História dos Circuitos da Fórmula 1 – Estoril

Boa noite amados, a nossa mais nova e bela viagem pelas pistas do calendário da Fórmula 1, será pela pista portuguesa de Estoril, a qual está situada em uma das regiões mais encantadoras de Portugal, no caso a do Cascais, que compreende as duas cidades. O circuito, não menos maravilhoso, foi projetado pelo lendário engenheiro e também arquiteto brasileiro Ayrton “Lolô” Cornelsen, sendo assim, nós iremos conhecer tudo o que esta obra sensacional do engenheiro paranaense tem de melhor em seu traçado.

História

Na foto, nós podemos notar a figura da importante empresária portuguesa Fernanda Pires da Silva, a grande benemérita e idealizadora do Autódromo de Estoril, o qual hoje é batizado com o nome dela.

A história do circuito de Estoril começou no ano de 1972, quando a empresária portuguesa Fernanda Pires da Silva, dona das indústrias Autodril, adquiriu um vistoso terreno situado em um grande planalto próximo as cercanias da cidade lusitana de mesmo nome, junto a Lúcio Tomé Feteira e logo em seguida contratou os serviços do renomado arquiteto brasileiro Ayrton “Lolô” Cornelsen para projetar um autódromo que fosse um dos mais modernos de toda a Europa. Apesar disso, Fernanda encontrou muita resistência para tirar o projeto do papel, sendo muitas vezes prejudicada de maneiras pesadas por políticos daquela década.

O brasileiro Ayrton “Lolô” Cornelsen foi o projetista de todo o complexo de Estoril, incluindo o seu traçado. O paranaense, que também foi ex-jogador de futebol, é considerado um dos grandes nomes da chamada Arquitetura Moderna.

Mesmo assim, ela não desistiu de levar adiante o plano da construção de um novo e moderno autódromo português, sendo que ainda no ano de 1972, Cornelsen havia projetado um velocíssimo percurso de 4.350 km de extensão, o qual possuía diversas opções de traçados diferentes para as categorias que desembarcassem em Estoril utilizarem, além disso, Lolô também elaborou uma estrutura turística completa de apoio, muito semelhante ao que ele havia projetado para o autódromo carioca de Jacarepaguá, um importante diferencial que acabou por impressionar a entusiasmada empreendedora lusitana.

Embora a conclusão das obras tenha se dado já no ano de 1972, a inauguração oficial ocorreu apenas em 1975 devido a alguns contratempos políticos e econômicos, através de uma corrida do Campeonato Europeu de Fórmula 2, uma das muitas categorias de acesso a Fórmula 1. O francês Jacques Laffite (foto) venceu essa prova de uma maneira dominante.

Apesar de ter sido inaugurado no mês de junho daquele mesmo ano, o circuito se viu prejudicado por diversos fatores políticos e econômicos que Portugal havia passado na época, como por exemplo a crise do petróleo de 1973 e a histórica “Revolução dos Cravos” de 1974, de modo que a primeira corrida realmente oficial foi realizada somente no ano de 1975, através de uma etapa do Campeonato Europeu da Fórmula 2, corrida esta que foi vencida de maneira dominante pelo francês Jacques Laffite.

Após esta corrida inaugural, o circuito de Estoril passou por períodos de diversos altos e muitos baixos, essa tônica foi constante até meados da década de 1980, quando Cesar Torres tornou-se o chefe do Automóvel Club de Portugal e começou a fazer campanha para que a pista localizada na região dos Cascais, se candidatasse como sede de um Grande Prêmio de Fórmula 1, o que segundo Torres, esse evento poderia ajudar a alavancar o turismo local como um todo. Outra excelente estrategia do mandatário do ACP, foi a de aproveitar o período de instabilidade política latente da África do Sul, para oferecer a realocação dos testes de pré-temporada, que até então eram realizados na pista de Kyalami, para o autódromo lusitano.

Após ter a primazia de sediar alguns testes de pré-temporada, a nova gestão logo conseguiu com que o circuito do Estoril entrasse no calendário da Fórmula 1 de maneira definitiva, no ano de 1984, sediando a etapa portuguesa. Esta corrida inaugural marcou a vitória do francês Alain Prost…

O tricampeonato de Niki Lauda (à esquerda), o qual foi o último título conquistado pelo austríaco na Fórmula 1…

E o terceiro pódio da carreira do brasileiro Ayrton Senna, a bordo de sua surpreendente Toleman-Hart. Senna cruzou na terceira colocação, logo atrás de Prost e Lauda.

Com a pista ainda estando em boas condições estruturais, pouquíssimas reformas foram necessárias para que o Circuito de Estoril, enfim possibilitasse que a volta do Grande Prêmio da Portugal da Fórmula 1, outrora disputado nos circuitos citadinos de Monsanto e do Porto, já na temporada de 1984 da categoria e logo foi responsável por presentear os espectadores portugueses com os momentos mais importantes daquela edição do mundial. O francês Alain Prost da McLaren foi o vencedor da etapa inaugural de Estoril, mas esta corrida sagrou o austríaco Niki Lauda como campeão da temporada, por sinal o último título conquistado por Lauda, além disso, o brasileiro Ayrton Senna conquistou o terceiro pódio de sua carreira a bordo de sua surpreendente Toleman-Hart, através de uma ótima terceira colocação.

Após a movimentada estreia de Estoril na Fórmula 1 em 1984, a pista portuguesa também marcou outros momentos muito importantes para a história da categoria, como a primeira vitória do próprio Ayrton Senna em 1985, conquistada a bordo de uma Lotus…

O surpreendente terceiro lugar do sueco Stefan Johansson conquistado com o carro da modesta equipe Onyx, na edição de 1989…

E também o quarto e último título conquistado por Prost na categoria, na edição de 1993. O francês terminou esta prova na segunda colocação, atrás do vencedor Michael Schumacher.

Os anos posteriores, acabaram por marcar alguns acontecimentos épicos da história da Fórmula 1 nas corridas disputadas em Estoril, como por exemplo a primeira vitória da carreira de Ayrton Senna conquistada a bordo de sua Lotus logo na edição de 1985, o eletrizante duelo ocorrido entre as duas McLaren-Honda de Senna e do francês Alain Prost na corrida de 1988, a polêmica envolvendo o brasileiro e o inglês Nigel Mansell que tirou o mesmo da prova após desrespeitar uma bandeira preta e o surpreendente pódio da Onyx do sueco Stefan Johansson, ambos os fatos acontecidos na prova de 1989, o cinematográfico acidente do italiano Riccardo Patrese na etapa de 1992, a conquista do quarto e último título mundial de Prost na edição de 1993, o primeiro triunfo do escocês David Coulthard em 1995 e a majestosa ultrapassagem do canadense Jacques Villeneuve sobre o alemão Michael Schumacher na curva Parabólica, ocorrida na derradeira etapa de 1996.

A última corrida da Fórmula 1 disputada não só no circuito de Estoril, como em solo português aconteceu no ano de 1996 e teve Jacques Villeneuve (à esquerda) como vencedor. O canadense ainda executou uma sensacional ultrapassagem sobre o alemão Michael Schumacher (à direita), pelo lado de fora da curva Parabólica, onde se aproveitando da presença do retardatário Giovanni Lavaggi naquele momento, Jacques que é perito em provas disputadas em circuitos ovais, se valeu dessa mesma dinâmica para superar Schumacher.

Afastado do calendário da Fórmula 1 desde aquele ano, caso retorne nos dias atuais, os pilotos, equipes e espectadores irão se deparar com um traçado bem mais lento, em relação aos dois percursos anteriormente utilizados pela categoria.

Após sua saída da Fórmula 1 depois de receber treze excelentes corridas, o circuito de Estoril recebeu uma drástica reforma que acabou por deixar o traçado principal muito mais lento do que as duas configurações anteriores, visando sediar a etapa portuguesa da Moto GP a partir do ano de 2000 e também recebeu a visita de outras importantes categorias automobilísticas, contudo a pista lusitana circundada por belíssimos paredões rochosos, passou a perder cada vez mais espaço nos calendários destas categorias depois do ano de 2008, em virtude da construção do moderníssimo circuito de Algarve. Além disso, fatores como uma grave crise econômica ocorrida em Portugal, constantes acúmulos de dívidas por parte dos organizadores da pista e até mesmo alguns problemas bombásticos, acerca de licenças de edificação da mesma, acabaram por mergulhar o Autódromo Fernanda Pires da Silva em uma profunda decadência, a qual felizmente já está deixando aos poucos de ameaçar a existência deste histórico autódromo português, graças aos esforços dos adeptos apaixonados por corridas e dos novos administradores.

Estatísticas

Tabela contendo todos os vencedores das corridas disputadas em Estoril. O britânico Nigel Mansell e o francês Alain Prost são os maiores vencedores entre os pilotos com três conquistas cada um, enquanto a equipe Williams é a grande recordista entre as equipes com 6 triunfos conquistados.(Fonte: GP Expert)

Volta Recorde (Traçado de 1984-1993): 1:11:494 (Damon Hill, Williams-Renault FW15C, 1993) – Qualificação.

Volta Recorde (Traçado de 1994-1996): 1:20:330 (Damon Hill, Williams-Renault FW18, 1996) – Qualificação.

Maior Vencedor (Pilotos): Alain Prost (França) e Nigel Mansell (Reino Unido) – 3 vitórias.

Maior Vencedor (Equipes): Williams (Reino Unido) – 6 vitórias.

Linha do Tempo

O traçado original de Estoril era recheado de curvas rápidas e longas retas, possuindo 4.350 km de extensão. Ele vigorou entre os anos de 1972 – quando foi inaugurado – e 1993, sendo assim a primeira variante usada pela Fórmula 1.

Em 1994, ocorreu a primeira alteração no traçado da pista portuguesa, a chicane em subida “Gancho” substituiu a antiga curva do Tanque e dividiu opiniões na época. Esta foi a segunda configuração utilizada pela Fórmula 1, possuía 4.360 km de extensão e vigorou até o ano de 1999.

Mas as mudanças realmente drásticas ocorreram no ano de 2000, pois essas reformas não só deixaram as Curvas 1 e 2 mais lentas, como também encurtaram o curso da Parabólica Ayrton Senna. Esta configuração vigora até os dias atuais, possui 4.183 km de extensão e provavelmente será a utilizada em um possível retorno de Estoril ao calendário da Fórmula 1.

Características

O traçado que nós iremos descrever, é justamente o rapidíssimo percurso original utilizado entre os anos de 1972 e 1993.

  • Curva 1: Levemente inclinada, tangenciada para a direita e dotada de uma acentuada aclividade, a primeira curva do circuito podia ser contornada em aceleração plena sem maiores problemas.
  • Curva 2: Ela possuía praticamente as mesmas características da Curva 1, exceto pelo fato de não haver nenhuma área de escape neste trecho e a subida ter uma angulação um pouco mais severa que a da curva anterior. Também pode ser contornada sem a necessidade de qualquer redução de velocidade por parte dos pilotos.
  • Curva 3: Se trata de um hairpin de 180º, de média velocidade tangenciado para a direita, localizado em um trecho de longa aclividade, todavia, apesar de a curva ser dotada destas características, é necessário apenas um sutil e rápido toque dos pilotos nos freios dos bólidos, antes de ir aos poucos retomando a aceleração total.
  • Curva VIP: É um hairpin semelhante a Curva 3, localizado em um setor de acentuada aclividade, onde a entrada é praticamente cega, porém, esta curva é tangenciada para a esquerda e necessita de uma real redução de velocidade e uso mais contundente dos freios por parte dos pilotos.
  • Reta Oposta: Não é quilométrica como a reta de largada, mas ainda sim, é um trecho onde os carros atingiam uma velocidade considerável. Ela era “quebrada” apenas por uma velocíssima e delicada guinada para a direita no meio do curso dela.
  • Parabólica Interior: Se trata de uma curva de média/alta velocidade, a qual também está situada em um trecho de íngreme subida e possui inclinação, ela é tangenciada para a esquerda e necessita apenas de uma pequena e imperceptível redução de velocidade na sua primeira perna, para logo rapidamente voltar a acelerar com tud em diração ao próximo trecho.
  • Orelha: Outro hairpin de 180º, em leve subida e tangenciado para a direita, o qual é um dos poucos trechos realmente lentos de toda a pista do traçado clássico do Estoril.
  • Tanque: Um dos setores mais difíceis do circuito, se trata de uma curva bastante embarrigada para a direita, a qual é contornada em altíssima velocidade e detém o mais longo trecho em subida do mesmo, além disso, ela não dispõe de uma mísera área de escape, ou seja, os guard-rails ficam colados rente a trajetória da pista. A curva do Tanque não perdoa o menor dos erros de cálculo por parte dos pilotos.
  • Esses: Como o próprio nome sugere, esta é uma sequência de duas curvas tangenciadas no sentido direita-esquerda respectivamente, sendo a primeira perna contornada em aceleração plena, enquanto que a segunda é de baixa velocidade e necessita do uso maciço dos freios dos carros.
  • Parabólica/Parabólica Ayrton Senna: Sem dúvida alguma, a curva que é responsável por fechar as voltas rápidas dos pilotos na pista do Estoril, é o grande chamariz da mesma. É uma curva de alta velocidade que possui um raio bastante longo, tangenciada para a direita e que ainda por cima é dotada de uma inclinação semelhante a de um circuito oval, com o agravante de também não possuir nenhuma área de escape. Foi nesta curva, que o canadense Jacques Villeneuve realizou uma manobra antológica de ultrapassagem sobre o alemão Michael Schumacher, por fora na corrida de 1996.

Onboard em Estoril

Vá de carona com o francês Patrick Tambay, a bordo da sua Renault RE60, em uma volta realizada no Grande Prêmio de Portugal de 1985.

Muito bem amados, chegamos ao fim de mais uma maravilhosa viagem a uma pista do calendário clássico da Fórmula 1, no caso nós pudemos descobrir tudo o que há de melhor, sobre o circuito de Estoril e as suas maravilhosas paisagens da região portuguesa do Cascais. Espero muito que todos os leitores tenham gostado e quero desejar um abraço bastante caloroso nos corações de todos!

Att Bárbara Maffessoni.

 

 

 

 

 

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