incluindo alguns da F1. 

O que fica do circuito é a lembrança de uma das fotos mais icônicas da F1. No dia 21 de setembro de 1986, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Nigel Mansell e Alain Prost foram fotografados juntos, sentados na mureta dos boxes. Os quatro pilotos estavam começando a deixar suas marcas na F1, com Piquet já tendo conquistado 2 títulos e Prost sendo o atual campeão. Naquele ano, os quatro estavam lutando pelo título, chegando em Portugal com a diferença de apenas 13 pontos entre Mansell, o líder, para Senna, o 4º colocado. Vendo a oportunidade, Bernie Ecclestone, na época diretor da Brabham e já com bastante influência na F1, resolveu reunir os quatro pilotos para uma foto que ficou marcada na história.

Senna, Piquet, Mansell e Prost posam para foto icônica em Estoril. Briga pelo título foi até a última etapa do campeonato.

Um pouco mais de um mês depois da foto ser tirada, Prost venceu seu segundo título, batendo Mansell por apenas 2 pontos. Os dois pilotos estão empatados com o maior número de vitórias no circuito, com 3. Enquanto isso, Ayrton Senna (1985) e David Coulthard (1995) foram os únicos pilotos que conseguiram a pole, vitória e volta mais rápida no circuito, um feito esperado para Senna, que com 3 poles, é o piloto que mais largou na frente em Estoril. 

 

 

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