Pilotos campeões: conheça a trajetória de Emerson Fittipaldi

Emerson Fittipaldi é um ex-piloto brasileiro, nascido em São Paulo, no dia 12 de dezembro de 1946.

Emerson, ou Rato, seu apelido, foi o primeiro piloto brasileiro de Fórmula 1 a conquistar uma vitória na categoria, no Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1970, no circuito de Watkins Glen, vitória esta que ajudou seu falecido companheiro de equipe Jochen Rindt a vencer o campeonato postumamente, e a faturar um título, no ano de 1972. Ambos os feitos foram pela equipe Lotus, uma das principais equipes da época e da história da Fórmula 1.

Estas conquistas acabaram abrindo portas para vários compatriotas, tornando o Brasil um dos principais países da F1, juntamente com a Alemanha, França, Itália e Grã-Bretanha (principalmente Inglaterra e Escócia). Fittipaldi foi bicampeão da Fórmula 1, em 1972 e 1974, campeão da Fórmula Indy em 1989 e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis, em 1989 e 1993. Com isso, ele é o único piloto na história a vencer o mundial de F1 e as 500 Milhas por duas vezes e um dos 4 a integrar o seleto grupo de pilotos que encerraram suas carreiras sendo campeões da Fórmula Indy e da Fórmula 1, junto com Mario Andretti, Nigel Mansell e Jacques Villeneuve.

Carreira Pré-F1

Emerson é filho de mãe russa, Józefa “Juze” Wojciechowska e pai ítalo-brasileiro, o jornalista Wilson Fittipaldi. Sua família paterna é originária do município italiano de Trecchina, na Basilicata. Em 1964 foi notado pela primeira vez em Interlagos, quando brigou com o diretor da prova que o impedia de entrar na ambulância que levava seu irmão Wilson, logo após ele ter sofrido um acidente em sua berlineta da equipe Willys. Nesse mesmo ano Emerson se tornou piloto e começou a competir de kart, estreando com uma vitória em Santo André (SP), no dia 12 de abril e terminando o campeonato em nono lugar. Sagrou-se campeão paulista em 1965, quando estreou no automobilismo, dirigindo um Renault 1093, numa corrida na Ilha do Fundão pelo Campeonato Carioca. Ali sofreria também o seu primeiro acidente.

Em 1966, o irmão Wilson teve uma experiência internacional na Fórmula 3, correndo na Argentina, mas apesar de prometido não conseguiu um carro para as corridas na Europa e voltou ao Brasil. Wilson resolveu construir carros de fórmula conhecidos como Fórmula Vê. Emerson dominou o campeonato de Fórmula Vê de 1967, ganhando cinco das sete provas com o carro construído pelo irmão. Também voltou a ser campeão de kart.

Os irmãos Fittipaldi construiriam ainda um Fittiporsche e Emerson ganhou a II Cem Milhas de Kart em Piracicaba, disputada em 1968. Mas a categoria brasileira estava em crise e Emerson resolveu tentar a sorte na Europa. Iriam com ele os pilotos Luiz Bueno e Ricardo Achcar (que já havia vencido naquele mesmo ano na Inglaterra com um carro alugado), mas acabaram desistindo. A última vitória de Emerson no Brasil antes de viajar foi nas 12 Horas de Porto Alegre, pilotando um Volkswagen 1600 (em segundo, pilotando um Corcel, chegaria José Carlos Pace).

Emerson teve a sua primeira corrida internacional em 7 de abril de 1969, na Holanda, e três meses depois, após muitas vitórias na Fórmula Ford, ele estrearia na Fórmula 3 britânica. Sagrou-se campeão da categoria aos 22 anos.

Seu imenso talento foi notado por Colin Chapman, proprietário da equipe Lotus, da Fórmula 1, que o contratou no ano seguinte para correr pela sua equipe.

Fórmula 1

Lotus: 1970-1973

Emerson na Lotus, em 1971

A corrida de estreia foi no Grande Prêmio da Grã-Bretanha, em Brands Hatch, que mesmo largando nas últimas posições terminou a prova em oitavo. Três semanas depois, em Hockenheim, marcaria seus primeiros pontos, com um 4º lugar. No final daquele ano, em Monza, seu companheiro de equipe, o austríaco Jochen Rindt, pediu que Emerson amaciasse seu carro para a corrida do dia seguinte.

O Brasileiro, no carro de Rindt, sofreu um acidente, destruindo o carro do companheiro e impossibilitando a sua utilização na corrida. Como Rindt liderava o campeonato, o chefe da equipe deixou Emerson de fora da corrida e Jochen Rindt competiu com o carro dele, mas o piloto austríaco faleceu num acidente na curva Parabolica, ainda nos testes anteriores à corrida. A Lotus, de luto, retirou-se por duas corridas e voltou no penúltimo GP da temporada, em Watkins Glen. Nesse dia, Emerson venceu sua primeira corrida e, ao mesmo tempo, ajudou Rindt a sagrar-se o primeiro – e, até hoje, o único – campeão póstumo da Fórmula 1.

Lotus do primeiro título de Emerson Fittipaldi, 1972

O ano de 1971 não viu vitórias de Emerson, embora sua atuação consistente lhe tenha garantido três pódios, na França, Grã-Bretanha, com o terceiro lugar, e um segundo na Áustria.

Em 1972, com 5 vitórias, na Espanha, Bélgica, Grã-Bretanha, Áustria e Itália, esta no Brasil com narração de seu pai, o “Wilsão”, Fittipaldi tornou-se o campeão mundial mais jovem da história da Fórmula 1, com 25 anos, oito meses e 29 dias, recorde que manteve por mais de três décadas e que só foi quebrado em 2005, pelo piloto espanhol Fernando Alonso. Conquistou ainda o segundo lugar na África do Sul e na França e o terceiro em Mônaco, acabando assim com 8 pódios em 12 corridas. Acabou o campeonato com 61 pontos, contra 45 do vice Jackie Stewart. A Lotus também levou o campeonato de construtores.

Em 1973, Emerson venceu mais 3 corridas, na Argentina, no Brasil e na Espanha, mas isso não impediu o título do escocês Jackie Stewart, da Tyrrell. Acabou o ano ainda com o segundo lugar em Mônaco, na Itália e no Canadá e o terceiro na África do Sul e Bélgica. Finalizou o campeonato com 55 pontos, contra 71 de Jackie Stewart, um recorde na época para um piloto, e com apenas 3 a mais que seu companheiro de equipe, o sueco Ronnie Peterson. A Lotus também levou o campeonato de construtores.

McLaren: 1974-1975

Emerson na sua McLaren, em 1974, ano do seu bicampeonato e o primeiro título da equipe

Em 1974, o piloto brasileiro trocou a Lotus pela McLaren, e, com três vitórias, no Brasil, na Bélgica e no Canadá, aliando-se com o segundo lugar na Grã-Bretanha e Itália e o terceiro na Espanha e Holanda, um total de 7 pódios em 15 corridas, sagrou-se bicampeão do mundo, com 55 pontos, o mesmo de seu vice no ano anterior, posto ocupado por Clay Regazzoni, da Ferrari, 52 pontos, e o terceiro foi Jody Scheckter, estreando pela Tyrrell após o falecimento de François Cevert e a aposentadoria de Stewart no ano anterior, com 45 pontos. A McLaren ganhou também o título de construtores, com 73 pontos. Foram os primeiros títulos de pilotos e por equipes de sua história.

Fez em 1975 a sua última temporada como piloto da McLaren, conquistando aquelas que seriam suas últimas vitórias na Fórmula 1, nos Grandes Prêmios da Argentina e da Grã-Bretanha. Encerrou o ano como vice campeão do austríaco Niki Lauda, da Ferrari, com 45 pontos contra 64,5 de Lauda e 37 do argentino Carlos Reutemann, da Brabham.

Copersucar Fittipaldi: 1976-1980

Fittipaldi com a Copersucar no GP do Brasil de 1978, onde conquistou o segundo lugar

Em 1975, fundou, em parceria com o irmão Wilson, a equipe Fittipaldi, equipe inteiramente brasileira e que contou em boa parte de sua vida com o patrocínio da cooperativa brasileira de açúcar e álcool Copersucar, nome pelo qual a equipe se tornou mais conhecida entre os brasileiros. O primeiro ano em sua própria equipe, 1976, foi frustrante, com constantes abandonos. Em 1977, Emerson conquistou alguns resultados razoáveis, como três quarto lugares, mas foi em 1978 que ocorreu o grande momento de Emerson em sua própria equipe, com o modelo F5A, ao terminar o Grande Prêmio do Brasil, no circuito de Jacarepaguá em segundo lugar, atrás apenas de Carlos Reutemann, da Ferrari. A equipe teve dois quarto e quinto lugares e um sexto lugar, fechando o ano em sétimo lugar no campeonato de construtores com 17 pontos, enquanto Emerson finalizou em décimo, empatado com Gilles Villeneuve e atrás nos critérios de desempate, com os mesmos 17 pontos.

O ano de 1979 iniciou cercado de grandes esperanças. Na corrida de abertura, o piloto terminou o GP da Argentina em sexto lugar com o chassi do ano anterior, mas quando foi para o Fittipaldi F6, ele sofreu. O carro tinha uma aparência estética muito bonita, mas com um problema muito sério: o excesso de torção do chassis. O carro era difícil de controlar, principalmente em curvas. Desentendimentos da equipe com o projetista culminaram com um péssimo desempenho do carro no campeonato, com nenhum ponto conquistado com ele. O carro era alvo de gozações, chamado de “açucareiro”, e com isso, a Copersucar retirou o apoio à equipe.

A partir de então houve um declínio técnico na equipe, e, ao final de 1980, no mesmo circuito de Watkins Glen onde vencera sua primeira prova, Emerson Fittipaldi retirou-se da Fórmula 1 como piloto. Naquele ano, ele conseguiu o último pódio, com o terceiro lugar em Long Beach, tendo o compatriota Nelson Piquet como vencedor e conquistado a primeira vitória na categoria. Em 1981, Emerson Fittipaldi exerce a função de chefe de equipe e tendo como pilotos o finlandês Keke Rosberg e o brasileiro Chico Serra, com equipamentos de segunda linha e pouco dinheiro, e nenhum ponto para a equipe no campeonato. No campeonato de 1982, após seu piloto Chico Serra marcar um ponto no Grande Prêmio da Bélgica, sua equipe fechou as portas.

Marcas e recordes

Ao longo da carreira na Fórmula 1 foram 149 Grandes Prêmios, 14 vitórias, 6 pole positions, 6 melhores voltas, com um total de 276 pontos.

Emerson Fittipaldi é o único brasileiro e um dos poucos pilotos da história da Fórmula 1 a vencer um Grande Prêmio em seu ano de estreia.

Foi durante mais de 30 anos (desde 1972) o mais jovem campeão mundial de Fórmula 1 de todos os tempos até sua marca ser batida em 2005 por Fernando Alonso que, por sua vez, foi batido por Lewis Hamilton em 2008, que foi batido por Sebastian Vettel em 2010.

Fórmula Indy

Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis de 1994, pela Penske

Emerson, quando ainda estava na Fórmula 1, chegou a realizar testes com carros da CART em circuitos ovais, mas não gostou. Com o término da sua carreira na Fórmula 1 ele mudou de ideia e logo no primeiro ano em que realizou algumas corridas por essa categoria estadunidense (1984), ganhou no oval do GP de Michigan, um dos mais difíceis do circuito.

Aos 38 anos, Emerson reafirmava seu talento e assinou com a Patrick Racing para disputar regularmente o campeonato da CART de Fórmula Indy. Em 5 anos ele obteve 6 vitórias. Em 1989, após 5 vitórias, ele se tornou o primeiro brasileiro campeão da categoria. Sua mais expressiva e histórica vitória foi a mítica 500 milhas de Indianápolis, quando liderou 158 das 200 voltas. No final, um duelo de arrepiar com Al Unser Jr. A 5 voltas do final, Little Unser ultrapassou facilmente Fittipaldi e faltando apenas duas voltas Fittipaldi se aproximou de Unser Jr, devido a um grupo de retardatários que o haviam segurado. Na curva 3 do circuito de Indianápolis o brasileiro colocou seu carro por dentro e os carros se tocaram a mais de 350 km/h. Unser Jr rodou e bateu seu carro no muro, Fittipaldi conseguiu corrigir o carro e venceu a prova sob bandeira amarela. Mesmo com o acidente Al Unser Jr. terminou em segundo lugar, pois o piloto brasileiro Raul Boesel – que chegou em terceiro – era retardatário e estava seis voltas atrás. Após a corrida foi constatado que em sua última parada para reabastecimento, ninguém na equipe Patrick se lembrou de que havia poucas voltas para o fim e colocaram muito mais combustível do que o necessário para o final da corrida. Desta maneira com o carro mais pesado Fittipaldi não conseguiu segurar a ultrapassagem de Unser Jr a poucas voltas do fim.

Roger Penske levou Emerson para seu time, a Penske, em 1990. Emerson continuou entre os melhores da categoria e em 1993 ganhou a sua segunda 500 Milhas de Indianápolis, superando o campeão da Fórmula 1 de 1992 e que seria o campeão da Indy, Nigel Mansell. Emerson comemorou tomando suco de laranja em lugar do tradicional copo de leite, como forma de promover o produto de suas fazendas. Emerson encerrou sua participação na categoria em 1996, depois de um grave acidente no oval do Michigan International Speedway.

Em sua carreira na Fórmula Indy, obteve 22 vitórias e 17 pole positions.

Vida pessoal

Emerson possui sete filhos, fruto de três casamentos. Atualmente casado com Rossana, 30 anos mais nova. Tornou-se evangélico após sofrer um acidente na Fórmula Indy em 1996 que quase o deixou tetraplégico.

Escreveu sua autobiografia, intitulada “Emerson Fittipaldi: uma Vida em Alta Velocidade”, pela Editora Objetiva. O livro consta depoimentos que Fittipaldi fez ao jornalista Peter Golenbock.

Em 2016 ficou pública a situação financeira precária do ex-corredor, com dívidas que somariam 27 milhões de Reais, por dívidas que teriam origens ainda na década de 1970 quando do projeto do carro da Copersucar/Fittipaldi. Em 2014 a justiça determinara o bloqueio de 390 mil Reais em 26 contas bancárias do campeão, mas nestas só 256,13 Reais foram encontrados.

Uma emissora de televisão do Brasil filmou a ação da justiça que apreendeu o carro Penske que fora pilotado na vitória das 500 milhas de Indianápolis, que junto ao Copersucar/Fittipaldi, que ficaram sob penhora e guardados no autódromo de Interlagos até posterior leilão. As fazendas de plantio de laranja do piloto em Araraquara deixaram de ser penhoradas por se encontrarem em estado de total abandono, havendo a possibilidade de repatriação de bens localizados no exterior. Sobre a situação a empresa “EF Marketing” emitiu nota culpando a crise financeira do Brasil como a responsável pelas dificuldades que, segundo a nota, serão superadas.

Deixe uma Resposta