História dos Circuitos da Fórmula 1 – Dijon-Prenois

Boa noite amados, a nossa linda viagem visando conhecer um pouco mais de cada circuito que já esteve ou ainda está presente no calendário, ganhará como próxima parada as bucólicas paisagens e o clima tradicionalmente fechado do acanhado, mas simpático traçado da pista francesa de Dijon-Prenois. Neste texto, nós iremos conhecer e destrinchar tudo sobre o autódromo que teve como seu ponto mais alto, o lendário duelo roda a roda entre o canadense Gilles Villeneuve da Ferrari e o francês René Arnoux da Renault, no Grande Prêmio da França de 1979, edição esta que teve o autódromo situado no departamento francês de Côte-d’Or como sede oficial.

História

Neste recorte de uma matéria de um jornal francês de 1969, podemos observar o benfeitor da pista François Chambelland (a direita) e o piloto Jean-Pierre Beltoise (a esquerda). Em conjunto com o também piloto François Cevert e o jornalista automobilístico José Rosinski, eles desenharam o traçado do circuito de Dijon-Prenois.

A história do acanhado circuito de Dijon-Prenois começou, quando no ano de 1967, o ex-jogador de Rugby e lutador de Wrestling, François Chambelland, o qual havia se encantado ao assistir algumas corridas de automobilismo e motociclismo, logo ficou bastante entusiasmado em construir um autódromo, visando transformar a já movimentada cidade de Dijon, não só em um grande centro de corridas automobilísticas, como também em uma cidade chave da indústria automotiva de maneira geral.

Visando tirar a ideia do papel o mais rapidamente possível, Chambelland acabou arrematando um grandioso terreno no pequeno vilarejo de Prenois, localizado em uma belíssima área arborizada situada a oeste da cidade de Dijon. Apesar das dificuldades iniciais para conseguir o financiamento necessário para as obras do novo autódromo francês, François conseguiu com que a construção do mesmo logo começasse no ano de 1969 e fosse finalmente concluída em 1972.

O primeiro ato realmente concreto de Chambelland na realização desta empreitada, foi o de convidar três importantes pessoas do automobilismo francês para ajudá-lo a desenhar o traçado do circuito, são elas, os renomados pilotos Jean-Pierre Beltoise e François Cevert, além do jornalista especializado automobilístico José Rosinski. De maneira praticamente instantânea, logo não tardou para que estas reuniões se demonstrassem muito produtivas, gerando como resultado dos respectivos encontros entre os quatro, um percurso bastante técnico, sinuoso e desafiador repleto de longas subidas, descidas, curvas de motor cheio, ligeiras inclinações e alguns trechos de média velocidade. Segundo os eufóricos Beltoise e Cevert, este seria um circuito que iria testar ao máximo a concentração de todos os pilotos.

O traçado originalmente proposto por Chambelland, Beltoise, Cevert e Rosinski previa 5.000 km de extensão, contudo a falta de verbas jamais permitiu que ele fosse concluído. 

Nesta foto de tomada aérea da pista de Dijon-Prenois, nós podemos notar que o contorno do projeto original ainda resiste ao tempo, através de uma longa clareira entre as árvores.

Os planos iniciais previam um circuito com um traçado mais longo, contudo, como as finanças já estavam severamente apertadas, acabou-se por optar pela construção de uma configuração mais curta com a esperança de que os lucros gerados pelas corridas iniciais em Dijon-Prenois, possibilitassem a conclusão do percurso completo em ocasiões futuras em que houvessem mais pujança econômica por parte dos administradores da pista. Apesar deste incômodo déficit no orçamento, o mais novo autódromo francês foi enfim inaugurado no mês de junho de 1972, através de uma corrida de sport-protótipos.

Prova inaugural de Dijon-Prenois teve o sueco Ronnie Peterson da Lotus como vencedor. Entretanto, as equipes e os pilotos reclamaram muito da curta extensão do traçado da pista francesa, fator este que foi determinante para que Dijon só retornasse no ano de 1977.

Ainda sim, este pormenor não impediu que uma corrida extra-campeonato fosse realizada em Dijon no ano de 1975. Na foto, temos um poster do Grande Prêmio da Suíça daquele ano autografado por Clay Regazzoni, etapa esta que foi realizada no circuito francês. O suíço foi justamente o vencedor da prova.

A primeira corrida de Fórmula 1 realizada em Dijon-Prenois ocorreu somente no ano de 1974, tendo como primeiro vencedor o sueco Ronnie Peterson da Lotus, contudo a curtíssima extensão da pista, deixou os pilotos e os chefes de equipe bastante incomodados, pois o piloto austríaco Niki Lauda da Ferrari fez a volta de sua pole-position com um tempo abaixo de 1 minuto, além disso a confusão causada pelo rápido embolamento entre o líderes e os retardatários, também foi um outro fator determinante para que a FISA só admitisse novamente o circuito francês no calendário, quando houvesse uma ampliação em relação ao traçado do mesmo. Ainda sim, em 1975 foi realizada uma corrida extra-campeonato denominada como Grande Prêmio Suíça, a qual contou com a inscrição de 16 carros e vitória do suíço Clay Regazzoni da Ferrari.

Após as obras de ampliação do traçado terem sido concluídas, Dijon-Prenois finalmente retornou ao calendário da Fórmula 1 na temporada de 1977. Embora o norte-irlandês John Watson e sua lindíssima Brabham BT45B vermelha impulsionada por motores da Alfa Romeo, tivessem liderado a maior parte da corrida, na última volta o norte-americano Mario Andretti e sua inovadora Lotus 78 (atrás de Watson) deram o bote certeiro que os consagrou como vencedores da etapa francesa.

No ano de 1976, a tão sonhada ampliação do traçado do bucólico circuito francês finalmente foi concluída, isso permitiu com que Dijon sediasse o Grande Prêmio da França mediante a um contrato de rodízio com a pista de Paul Ricard, o qual passaria a valer a partir da temporada de 1977 da Fórmula 1. Novamente, o apertado caixa da organização do autódromo situado nas florestas do pacato vilarejo de Prenois, não permitiu com que o percurso proposto originalmente fosse concluído, todavia, duas retas de tamanho considerável e uma interessantíssima curva de raio longo tangenciada para a direita foram acrescidas ao traçado original, o que em conjunto com a acidentada topografia do terreno, fez com que rapidamente este trecho se tornasse o mais desafiador de todo o traçado de Dijon-Prenois.

No retorno da Fórmula 1 ao circuito de Dijon valendo pontos para a temporada de 1977, rapidamente ficou constatado que as mudanças no traçado surtiram o efeito desejado, os tempos de volta foram estendidos em torno de treze segundos nos treinos e como consequência, os pilotos puderam se sentir mais a vontade durante a corrida. A etapa de reestreia de Dijon-Prenois na categoria, foi novamente vencida por um carro da Lotus, no caso a primazia coube ao norte-americano Mario Andretti, o qual se sagrou vencedor após levar a melhor, em um embate emocionante com a Brabham do norte-irlandês John Watson na última volta da prova.

A edição de 1979, foi de longe a mais memorável da história do circuito de Dijon-Prenois na Fórmula 1. Os pilotos Gilles Villeneuve e René Arnoux travaram o mais emocionante embate da história da categoria, o qual foi vencido pelo canadense…

E como cereja do bolo, presenteou o piloto Jean-Pierre Jabouille, a equipe Renault e os motores turbo com a primeira vitória de cada um respectivamente.

Além disso, a edição de 1981 marcou a primeira vitória da carreira de Alain Prost.

Durante a curta e marcante passagem de Dijon-Prenois tanto como sede do Grande Prêmio da França, como também do Grande Prêmio da Suíça pelo calendário da Fórmula 1, houveram alguns acontecimentos bastante célebres para a categoria, como por exemplo a primeira vitória de Jean-Pierre Jabouille, da equipe Renault e de um carro equipado com motores Turbo na prova de 1979, o eletrizante duelo pela segunda colocação protagonizado pelo francês René Arnoux da Renault e pelo canadense Gilles Villeneuve da Ferrari nesta mesma edição, o qual Villeneuve levou a melhor, o primeiro triunfo da carreira de Alain Prost na corrida de 1981, a primeira etapa vencida por um piloto finlandês na história da Fórmula 1, conseguida através de Keke Rosberg no Grande Prêmio da Suíça de 1982 e a última pole-position da carreira do francês Patrick Tambay, a qual foi anotada na derradeira edição de 1984 do Grande Prêmio da França.

O ano de 1984, marcou a despedida de Dijon-Prenois do calendário da Fórmula 1. Patrick Tambay a bordo de sua Renault RE50 (foto) obteve a última pole-position da carreira dele nesta mesma corrida.

Após a saída do autódromo de Dijon-Prenois do calendário da Fórmula 1, o ápice do circuito foi mantido apenas até a década de 1990, onde sediou não apenas categorias escola do mundial, como também os mais importantes campeonatos de turismo e de carros esportivos. Entretanto, os anos 2000 marcaram a mais absoluta decadência da pista francesa, pois além de todos os problemas financeiros que os administradores enfrentaram, Dijon estava autorizada a sediar apenas categorias do automobilismo francês. Atualmente, existem planos para realizar novas reformas estruturais, visando o retorno das categorias internacionais ao autódromo situado no coração da floresta da Borgonha.

Estatísticas

Tabela contendo todos os vencedores das corridas disputadas em Dijon-Prenois. Curiosamente, nenhum piloto conseguiu vencer mais de uma vez no circuito. Por sua vez, as equipes Renault e Lotus dividem o posto de maior vencedora, com duas vitórias cada uma. (Fonte: GP Expert)

Volta Recorde (Traçado de 1974): 0:58:790 (Niki Lauda, Ferrari 312B3-74, 1974) – Qualificação.

Volta Recorde (Traçado de 1977-1984): 1:01:380 (Alain Prost, Renault RE30B, 1982) – Qualificação.

Maior Vencedor (Pilotos): Ronnie Peterson (Suécia), Mario Andretti (Estados Unidos), Jean-Pierre Jabouille (França), Alain Prost (França), Keke Rosberg (Finlândia) e Niki Lauda (Áustria) – 1 vitória.

Maior Vencedor (Equipes): Lotus (Reino Unido) e Renault (França) – 2 vitórias.

Linha do Tempo

O curtíssimo circuito original de 3.200 km de extensão, poderia ter uma volta completada em menos de um minuto, fato este que desagradou a maior parte das equipes e pilotos da época. Esta configuração vigorou entre os anos de 1972 e 1975.

Após as reclamações das equipes e dos pilotos, os administradores de Dijon-Prenois optaram por ampliar o traçado da pista, adicionando a interessantíssima curva Parabolique ao percurso. Esta especificação passou a vigorar no ano de 1976, é utilizada até o presente momento e possui 3.886 km de extensão.

Características

O traçado que nós iremos calmamente destrinchar por completo, é a versão estendida utilizada pela Fórmula 1 entre os anos de 1976 e 1984, configuração esta, a qual possui a curva Parabolique.

  • Villeroy: Após uma leve depressão situada na parte final da reta de largada conhecida como La Fouine, os pilotos darão de cara com uma curva dotada de um raio de 180º, feita em declive e tangenciada para a direita, a qual possui uma entrada completamente cega. Este trecho exige uma ligeira redução de velocidade para ser contornado de maneira perfeita.
  • S des Sablières: Sem dúvida alguma, este é um dos trechos mais interessantes do circuito de Dijon-Prenois, se trata de um “esse” de altíssima velocidade, tangenciado no sentido esquerda-direita, o qual é dotado de um longo trecho em aclive.
  • Gauche de la Bretelle: É uma curva de raio médio, dotada de um acentuado declive, a qual é sutilmente tangenciada para a esquerda. Embora teoricamente, este trecho só poderia ser contornado com uma breve redução de velocidade, porém a generosa largura da curva permite com que os pilotos que possuam mais recursos técnicos, tentem passar por ela de pé cravado no acelerador, dependendo da eficiência aerodinâmica de seus bólidos.
  • Parabolique: Chegamos enfim a maior estrela deste traçado, se trata de uma curva de 180º de raio longo, tangenciada para a direita, situada em um trecho que possui não somente uma longa subida, como também uma enorme inclinação em seu curso. Este setor necessita de uma considerável redução de velocidade para realizar uma boa entrada em uma volta rápida, para logo em seguida poder retomar a aceleração total, rumo a saída do mesmo, exigindo assim um rápido e preciso exercício mental dos pilotos para que não haja perda de tempo nesta curva.
  • Gorgeolles/Double Gauche de la Bretelle: Interessantíssima curva de duas tomadas estabilizadas em relevo plano, ambas tangenciadas para a esquerda, dotadas de um conceito semelhante ao das Di Lesmo de Monza, da Moss Corner de Mosport Park, da KLIA de Sepang e da temida curva 8 de Istambul. A primeira perna exige uma leve beliscada nos freios, para em seguida poder realizar a segunda curva em aceleração plena. É um outro trecho que exige concentração máxima de todos os pilotos, fora o fato de que a atuação da incômoda força G é considerável nesta parte da pista.
  • Combe: Se trata de uma curva de média velocidade, tangenciada para a direita e dotada de um raio consideravelmente aberto. Ela possui um pequeno “deep” em subida na sua entrada, para somente assim poder iniciar a dosagem do pedal do aceleração na longa parte em descida deste trecho.
  • Pouas: A última curva do circuito é daquelas do tipo “intermináveis”, ela é tangenciada para a direita em altíssima velocidade, além disso a primeira perna está situada em um trecho com declividade e inclinação bastante íngremes, enquanto que a segunda perna, por sua vez é situada em uma acentuada subida. Embora ela pareça apenas uma simples curva de alta velocidade que é responsável pela conclusão de uma volta na pista, ela jamais deve ser subestimada, pois é de longe o trecho mais estreito de Dijon-Prenois e o que também possui a menor área de escape, por consequência os guard-rails são praticamente colados rente a trajetória do circuito, o que faz com que a Pouas não perdoe o menor dos erros de julgamento ou de cálculo por parte dos pilotos.

Onboard em Dijon-Prenois

Vá de carona com o francês Alain Prost, a bordo da sua Renault RE80B, em uma volta realizada no Grande Prêmio da Suíça de 1982, o qual teve Dijon-Prenois como sede.

Muito bem amados, chegamos ao fim de mais uma maravilhosa a uma pista clássica, no caso nós pudemos descobrir tudo o que há de melhor, sobre o simpático circuito de Dijon-Prenois e a sua delicada paisagem bucólica do departamento de Côte-d’Or. Espero muito que todos os leitores tenham gostado e quero desejar um abraço bastante caloroso nos corações de todos!

Att Bárbara Maffessoni.

 

 

 

 

 

 

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