História dos Circuitos da Fórmula 1 – Buenos Aires

Boa noite amados, a nossa grandiosa viagem de hoje pelas pistas que já estiveram ou estão no calendário da Fórmula 1 começa por um lugar que muitos fãs brasileiros possivelmente já frequentaram e começam bem, sendo mais explícita me refiro a maravilhosa “Terra do Tango”, Buenos Aires e seu versátil Circuito Juan y Oscar Gálvez. Sem mais nenhum tipo de espera, vamos começar a desfiar tudo sobre essa encantadora pista argentina, tal qual a cidade em que ela está localizada.

História

Na foto, vemos uma estátua de Juan Manuel Fangio na cidade de Buenos Aires. Ídolo máximo do automobilismo argentino também foi um dos idealizadores do circuito. Fangio também foi o vencedor da primeira corrida disputada no circuito e também é o maior triunfante, quando o assunto é somente as corridas disputadas pelo Mundial de Fórmula 1.

A história do Circuito Juan y Oscar Gálvez começou antes mesmo dele ser construído em 1952, mais precisamente no ano de 1950, o qual aconteceria a primeira temporada oficial da história da Fórmula 1, quando organizadores da inédita categoria desejavam contar com uma prova na Argentina já na temporada de estreia do novo campeonato mundial de pilotos e equipes, pois o intercâmbio entre pilotos europeus e sul-americanos na época dos Grand Prix havia sido realizado com o mais absoluto sucesso, porém havia um grande entrave que culminaria com o adiamento do sonho do país sediar uma “carrera porteña” a nível mundial. A grande carência constatada na virada de 1949 para 1950, era o fato de que as corridas automobilísticas realizadas em solo portenho, utilizavam circuitos citadinos em Buenos Aires ou mesmo em outras cidades do entorno, gerando um grande impasse, pois a preferência era por um autódromo de caráter permanente, um requisito que não daria para preencher em um espaço tão curto de tempo.

Um dos principais motivos para a construção da pista, era o que visava cumprir a exigência do recém criado certame de Fórmula 1 em realizar a corrida portenha em um circuito permanente. Organizadores da época não teriam gostado de circuitos citadinos como o Parque Rosario (foto) por exemplo.

Foi quanto o então Presidente da Argentina, o folclórico Juan Domingo Perón em conjunto com alguns grandes nomes argentinos das pistas, como por exemplo Juan Manuel Fangio, Onofre Marimón, os irmãos Oscar e Juan Gálvez e José Froilán González, começaram as tratativas para viabilizar a construção de um circuito permanente de corridas automobilísticas no país, visando sediar as principais categorias de automobilismo de caráter local e mundial, incluindo o na época jovem campeonato da Fórmula 1, o qual Fangio já despontava como um dos principais competidores.

O famoso traçado “conversível” de Buenos Aires, através de um pequeno prolongamento situado na Horquilla, era possível ampliar o traçado temporariamente, utilizando vias públicas para este fim.

No ano de 1952, o circuito que viria futuramente a cair nas graças dos adeptos de desportos motorizados da Argentina e também de todo o continente latino-americano como o “Coliseu Portenho”, enfim foi inaugurado sob o nome “Autódromo 17 de Octubre” e acabou por sediar logo de cara a Copa Perón, corrida esta que reuniu não apenas vários nomes famosos do automobilismo local, como também da própria Fórmula 1 e que acabou por sagrar a estrela da casa Juan Manuel Fangio como vencedor. O circuito recém inaugurado chamava a atenção, por já apresentar uma enorme variedade de traçados diferentes, incluindo um interessante trecho em “atalho” situado na curva Horquila, o qual poderia ser facilmente interligado com um conjunto de avenidas da cidade de Buenos Aires, em ocasiões as quais se realizavam corridas de maior porte ou duração, fazendo com que a configuração original mais longa da pista saltasse de 4.706 para mastodônticos 17.136 km de extensão, caso este fosse somado aos trechos citadinos.

Corrida de estreia de Buenos Aires na Fórmula 1, teve vitória de Alberto Ascari em 1953. O atribulado início da pista portenha na categoria, infelizmente ficou marcado pelo acidente entre a Ferrari do piloto Nino Farina e alguns espectadores. 9 deles pereceram.

Logo na temporada de 1953, a inédita pista de Buenos Aires enfim ajudaria a Argentina a realizar o sonho de sediar a primeira corrida de caráter oficial da Fórmula 1 na terra do tango, estreia esta que infelizmente foi bastante amarga, já que o herói local Fangio abandonou a corrida por problemas mecânicos e um acidente envolvendo a Ferrari 500 de Giuseppe Farina acabou por matar acidentalmente nove torcedores, após o carro seguir desgovernado em direção ao público. Mas a partir da temporada de 1954 os bons acontecimentos enfim iriam sorrir para a “Catedral do Automobilismo Argentino”, quando no auge da carreira, Fangio emendou uma incrível sequencia de quatro vitórias consecutivas interrompida apenas no ano de 1957, um ano antes de o penta-campeão se aposentar e se despedir de sua corrida caseira com uma 4º colocação, além de anotar a melhor volta na referida corrida de 1958.

Buenos Aires foi palco de alguns momentos marcantes, como a primeira vitória de um monoposto equipado com motor traseiro através do britânico Stirling Moss na edição de 1958…

A histórica vitória da equipe Wolf em sua corrida de estreia na Fórmula 1 com Jody Scheckter na corrida de 1977…

E a estreia de Alain Prost em 1980, prova esta que o francês também marcou seus primeiros pontos, com uma sexta colocação.

A pista de Buenos Aires – que passou a ser batizada com a nomenclatura Circuito Oscar Alfredo Gálvez em 1989 e Circuito Juan y Oscar Gálvez em 2005 respectivamente – também foi responsável por sediar outros momentos mágicos da categoria rainha do automobilismo como por exemplo, a primeira vitória da equipe Cooper e de um carro equipado com motor traseiro em 1958 com Stirling Moss, a última vitória de Denny Hulme na Fórmula 1 em 1974, a primeira pole-position de Jean-Pierre Jarier e da equipe Shadow em 1975, a primeira vitória da equipe Wolf já em sua corrida de estreia na categoria em 1977 através de Jody Scheckter, os primeiros pódios de Keke Rosberg e Nelson Piquet, juntamente com a estreia e os primeiros pontos da carreira de Alain Prost em 1980, o primeiro pódio do francês e a primeira corrida de um carro produzido em fibra de carbono com a McLaren MP4 de John Watson em 1981, o pequeno brilho de Jos Verstappen com sua Simtek na chuvosa prova de 1995 e a única volta mais rápida da carreira de Alexander Wurz, na última corrida disputada não somente na pista, como na Argentina até o presente momento.

Última corrida disputada em Buenos Aires, como também em solo argentino foi na temporada de 1998. Alexander Wurz (foto, atrás da Ferrari de Eddie Irvine) marcou a melhor volta da corrida com sua Benetton.

Embora tenha tido uma razoável longevidade no calendário da Fórmula 1, a trajetória de Buenos Aires também foi marcada por algumas curtas ausências ou mesmo longos hiatos, já que não foram realizadas provas nas temporadas de 1959 e 1976, além dos longos períodos de 1961 a 1971 e 1982 a 1994, a coincidência é que em todo esse ciclo de indas e vindas, em nenhuma vez os traçados foram repetidos, ajudando a ressaltar a versatilidade do circuito argentino. Embora o Grande Prêmio da Argentina sempre esteja cotado para retornar nos últimos anos, em raras as vezes a pista especulada foi o Circuito Oscar Alfredo Gálvez, já que circuitos mais modernos foram construídos no país após o ano de 1998.

 

Estatísticas

Tabela com todos os vencedores das corridas disputadas em Buenos Aires, sendo o piloto da casa Juan Manuel Fangio o grande triunfante entre os pilotos. Já a Williams é a dona do posto de recordista de vitórias entre as equipes, sendo três delas de forma consecutiva. (Fonte: GP Expert)

Volta Recorde (Traçado de 1953-1960): 1:36:9 (Stirling Moss, Cooper-Climax T51, Rob Walker Racing Team, 1960) – Qualificação.

Volta Recorde (Traçado de 1972-1973): 1:10:540 (Clay Regazzoni, BRM P160D, 1973) – Qualificação.

Volta Recorde (Traçado de 1974-1981): 1:42:665 (Nelson Piquet, Brabham-Ford Cosworth BT49C, 1981) – Qualificação.

Volta Recorde (Traçado de 1995-1998): 1:24:473 (Jacques Villeneuve, Williams-Renault FW19, 1997) – Qualificação.

Maior Vencedor (Pilotos): Juan Manuel Fangio (Argentina) – 4 vitórias.

Maior Vencedor (Equipes)Williams (Reino Unido) – 4 vitórias.

Linha do Tempo

Desde que foi inaugurada, uma das grandes virtudes da pista argentina era dispor de várias opções de traçado diferentes. A versão utilizada no período 1952-1960 possuía na época 3.912 km de extensão.

Após a primeira de várias ausências de Buenos Aires no calendário da Fórmula 1, quando a pista retornou para o biênio de 1972-1973, a curva Horquilla já havia sido encurtada. Esta configuração tinha 3.345 km de extensão.

Já entre os anos de 1974 e 1981, a maior opção disponível de Buenos Aires na época foi a escolhida. A longa configuração possuía 5.968 km de extensão e é considerada pelos fãs, a melhor de todas.

Já o traçado utilizado no retorno da pista ao certame da Fórmula 1 na década de 1990, não se pode dizer mesmo. A variante escolhida entre os anos de 1995 e 1998, tinha 4.259 km de extensão e a média de velocidade era bastante baixa, sendo considerada maçante pelos pilotos e espectadores.

Características

O traçado que será descrito, será justamente a maior e mais interessante configuração utilizada na Fórmula 1, no caso o utilizado entre 1974 e 1981.

  • Esse del Ciervo: Um veloz “S” em esquema direita-esquerda, com a primeira perna pouca coisa mais longa que a segunda. Embora seja um trecho muito largo e de alta velocidade, ainda sim é necessária uma minúscula redução.
  • Recta del Fondo: A segunda maior reta da pista, é através dela que o velocíssimo trecho do lago tem início.
  • Salotto: Uma rápida curva de raio longo, dotada de inclinação e tangenciada para a direita, como ela não é totalmente inclinada, é necessário dosar a velocidade aqui, caso o carro não possua a sustentação aerodinâmica adequada para contorná-la com aceleração total.
  • Recta del Lago: A maior reta da pista e também o trecho de maior velocidade, ela finaliza o setor do lago.
  • Ascari: Desta vez temos um “S” tangenciado no sentido direita-esquerda-direita, a primeira perna é bastante lenta e necessita do uso dos freios, a segunda como possui um acentuado nível de aclividade é possível contornar com uma velocidade um pouquinho maior, já a última curva nada mais é que um prolongamento da antiga curva Ascari, como ela é inclinada, a velocidade plena pode retornar nessa parte.
  • Entrada a los Mixtos: É a junção do setor do lago com o traçado curto e mais travado da pista, um hairpin de 180º tangenciado para a direita, dotado de aclive e com visão totalmente cega, se tornando o trecho mais lento e também um dos mais traiçoeiros.
  • Viborita: Uma complicada sequencia de pequenas curvas bem lentas no sentido esquerda-direita, dotado de leve aclividade.
  • Ombú/Cajón: São 2 pequenas curvas de média velocidade, ambas tangenciadas para a esquerda, que possuem uma tangência dupla, lembrando bastante as Di Lesmo de Monza e o Moss Corner de Mosport Park. Como também são feitas em subida, é um trecho que permite um pouco mais de improvisos técnicos por parte dos pilotos.
  • Tobogán: Um complicado e bastante técnico “S” em descida, tangenciado no sentido esquerda-direita, mas embora o ângulo dela permita uma velocidade um pouco maior, esse “sacarrolhas” não deve ser subestimado, pois não é possível contorná-lo 100% em aceleração plena
  • Horquilla: Assim como a Entrada a los Mixtos, se trata de mais um hairpin de 180º de baixa velocidade, situado em um trecho de grande aclividade, também contornado para a direita, mas embora o ângulo seja mais aberto, possui uma desafiadora tangência dupla que não perdoa erros de cálculo em voltas rápidas e nem mesmo improvisos para contorná-la em velocidades maiores.
  • Última Curva: Uma leve e veloz guinada contornada para a esquerda, trecho para apenas complementar a Horquilla e permitir uma rápida retomada de velocidade, visando cruzar a reta de chegada.

Onboard em Buenos Aires

Embarque de carona na Renault RS01 de Jean-Pierre Jabouille, em uma volta onboard datada do ano de 1979, pelo traçado de 5.968 km de extensão.

Muito bem amados, chegamos ao fim de mais uma viagem pela riquíssima história automobilística de uma das várias e inesquecíveis pistas que já passaram pela Fórmula 1, no caso conhecemos tudo sobre esta verdadeira pérola argentina talhada em Buenos Aires, chamada Circuito Juan y Oscar Gálvez. Um abraço bastante caloroso nos corações de todos!

Att Bárbara Maffessoni.

 

 

 

 

 

 

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