História dos Circuitos da Fórmula 1 – Zandvoort

Boa noite amados, seguindo a nova sessão de textos sobre todos os autódromos que já estiveram e estão presentes na Fórmula 1, iremos conhecer um pouco mais sobre uma outra pista que marcou época na categoria, no caso a maravilhosa e encantadora pista holandesa de Zandvoort, traçado encravado sobre lindas dunas das praias da região em que ele se localiza.

 

História

A largada oficial para a realização de corridas automobilísticas em Zandvoort, ocorreu em 1939 por obra do então prefeito da cidade Henri van Alphen (1881-1966), que visava fomentar o turismo da cidade e fortalecer o automobilismo na Holanda como um todo.

Raríssima foto da prova pioneira de 1939, a qual foi disputada em um circuito citadino tampão desenhado pelo próprio Prefeito van Alphen. Corrida esta que foi a primeira oficialmente realiza em toda a Holanda.

A história das corridas disputadas na pacata e belíssima cidade praiana de Zandvoort começa já na década de 1930, mais precisamente no dia 3 de junho de 1939, quando o então prefeito da cidade, Henri van Alphen se viu encantado com as corridas automobilísticas que atraíam cada vez mais aficionados, não só na Europa, como no mundo inteiro, surgiu aí uma ótima oportunidade que visava entreter os cidadãos locais e fomentar ainda mais as atividades turísticas na região. A ideia original de van Alphen era um circuito permanente localizado próximo a essa região das dunas, porém como não havia tempo hábil para isso na ocasião, desenhou ele mesmo um circuito citadino tampão com um curioso formato de “oito” de 2.284 km de extensão, para realizar o tão sonhado evento, convidando os melhores pilotos do mundo na época para a competição logo em seguida.

Fotos da construção do traçado permanente em 1948. Traçado que possuía 4.193 km de extensão foi projetado pelo guru das pistas de corrida John Hugenholtz e pelo ex-piloto britânico Sammy Davies.

A corrida organizada pelo Prefeito van Alphen foi a primeira oficialmente realizada em solo holandês, sendo um sucesso não apenas de público, como também de bilheteria, mas infelizmente o sonho de construir um circuito permanente teve que ser adiado por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial, período em que eventos esportivos não foram realizados, salvo algumas competições de esportistas amadores. Quando o sangrento conflito armado enfim terminou, as tratativas para a acolhedora cidade litorânea de Zandvoort ter uma pista de caráter fixo começaram logo no ano de 1946, exatamente uma época depois do fim da Segunda Grande Guerra, iniciando-se rapidamente a construção do rápido e desafiador traçado projetado pelo mago das pistas, o também holandês John Hugenholtz com ajuda do ex-piloto britânico Sammy Davies, que fez o “grosso” do trabalho digamos assim. O Circuit Park Zandvoort e seu traçado que possuía na época 4.193 km de extensão, cuja especificação se seguiu inalterada até o ano de 1972, foi inaugurado no dia 7 de agosto de 1948.

Embora já tenha sediado provas extra-campeonato, a primeira corrida valendo pontos para o campeonato se deu apenas em 1952, a qual foi vencida por Alberto Ascari e a sua Ferrari.

Apesar de ter recebido duas provas extra-campeonato em 1950 e 1951, a história de Zandvoort e do Grande Prêmio da Holanda na Fórmula 1 começou oficialmente apenas na temporada de 1952, em prova vencida pelo italiano Alberto Ascari e sua Ferrari 500, corrida essa em que o italiano estabeleceu dois recordes, além de ter liderado todas as 90 voltas da corrida holandesa, Ascari chegou a incrível marca de 7 vitórias em sequencia, algo inédito para a época. Desde então, a velocíssima pista de Zandvoort permaneceu na Fórmula 1 até a temporada de 1985, onde ficou de fora do calendário apenas nos anos de 1954, 1956, 1957 e 1972.

Zandvoort foi palco de momentos memoráveis, como por exemplo a estreia de Jim Clark na Fórmula 1 em 1960…

A primeira vitória dos motores Ford Cosworth DFV V8…

E um pequeno show de Gilles Villeneuve na edição de 1979, onde após ter um dos pneus de sua Ferrari furado, demonstrou enorme perícia ao conduzir o carro nessas condições, apenas com três rodas.

Como não poderia deixar de ser, Zandvoort foi palco de momentos memoráveis para a categoria, como por exemplo a primeira vitória da equipe BRM e de um piloto sueco conquistada através de Jo Bonnier em 1959, a estreia de Jim Clark em uma corrida da Fórmula 1 em 1960, a primeira vitória de um piloto alemão conquistada por Wolfgang von Trips em 1961, a primeira vitória de Graham Hill em 1962, o primeiro triunfo do lendário motor Ford Cosworth DFV V8 conquistado através da Lotus de Jim Clark em 1967, a primeira vitória da equipe Matra em 1968, a primeira vitória de James Hunt e da equipe Hesketh em 1975, a última vitória de Mario Andretti em 1978, o show de pilotagem de Gilles Villeneuve sobre 3 rodas, os primeiros pontos da carreira de Nelson Piquet e os últimos marcados por Jacky Ickx em 1979, a última vitória de Didier Pironi em 1982, a estreia do motor TAG/Porsche na McLaren, a última vitória de René Arnoux e o último pódio de John Watson em 1983, o segundo título de construtores da McLaren em 1984 e por fim a derradeira edição de 1985 marcou a última vitória de Niki Lauda, a última pole position da Brabham, a última corrida disputada por Stefan Bellof na Fórmula 1 e também foi a primeira vez em que todas as equipes inscritas utilizaram motores turbo em seus carros. Infelizmente as tragédias de Piers Courage em 1970 e de Roger Williamson em 1973 foram os pontos mais tristes da linda história de Zandvoort na categoria.

Infelizmente, momentos bastante tristes como as mortes de Piers Courage em 1970…

E de Roger Williamson em 1973, ambos na temida curva Hondenvlak, também marcaram a estadia de Zandvoort na Fórmula 1.

Ainda sim, a derradeira corrida de 1985 reservou um lindo momento para a estadia da pista holandesa na Fórmula 1, no caso a última vitória de Niki Lauda na categoria. Na foto, ele divide o pódio com Alain Prost e Ayrton Senna, dois dos principais nomes da geração seguinte.

Após a última prova disputada em 1985, a desafiadora e veloz pista praiana continuou a receber corridas de outras categorias, sofreu duas bruscas mudanças de traçado em 1990 e 1999 respectivamente e frequentemente é envolvida em boatos, sobre um possível retorno do Grande Prêmio da Holanda a Fórmula 1, após o frisson causado pela chamada “Onda Laranja” de Max Verstappen, o mais proeminente talento holandês no esporte nos últimos anos.

Estatísticas

Tabela com todos os vencedores das corridas disputadas em Zandvoort, sendo Jim Clark o maior vencedor entre os pilotos e a Ferrari a mais laureada entre as equipes. (Fonte: GP Expert).

Volta Recorde: 1:11:074 (Nelson Piquet, Brabham-BMW BT54, 1985) – Qualificação.

Maior Vencedor (Pilotos): Jim Clark (Reino Unido) – 4 vitórias.

Maior Vencedor (Equipes): Ferrari (Itália) – 8 vitórias.

Linha do Tempo

O traçado temporário de 1939, feito nas ruas da própria cidade de Zandvoort, possuía um excêntrico formato de “oito” e 2.284 km de extensão.

Projetado por John Hugenholtz e Sammy Davies, o traçado do circuito permanente tinha 4.195 km de extensão e foi utilizado pela Fórmula 1 em 17 das 30 corridas realizadas em Zandvoort.

O traçado utilizado no período 1973-1979 com exceção de uma única chicane na curva Bos In, que passou a se chamar Panoramabocht, não sofreu grandes mudanças. Esta variante tinha 4.226 km de extensão.

O traçado utilizado entre os anos 1980-1985, agora possuía a chicane Marlborobocht no lugar da temida curva Hondenvlak. Esta configuração foi responsável por sediar as últimas corridas de Zandvoort na Fórmula 1. Tinha os mesmos 4.226 km de extensão, mesmo com a íngreme mudança.

Já fora da Fórmula 1, Zandvoort sofreu uma drástica reforma de redução de traçado no fim de 1989, este percurso que foi utilizado até 1998, tinha 2.526 km de extensão.

E por fim o traçado vigente na atualidade, o qual foi resultado de uma reforma feita entre o fim de 1998 e o início de 1999. O percurso que tem 4.307 km de extensão, sempre é bastante cotado para um possível retorno do Grande Prêmio da Holanda ao calendário da Fórmula 1.

Características

O circuito que será retratado na descrição é o utilizado até o ano de 1979. Com um bônus track de um relato sobre a chicane Marlborobocht, do traçado utilizado entre os anos de 1980 e 1985.

  • Reta de Largada: A maior reta de todo o circuito tem uma história bastante curiosa, pois segundo a lenda, na verdade ela era uma avenida construída para desfiles militares durante a ocupação de oficiais Nazistas na cidade, durante a Segunda Guerra Mundial.
  • A curva Tarzanbocht é o verdadeiro cartão postal da pista.

  • Tarzan: A primeira curva da pista, é justamente o ponto mais crítico e icônico dela, se trata de uma complicada curva inclinada de 180º contornada para a direita, não é exatamente uma curva lenta, mas também não é uma curva de alta velocidade, a técnica dos pilotos sempre será essencial para evitar erros ou acidentes neste trecho. A curva foi batizada assim, devido a um causo bastante inusitado sobre a desapropriação de algumas moradias que se encontravam localizadas no terreno em que a pista iria ser construída, um dos moradores era um homem de estatura elevada e bastante irritadiço que possuía o sugestivo apelido de “Tarzan”, o impasse se resolveu de uma forma também pouco usual, pois ele só aceitou entregar a casa se a curva fosse batizada com o seu apelido.
  • Gerlacht: Um trecho de velocidade mista e bastante técnico, exatamente como um “pêndulo”. Começa com uma leve guinada para a esquerda de alta velocidade, seguida de uma curva bem lenta para a direita e como essa parte da pista possui uma acentuada declividade, a dificuldade é ainda maior tanto para os pilotos, quanto para carros pouco eficientes mecânica e aerodinamicamente. A curva foi batizada com esse nome, após o acidente fatal do piloto Wim Gerlach em 1957, após capotar violentamente seu Porsche Carrera Speedster.
  • Hugenholtz: Curva com as mesmas características da Tarzan, com a diferença de que ela é tangenciada para a esquerda, é dotada de uma entrada com declive, saída em aclive e pode ser contornada de uma forma mais veloz. A curva foi batizada com o nome do mago das pranchetas dos autódromos, após uma homenagem de funcionários que queriam presentear Hugenholtz, após o fim da administração do holandês como CEO da pista.
  • Hunserug: Uma velocíssima guinada para a direita, dotada com um aclive acentuado, setor de altíssima velocidade e uma área de escape minúscula. O nome desta curva homenageia a família Hunze, clã este que um dos benfeitores da construção do autódromo holandês fazia parte.
  • Jan de Wijker zijn veld (Também conhecida como Slotemaker): Bastante semelhante a Hunserug, é outra leve guinada com um raio um pouco menor e também tangenciada para a esquerda, este trecho possui um aclive menos acentuado e uma discreta inclinação. Inicialmente batizada em homenagem a um importante homem de posses da cidade de Zandvoort, acabou ganhando o nome atual em 1979, após a morte do piloto Rob Slotemaker em decorrência de um violento acidente neste trecho, a bordo de um Chevrolet Camaro.
  • Curva Scheivlak.

  • Scheivlak: Outro ponto bastante crítico e lendário da pista de Zandvoort, é uma curva a direita bastante veloz dotada de grande inclinação e contornada em descida, praticamente como se fosse uma mistura do Laranjinha de Interlagos, da 130R de Suzuka e da Eau Rouge de Spa-Francorchamps para darmos um exemplo melhor, ela não perdoa o menor dos erros e nem entradas muito bruscas, pois necessita de uma pequena redução de velocidade, embora não possua uma tangência “perfeita”. O nome da curva em holandês é em referência a algo relacionado a “bordas”, “cercas” e “muros”, já que ela se localiza onde um dia foi o terreno de outro grande latifundiário da cidade.
  • Saída do temido “S” Hondenvlak. Foto de 1978.

  • Hondenvlak: Em conjunto com a Tarzanbocht e a Scheivlak, ela completava o chamado “trio de perigos” de Zandvoort, se tratava de um “S” tangenciado no esquema esquerda-direita de alta velocidade, guard-rails colados a pista e como elemento surpresa, os fortes ventos da região que levavam areia das dunas para este trecho, tornando-a uma curva bem escorregadia e ainda mais traiçoeira. A “curva do canil”, como foi batizada conforme relatos de anteriormente, ter existido um local para os moradores deixarem seus cachorros, foi o local onde infelizmente os pilotos Piers Courage e Roger Williamson perderam suas vidas.
  • Marlborobocht: Chicane que substituiu a Hondenvlak após as reformas de 1979, era seguramente o trecho mais lento da pista e também o melhor ponto de ultrapassagem desta, ela manteve o esquema esquerda-direita da curva anterior. O nome dela é referente a um contrato de naming rights com a Marlboro.
  • Tunnel Oost: Curva de altíssima velocidade contornada para a direita, bastante estreita, com guard-rails colados e que possui um túnel abaixo dela, para a entrada de espectadores em dias de corrida. Basicamente é uma mistura de Blanchimont de Spa-Francorchamps e 130R de Suzuka, com a diferença que a curva é tangenciada em direção contrária.
  • Panoramabocht: Uma chicane direita-esquerda, cuja mistura de aclives e declives a torna um trecho bastante semelhante a um “sacarrolhas” e visualmente bem interessante de se ver, é outro belíssimo ponto gerador de disputas roda a roda entre os pilotos e suas máquinas.
  • Bos Uit: Para encerrar com chave de ouro, nós temos como trecho derradeiro da nossa volta imaginária na pista, uma curva de raio longo, inclinada e feita em subida.

Onboard em Zandvoort

Embarque de carona na Renault RE40 de Alain Prost, em um vídeo que contém não só uma, como várias voltas completas em Zandvoort nos treinos para a corrida de 1983. O traçado é a configuração que contava já com a Marlborobocht, substituindo a Hondenvlak.

Muito bem amados, chegamos ao fim de uma aventura maravilhosa por essa pista encantadora cercada de areia branquinha das praias holandesas, espero muito que tenham gostado do texto e de ter conhecido um pouquinho mais desse circuito extremamente cativante chamado Zandvoort. Um abraço bastante caloroso nos corações de todos!

Att Bárbara Maffessoni.

 

 

 

 

 

 

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