Ensign N179 – um projeto da década de 1970
A Fórmula 1 está repleta de casos de carros que tiveram passagem medíocre e meteórica na categoria, não marcando a memória do público em geral. No entanto esses carros – geralmente de equipes pequenas ou médias que não tem vultosas quantias para investir em pesquisa e desenvolvimento, nem grandes patrocinadores – fazem parte da história da categoria e ajudaram a moldá-la através dos tempos.
O Ensign N179 foi um carro de corrida da Fórmula 1 projetado por Dave Baldwin e usado pelo Team Ensign durante a temporada de Fórmula 1 de 1979 .
O N179 foi substituído pelo Ensign N180 para a temporada de 1980.
Em 1979, o monoposto N179 foi equipado com um novo sistema de radiadores montados na frente que, teoricamente, refrigerariam o motor. Mas na prática, não só o motor não resfriava, mas o piloto sofria com o calor em seu cockpit! Em 1980, no Grande Prêmio dos Estados Unidos, o destino atinge a equipe. Quando ficou em quarto lugar, Clay Regazzoni sofreu um terrível acidente que o deixou paralisado.
O Ensign N179 apareceu pela primeira vez no GP da África do Sul em Kyalami, e não se qualificou para a largada. Derek Daly bateu em Long Beach e como o monocoque foi danificado no acidente, o velho N177 foi ressuscitado para as corridas da Espanha e Bélgica, onde o irlandês não se qualificou. O N179 voltou em Mônaco, mas Daly de novo ficou de fora. Morris Nunn, dono da equipe, acabou dispensando o piloto para trazer um novato: Patrick Gaillard.
Em cinco ocasiões que tentou se classificar, o francês fracassou em três e largou no GP da Inglaterra, chegando em 13º lugar e também na Áustria, onde a suspensão do carro quebrou. O N179 era um mau carro: além de não ter a eficiência aerodinâmica esperada, os motores Ford Cosworth não eram refrigerados de forma adequada.
Nas três últimas corridas, quem assumiu o volante do carro nº 22 foi o novato suíço Marc Surer, que conquistara o título de Campeão Europeu de Fórmula 2. No fim do ano, o N179 mudou o visual: saiu a pintura vermelha e entrou um arco-íris sobre um fundo escuro, cortesia do patrocínio dos jeans Rainbow. Surer só fez sua estreia no GP dos EUA, em Watkins Glen, sob chuva. Largou em 21º e o motor quebrou.
Para o Mundial de 1980, Morris Nunn trouxe Ralph Bellamy, que fracassara fragorosamente com o Copersucar-Fittipaldi F6 e pediu ao projetista um carro simples, mas funcional, dentro do conceito de carro-asa. Nasceu o Ensign N180, de linhas harmoniosas e com o patrocínio da Unipart – provavelmente com a mais bela pintura da equipe na Fórmula 1.
Clay Regazzoni, que fizera temporada muito boa pela Williams mesmo prestes a completar 40 anos, regressou à equipe. E o começo de ano foi bastante honesto: Regazzoni foi 15º no grid em Buenos Aires, 12º em Interlagos e chegou em nono no GP da África do Sul.
No GP dos EUA-Oeste disputado em Long Beach, o inesperado aconteceu: penúltimo no grid, Regazzoni já era o quarto na altura da 50ª volta, quando meteu o pé no freio para fazer um hairpin e não houve resposta: os freios simplesmente falharam. O ítalo-suíço entrou com tudo no Brabham de Ricardo Zunino, que estava estacionado na área de escape e o chassi dobrou em “L”, além de haver um princípio de incêndio, prontamente debelado. As consequências do acidente foram terríveis para Rega, que perdeu os movimentos das pernas, ficou paraplégico e precisou encerrar sua carreira de piloto.
Om que poderia ser um ano bastante razoável para a Ensign acabou sendo um completo desastre a partir daí. Não por culpa do carro – é que não havia bons pilotos capazes de conduzi-lo. Mo Nunn deu uma chance ao britânico Tiff Needell em duas corridas: em Zolder, ele até conseguiu largar, mas o motor não resistiu. No GP de Mônaco, o inexperiente piloto não se classificou.
O bom uso da potência de um motor às vezes passa por um bom resfriamento do mesmo.
Mo Nunn e o paquistanês Shahab Armed, os designers deste Ensign, entenderam perfeitamente. Numa época em que todos estavam tentando integrar os radiadores no fluxo de ar localizado embaixo do carro, eles criaram uma F1 que se reconectou com uma tradição esquecida por várias estações: os radiadores frontais. Estes então ocuparam toda a frente do carro, o suficiente para garantir que o motor não sofresse superaquecimento. Finalmente, em teoria …, porque na prática, o resfriamento se mostrou medíocre e o calor do cockpit insuportável para os pilotos!
https://rodrigomattar.grandepremio.com.br/2013/02/saudosas-pequenas-ensign-parte-iv/