Conheça a história secreta por trás de uma falha da Ferrari


Uma das temporadas mais difíceis para a Ferrari na Fórmula 1 foi a de 1992, quando lançou o F92A – uma proposta corajosa, mas desastrosa. Conquistou apenas 21 pontos e subiu ao pódio apenas duas vezes, em um ano marcado por diversas saídas de pista e problemas de confiabilidade.

Naquele momento, a aerodinâmica do carro – e especificamente o seu conceito de assoalho duplo – foram considerados os responsáveis por essa péssima performance. Mas uma entrevista com Jean Alesi mostrou uma nova perspectiva sobre o que pode ter acontecido.

Então, com a ajuda de um dos projetistas, Jean-Claude Migeot, nós analisamos tudo para entender o que realmente aconteceu naquele ano. Porque, ao invés de ser um problema com o chassi, há a possibilidade da raiz do problema ser, na verdade, o motor V12.

Como dito por Jean Alesi “O motor sofria de blow-by, que é o mesmo que dizer que havia um vazamento de óleo dos anéis do pistão para a câmara de combustão”.

“Isso causava uma perda de 40 a 50 cavalos. Mas, na tradição da Ferrari, não se podia falar que a culpa era do V12. Ao invés disso, a falha era atribuída ao carro, o que era uma pena, porque o conceito era interessante”.

Ferrari F92A (644) 1992 exploded detail view

Ferrari F92A (644) 1992 exploded detail view

Photo by: Giorgio Piola

Ferrari F92A double floor

Ferrari F92A double floor

Photo by: Giorgio Piola

Era muito fácil atribuir a falta de performance do carro ao novo e ousado pacote aerodinâmico que a equipe havia criado, com sidepods semelhantes a jatos de caça posicionados mais acima. Ele parecia e funcionada diferente de todos os outros no grid.

Naquele momento, foi sugerido que o assoalho duplo era flexível e, assim, a carga aerodinâmica se tornava instável, tornando o carro difícil de ser controlado. Migeot afirmou que a situação não era bem assim.

“O carro era inovador, com um motor V12 e chassi novos, mas os problemas eram mecânicos: devido à falta de força, causado pelo blow-by“, disse. “Tivemos que usar um tanque extra de óleo para conseguirmos terminar a corrida com lubrificante suficiente, que só acrescentou às nossas dificuldades para ajustar a nova suspensão dianteira”.

Ferrari F92A mono shock

Ferrari F92A mono shock

Photo by: Giorgio Piola

No mesmo ano, o Dallara BMS usava o V12 da Ferrari do ano anterior e tinha velocidades máximas maiores. Aí, um momento de “eureka” veio no meio do ano.

Migeot acrescentou: “Eles nos mandaram para fazer um teste em uma pista de alta com Jean Alesi, com Sante Ghedini [diretor esportivo da Ferrari] para descobrir porque não conseguíamos uma boa velocidade máxima”.

“Eles colocaram o motor do ano anterior no carro. Imediatamente, Alesi percebeu que era outro carro, com mais potência…”.

Ferrari F92A -F93A section comparison

Ferrari F92A -F93A section comparison

Photo by: Giorgio Piola

Comparando o 92A com o 93A, podemos ver como que o escapamento precisou ser colocado mais para cima, para poder acomodar os arranjos do assoalho duplo, enquanto os radiadores se tornaram mais largos para compensar a falta de altura.

O carro tinha mais downforce, algo que aparecia quando corrida no molhado, como descrito por Migeot.

“Nós demos uma demonstração das habilidades do carro em Magny Cours, quando começou a chover. Todos estavam na pista com pneus slick, mas Jean foi o último a ir aos boxes para a troca, já que o F92A tinha muita aderência, mesmo no molhado”.

Ferrari F92B bottom

Ferrari F92B bottom

Photo by: Giorgio Piola

Migeot também explicou que, enquanto a Ferrari sabia que o carro tinha uma boa downforce, suas tentativas de entender e desenvolver o carro só piorou as coisas. Por exemplo, foi criada uma versão do assoalho duplo para checar se as instabilidades do carro não eram culpa de seu comportamento difícil.

Aí, foi decidido equipar o carro com uma caixa de câmbio transversal. Migeot disse: “Era mais compacto, mas era mais largo, então arruinou a passagem do fluxo entre os dois canais. Em resumo: estávamos indo cada vez mais lentos”.

Ferrari F92A gearboxes comparison

Ferrari F92A gearboxes comparison

Photo by: Giorgio Piola

Ferrari F92A - F92AT comparison

Ferrari F92A – F92AT comparison

Photo by: Giorgio Piola

“Foi uma grande decepção, porque eu me tornei o bode expiatório de uma situação que eu não estava lidando. E foi uma pena, porque o F92A tinha um fundo plano longo que conseguia gerar muita carga. Só que era um conceito que precisava ser desenvolvido. Porém, foi banido no ano seguinte devido à mudanças no regulamento”.

“A Ferrari sempre viveu pelo mito de seus motores, então não haviam críticas de seu V12 porque seria como xingar na igreja. Apesar de parecer óbvio para todos que o motor era o grande problema do F92A, a culpa caiu sob a aerodinâmica”.

Confira as Imagens:

Vista lateral da Ferrari F92

Vista lateral da Ferrari F92

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Foto de: Giorgio Piola

Visão lateral da Ferrari F92 mostrando o carro sem a parte de cima a carenagem superior e o assoalho

Comparação entre as caixas de câmbio da Ferrari F92

Comparação entre as caixas de câmbio da Ferrari F92

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Foto de: Giorgio Piola

Comparando o layout da F92A e da F92TA, que apareceu mais tarde na temporada

Sistema de escapamento da Ferrari F92A (644) de 1992

Sistema de escapamento da Ferrari F92A (644) de 1992

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Foto de: Giorgio Piola

Layout do escapamento da F92A, que precisou ficar em uma posição mais alta devido às restrições causadas pelos sidepods

Fluxo de ar na Ferrari F92A

Fluxo de ar na Ferrari F92A

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Foto de: Giorgio Piola

Um guia sobre como o fluxo de ar se movia pelas superfícies da Ferrari F92A

Assoalho duplo da Toro Rosso STR6

Assoalho duplo da Toro Rosso STR6

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Foto de: Giorgio Piola

Interessantemente, o conceito teve uma ressurreição quando a Toro Rosso posicionou seus sidepods em um local mais alto no SRT6

Toro Rosso STR6

Toro Rosso STR6

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Foto de: Giorgio Piola

Visão lateral do STR6

Fonte Motorsport

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