Circuitos: Silverstone

Depois de ser palco da primeira corrida da F1, Silverstone se prepara para a festa de 70 anos da categoria.

Ficha técnica
Nome do circuito: Circuito de Silverstone
Comprimento da pista: 5,891 km
Número de voltas: 52
Distância total: 306,198 km
Recorde da pista: 1m27s369, Lewis Hamilton (2019)
Primeira corrida na F1: 1950


Silverstone não é um templo do automobilismo à toa. Junto com Spa, Monza e Mônaco, é um dos únicos circuitos que compõem o calendário atual que fez parte também da primeira temporada da F1, em 1950.
A história do circuito começa na RAF Silverstone, base de treinamento militar da Força Aérea britânica. Depois da 2ª Guerra Mundial, o local parou de ser utilizado, mas um grupo de entusiastas viu nas pistas de decolagens abandonadas o local ideal para correr. A brincadeira acabou ficando séria e no ano seguinte, começou a se considerar transformar as pistas em um circuito. Com Donington Park sendo usado pelos militares e Brooklands voltado para a aviação, o Royal Automobile Club também viu em Silverstone o local perfeito e em outubro de 1948, apenas dois meses depois de ser escolhido, cerca de 100.000 pessoas foram ao novo circuito para ver a primeira corrida, vencida por Luigi Villoresi, pilotando uma Maserati e organizada por James “Jimmy” Brown, que ficou quase 40 anos no comando de Silverstone.

Ascari e Villoresi brigam pela vitória, na primeira corrida disputada em Silverstone, em 1948.

O traçado foi criado usando as pistas do aeródromo e algumas estradas locais, marcando os limites com barris de óleo e blocos de feno, deixando o público separado da pista apenas por uma corda. Mesmo com todos os percalços, a corrida foi um sucesso e em 1949, a pista improvisada foi ganhando melhorias e mudanças em seu traçado.

Traçado usado em 1948, utilizando as pistas do aeródromo da RAF e estradas adjacentes.

Traçado usado em 1950. Com relação ao traçado do ano anterior, a única diferença foi a retirada da chicane da curva Club.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No dia 13 de maio de 1950, Silverstone abrigou seu evento mais importante: a primeira corrida de F1!  A prova foi vencida por Giuseppe Farina, com sua Alfa Romeo e para se ter uma noção da importância do evento, o Rei George IV e sua família compareceram ao circuito de 4,710 km, o único evento de automobilismo que contou com a presença Real. O circuito, no entanto, teria que esperar até 1958 para ver um piloto britânico vencer em sua pista, com Peter Collins, pilotando uma Ferrari.

Farina e Fagioli disputam a liderança durante o GP da Inglaterra de 1950, com Farina se tornando o primeiro vencedor da F1.

Em 1952, a administração de Silverstone passou para o British Racing Drivers’ Club (BRDC) e o circuito passou por mais melhorias, tanto na pista quanto na infraestrutura, criando também um traçado alternativo com metade do comprimento do principal. A maior novidade foi a mudança da linha de largada/chegada, colocada entre as curvas Woodcote e Copse, além da construção de toda a estrutura de boxes no mesmo local.

Reforma na pista de Silverstone, em 1952, mudou a linha de largada/chegada.


As disputas na pista continuaram acirradas e criou uma situação inusitada. Em 1954, sete pilotos dividiram a volta mais rápida da prova. Alberto Ascari, Jean Behra, Stirling Moss, Juan Manuel Fangio, Onofre Marimon, Mike Hawthorn e Jose-Froilan Gonzalez marcaram o tempo de 1m50s000, com Gonzalez vencendo a corrida.
Em 1961, a BRDC comprou as terras ao redor do circuito e em 1964, fez uma nova área de boxes, já que a anterior, colada à pista, já tinha se mostrado perigosa para os mecânicos. No ano seguinte, os torcedores locais tiveram motivos de sobra para comemorar: os cinco primeiros colocados da corrida foram britânicos, com Jim Clark vencendo o GP da Inglaterra pela 4ª vez consecutiva, sendo a segunda em Silverstone, seguido de Graham Hill, John Surtees, Mike Spence e Jackie Stewart. 

Graham Hill (à esquerda), Jackie Stewart (centro) e Jim Clark (à direita), três dos cinco pilotos britânicos a dominarem a corrida de 1965.

A pista precisou passar mais uma vez por alterações, depois de um grave acidente durante o GP da Inglaterra de 1973. Na corrida, Jody Scheckter perdeu o controle da sua McLaren e causou um engavetamento. Apenas um piloto saiu mais machucado, mas os organizadores viram que os detritos poderiam ter atingido o público. Para o GP da Inglaterra de 1975 (a edição de 1974 foi realizada em Brands Hatch), uma chicane foi colocada na Woodcote, mas também mantendo o traçado original para algumas categorias, como a MotoGP.

Após o acidente em 1973, o circuito passou por mais uma mudança, com uma chicane adicionada na curva Woodcote.

Acidente durante o GP da Inglaterra, em 1973. Engavetamento revelou perigo para os espectadores.

 

 

 

 

 

 

 

 


Com suas longas retas e curvas de alta, aliada com a chegada da era turbo, as velocidades atingidas pelos pilotos preocupou os organizadores e para a corrida de 1987, a chicane da Woodcote foi substituída por uma curva mais acentuada, chamada de Luffield, além de novas chicanes na parte do Circuito Nacional, uma das quatro opções de traçados disponíveis na época.

Velocidade dos motores turbo preocuparam os organizadores, que fizeram mais alterações no traçado.

Mas a maior mudança de traçado viria em 1991. Com exceção das curvas Woodcote e Abbey, todas as demais sofreram alteração. De todas as mudanças, as mais significativas foram na Maggotts-Becketts-Chapel, que se transformaram em uma série de curvas, a criação da curva Vale, entre a Stowe e a Club e o trecho antes de chegar na Woodcote, que ganhou uma série de quatro curvas entre ela e a Farm Straight. 

Em 1991, o traçado sofreu uma transformação total, com quase todas as curvas sofrendo alterações.

Com as mudanças, o circuito passou a ter cinco layouts diferentes, podendo receber diversas categorias. Nesse mesmo ano também aconteceu uma das cenas mais icônicas da história da F1. Na última volta do GP da Inglaterra, Senna ficou sem combustível e parou na pista. O vencedor Mansell, fazendo sua volta de desaceleração, viu Senna parado na pista e parou para dar uma carona ao piloto da McLaren. A cena da carona acabou entrando na história.

Senna pega carona com Mansell, em 1991, depois de ficar parado na pista por falta de combustível.

E foi Senna também a causa de novas mudanças no circuito em 1994. Após as mortes do piloto brasileiro e de Roland Ratzenberger, em Ímola, a segurança dos circuitos foi revista, causando mudanças mais significativas em vários pontos da pista. Outras mudanças na pista foram acontecendo durante os anos, como em 1996, quando uma nova reforma alterou a curva Stowe, que tinha ganhado uma chicane em 94. No ano seguinte, Priory, Brookland e Copse foram alteradas.

Mortes de Senna e Ratzenberger em Ímola provocaram mudanças em Silverstone, visando a segurança.

Novas mudanças foram feitas em 1996 e 1997, alterando as curvas Stowe, Priory, Brookland e Copse.

 

 

 

 

 

 

 

 


Apesar de todas as mudanças, o futuro do circuito com a F1 passou a ser incerto, com Brands Hatch e Donington Park brigando pela vaga para sediar o GP da Inglaterra. A solução foi tentar trazer a MotoGP de volta, fazendo mais reformas na pista para se adaptar à categoria. Mas os planos de reforma foram alterados quando Silverstone conseguiu o contrato para continuar a receber a F1 e agora todas as alterações visavam atender às demandas de Bernie Ecclestone.
Essas alterações estrearam na corrida de 2010 e no ano seguinte, foi feita a mudança mais significativa, com a linha de largada/chegada sendo transferida para o novo complexo de boxes que foi criado entre as curvas Club e Abbey. Toda a área de boxes anterior permaneceu intacta, assim como a linha de largada/chegada usada antigamente, criando dois traçados, o Nacional e o Internacional, que podem ser usados de forma completamente independentes. A área entre as curvas Bridge e Priory acabou sendo desativada e virou uma área de picnic. Após a reforma, o circuito passou a contar com 6 opções de traçados diferentes, além de pequenas alterações no traçado principal, para acomodar categorias como a MotoGP.

Depois de segurar o contrato com a F1, Silverstone passou por mais uma mudança drástica em seu traçado.

A linha de largada/chegada foi mudada de lugar para 2011, mas a original foi mantida, deixando o circuito com duas opções de pitlane.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mapa com todas as mudanças feitas no circuito de Silverstone, desde 1949.

Em 2020, Silverstone vai receber duas rodadas do campeonato e a segunda corrida será especial. Essa é a corrida que a F1 escolheu para comemorar os 70 anos da categoria, justamente no circuito onde tudo começou. 

Silverstone será palco de corrida em celebração aos 70 anos da F1.

Quando se trata de vencedores, 30 pilotos diferentes já pisaram no degrau mais alto do pódio, sendo três brasileiros, com Emerson Fiitipaldi (1975), Ayrton Senna (1989) e Rubens Barrichello (2003). Entre os ingleses, 10 pilotos diferentes venceram em Silverstone, somando 21 vitórias (39,62%) em 53 edições disputadas até 2019. E um britânico é o maior vencedor no circuito. Lewis Hamilton tem 6 vitórias em Silverstone e pode aumentar ainda mais esse número em 2020, com a rodada dupla que está planejada para acontecer. O piloto da Mercedes também pode bater em Silverstone, o recorde de Ayrton Senna em número de poles positions em casa. Os dois pilotos estão empatados com 6. Hamilton ainda pode igualar o número de voltas mais rápidas no circuito, que ainda pertence a Nigel Mansell, com 6, enquanto que Hamilton tem 4. 

Hamilton comemora 6ª vitória em Silverstone, em 2019. Em 2020, o piloto da Mercedes, que é o maior vencedor no circuito, pode bater o número de poles em casa de Senna.

Já no quesito família, dos três pares de pai e filho que já disputaram uma corrida de F1 em Silverstone até o momento, apenas os filhos venceram corridas no circuito, com Jacques Villeneuve, Nico Rosberg e Damon Hill, filho de Graham Hill que chegou perto de vencer a corrida em 1960, mas rodou quando estava na liderança a cinco voltas para o fim. O piloto mais próximo de estrear essa marca é Mick Schumacher, que atualmente disputa a F2 e é filho do heptacampeão Michael Schumacher, vencedor das corridas de 1998, 2002 e 2004.

Se vencer em Silverstone com um F1, Mick e seu pai, Michael Schumacher, se tornarão a primeira dupla de pai e filho a vencer no circuito.

Outra curiosidade é sobre o troféu entregue ao vencedor do GP da Inglaterra desde 1974. Pouco se sabe sobre a real origem do troféu, que foi fabricado no final dos anos 1890, mas uma inscrição sugere que ele teria sido doado por Charles Rolls, um dos fundadores da Rolls Royce para o BRDC. Depois de ter a placa mudada, passou a ser oferecido ao vencedor, que tem seu nome gravado no troféu. Mas o troféu é o único que o vencedor não leva para casa, voltando para a sede da Royal Automobile Club depois da corrida. Em seu lugar, o vencedor fica com um segundo troféu, oferecido pelo patrocinador da corrida.

Troféu entregue ao vencedor do GP da Inglaterra, com o nome de todos os vencedores gravados. É o único em que o vencedor não leva para casa, recebendo no lugar um troféu de patrocinador.

 

 

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