Pilotos campeões: conheça a trajetória de Jim Clark

James Clark Jr., mais conhecido como Jim Clark, foi um piloto escocês, nascido em Kilmany, no dia 04 de março de 1936 e falecido em Hockenheim, na Alemanha, em 07 de abril de 1968.

Jim Clark foi o primeiro piloto nascido na Escócia a ser campeão da Fórmula 1 e foi o detentor de mais vitórias (25) durante 5 anos e de mais pole positions (33) durante 21 anos, recordes quebrados pelo seu compatriota Jackie Stewart e pelo brasileiro Ayrton Senna, respectivamente. Clark é considerado um dos monstros sagrados da categoria.

Clark é reconhecido como um dos maiores talentos do esporte a motor e um piloto bastante versátil, capaz de competir em categorias de Stock Car (NASCAR), carros de turismo (BTCC), em ralis, em corridas de resistência (24 Horas de Le Mans) e nas 500 Milhas de Indianápolis, onde ele venceu na corrida de 1965. Neste ano teve que perder o prestigiado Grande Prêmio de Mônaco para competir em Indianápolis, mas fez história ao conduzir o primeiro carro de motor central para ganhar na legendária “Brickyard”, assim como se tornar o único piloto até hoje para ganhar tanto a 500 Milhas de Indianápolis e o título da Fórmula 1 no mesmo ano. Outros pilotos, incluindo Graham Hill, Mario Andretti, Emerson Fittipaldi e Jacques Villeneuve também ganharam ambas as coroas, mas não no mesmo ano.

Início no automobilismo

O pequeno Jim teria aprendido a dirigir sozinho, observando o pai. Consta que aos 8 ele já dirigia o carro da família na pequena propriedade agrícola de seus pais. Como era muito pequeno, as pessoas não o viam ao volante, e no começo muitos pensavam que o carro andava sem qualquer motorista. Impossível saber se essa história, publicada pela revista Seleções em dezembro de 1965, é verdadeira. Mas ela é emblemática para a compreensão da figura de Clark, um garoto que começou a se interessar por corridas aos 15 anos, participando de eventos amadores de rali já aos 17.

Esse interesse cada vez maior do adolescente por carros e corridas de automóvel alarmava sua família, que considerava essa atividade um passatempo para imbecis. A consternação familiar aumentou mais ainda, quando Clark anunciou, de maneira ousada, que queria ser piloto. Era um jovem tímido, que não desobedecia aos pais, mas desta vez o amor pelas corridas falou mais alto. Segundo seu próprio depoimento, em 1964, já campeão mundial, ao querer ser piloto de corridas, passou a ser ironizado e ofendido pelas pessoas da vizinhança como o “idiota local”. Mas Jim persistiu, e aos 20 anos, em 1956, com a idade mínima exigida na época em seu país, começa a participar de competições de verdade.

Sua primeira corrida aconteceu em 3 de junho daquele ano, quando, com um Sunbeam Mk3 de sua propriedade, venceu o Stobs Camp Sprint, evento dos chamados “carros de passeio”. Clark participou, até 7 de outubro, de um total de 8 corridas, sendo que não disputou nenhuma corrida nos meses de julho e agosto. Além de seu Sunbeam, Clark correu com um DKW Sonderklasse, cedido pela equipe de Ian Scott Watson.

Naquele tempo, era comum existirem equipes “pequenas” nas mais diferentes categorias automobilísticas. A de Scott Watson era um exemplo típico. O mesmo DKW Sonderklasse foi usado por Clark em sua primeira corrida na temporada de 1957, em 30 de junho, na qual terminou em 4º lugar. A segunda corrida do piloto só aconteceria em primeiro de setembro, onde voltou a usar o seu Sunbeam. Em outubro, Clark pilota um Porsche 1600s para a equipe de Scott Watson. No total, o escocês disputou 7 eventos em 1957, vencendo dois.

Nos seus dois primeiros anos como piloto, Clark disputa 15 corridas, número pequeno perto das 42 corridas que disputou em 1958. A partir de então, até 1967, sua última temporada completa, corre sempre mais de 30 corridas por ano. O motivo dessa mudança foi que no início Clark ainda priorizava o serviço na fazenda dos pais, sentindo que seu futuro como piloto de corridas ainda estava incerto.

A pressão da família e da comunidade local era cada vez mais forte, mas um convite, no já citado ano de 1958, para correr pela equipe Border Rievers, representa um alento para as pretensões do piloto. Mais estruturada que a equipe de Scott Watson, para a qual Clark continuava competindo também, talvez principalmente por gratidão, a Border Rievers foi considerada por Clark como uma verdadeira escola. Emblemática dessa fase da carreira de Clark é sua primeira competição automobilística fora do Reino Unido, em maio de 1958, quando participa de 2 eventos num mesmo dia com 2 carros diferentes na pista de Spa-Francorchamps, sendo uma corrida pela equipe de Watson, enquanto a segunda pelo time Border Rievers.

No final do ano conhece Colin Chapman, participando em 26 de dezembro de sua primeira corrida com um modelo Lotus, o Elite, fornecido pela fábrica para o time de Ian Scott Watson. Jim ia vencer, quando seu carro foi atingido por um concorrente. Clark acabou em segundo, atrás do próprio Chapman, que pilotava outro Elite. Pilotando o mesmo carro, quase vence na sua classe, em sua primeira participação nas 24 horas de Le Mans, em 1959. Clark fez dupla com o experiente John Whitmore, que após a corrida declarou: “Pensei que iria ensiná-lo, mas fui eu que aprendi”. Clark e Whitmore correram na categoria GT 1500. Poderiam ter vencido em sua classe, mas uma série de contratempos determinou o segundo lugar entre os carros da GT 1500, além de um décimo lugar na classificação geral.

No final do ano disputa uma corrida de Fórmula Júnior (hoje Fórmula 3), com um Gemini. Foi sua primeira corrida com um carro de Fórmula (apesar de antes ter participado de eventos chamados “Formula Libre” ele disputou os mesmos com carros turismo ou esporte, dependendo do evento: às vezes participava de mais de um evento de uma vez, com carros diferentes). Após 50 vitórias em Ralis, subidas de montanha, speed trials, corridas de carros esporte e carros turismo, Clark começa a correr nas categorias monoposto (ou “de Fórmula”), sem deixar de participar de outros tipos de competição automobilística.

Fórmula 1

Temporada de 1960

Clark disputara sua primeira corrida de monoposto, na categoria Fórmula Junior, em 26 de dezembro de 1959, por acaso, na pista de Brands Hatch. Correndo numa prova de GT com um Elite para a equipe de Watson, aceitou correr a prova de monoposto com um Gemini. Mesmo abandonando por problemas mecânicos (o mesmo acontecendo no outro evento que participou naquele dia), Clark impressionou, em sua primeira corrida num carro monoposto.

Em 1960 Clark disputou e venceu 2 campeonatos ingleses dessa mesma Formula Junior (equivalente da atual F-3), um deles empatado em pontos com seu companheiro Taylor, que já tinha experiência nesse tipo de competição, além de estar mais focado na categoria, mesmo porque Jim, simultaneamente, já participava de eventos de Fórmula 2, alcançando a primeira vitória na categoria em Brands Hatch, no mês de agosto e Fórmula 1. Nesse mesmo ano, fazendo dupla com o vencedor absoluto do ano anterior, Roy Salvadori e pilotando um Aston Martin superado, Clark ficou com o terceiro lugar absoluto nas 24 horas de Le Mans. Nesse primeiro ano de aprendizado na Fórmula 1 o nível do desempenho de Clark foi considerado muito bom em relação aos demais pilotos e ótimo para um estreante.

Mas o piloto e aqueles que o conheciam sabiam que ele rendeu menos do que poderia, mesmo sendo debutante. Entre os pilotos que corriam de Lotus, incluindo os particulares (teoricamente não havia limite de carros por equipe), Clark, inicialmente, largava sempre em último, só aos poucos se tornaria o piloto mais rápido da Lotus (salvo eventualidades), posição conseguida algumas vezes em 1961 e consolidada no ano seguinte. Por outro lado, desde o início Jim se mostrava extremamente técnico e inteligente para estabelecer um ritmo de corrida, poupar o carro quando necessário (e ele aperfeiçoaria estas e outras características no decorrer de sua carreira).

Na Fórmula Junior, usou o mesmo carro, mas equipado com um motor Ford, de menor potência. Era um carro extremamente difícil de dirigir e extremamente frágil. Seu “debut” foi no GP da Holanda, por insistência de Chapman. Clark tinha pouca experiência dirigindo um carro de Fórmula 1, mas nenhuma em corrida. Chegou a ocupar uma notável 4ª posição, quando o seu carro quebrou. O GP da Bélgica de 1960 foi apenas a segunda corrida de Clark no mundial, sendo a segunda vez que corria em Spa, mas a primeira com um Fórmula. Nos treinos todos os pilotos da Lotus têm problemas, alguns se acidentam gravemente, inclusive o grande Stirling Moss, que ficaria de fora de várias corridas por sofrer um acidente gravíssimo, quase fatal. Na corrida morre um dos companheiros de equipe de Clark, Alan Stacey (1 ano mais novo do que Jim, mas com 1 ano a mais de experiência na Fórmula 1). Os acidentes foram por causas mecânicas, somadas às características que a perigosa pista de Spa-Francorchamps tinha na época. Era um traçado mais longo e mais difícil do que o atual. Jim Clark, mesmo quase perdendo o controle algumas vezes, apesar de abalado com os acidentes de seus companheiros, levou o carro até um excelente 5º lugar, marcando seus primeiros pontos no Campeonato.

Temporada de 1961

Em 1961 além de disputar a temporada de F1, participa de grandes prêmios extra-campeonato e de corridas de carros esportivos. Não foram disputadas corridas de Fórmula 2 naquele ano, a categoria só voltaria a existir em 1964. No mundial, Clark não tinha carro para brigar por vitórias e títulos, mas mesmo com sua pouca experiência, seu talento era reconhecido. As primeiras provas de Fórmula 1 do piloto naquele ano, foram eventos fora do campeonato, disputados ainda com um modelo 18. Entre essas, a primeira vitória na categoria, no GP de Pau.

Pouco mais de um mês depois, o mundial começou, com o GP de Mônaco, onde Chapman resolve estrear um novo modelo, o Lotus 21. Jim não participara da corrida no ano anterior, embora tenha disputado a corrida de Fórmula Junior de Monte Carlo, onde ia vencer mas por contratempos acabou em 7º. Nos treinos do GP de Mônaco de 1961, Clark levou o modelo 21 ao terceiro lugar no grid, sua melhor posição de largada até então. Ele assumiu a liderança na largada, mas algumas centenas de metros depois perdeu a posição. Esse primeiro lampejo de liderança numa corrida sequer foi computado nas estatísticas. Mas Clark fez excelente corrida, brigando pelas primeiras posições até abandonar, a 10 voltas para o final.

Na Holanda brigou pelo segundo lugar com a Scuderia Ferrari de Phil Hill, chegando a ultrapassar o piloto americano algumas vezes apesar de ter um carro muito inferior. Quase ao final da prova, percebendo que não teria condições de terminar na frente de P. Hill, Clark o deixou passar. No final da prova teve dura disputa com Stirling Moss, que também corria com um Lotus. Pela primeira vez, Clark conseguiu chegar na frente de Moss numa prova do mundial. Foi terceiro, poucos segundos à frente de Stirling.

Correndo pela 3ª vez em Le Mans, pela segunda com o mesmo modelo de Aston Martin (desta vez em dupla com Ron Flockhart), Clark faz boa participação, mas dessa vez não consegue terminar a corrida, pois seu carro apresentou problemas de bateria.

Na penúltima corrida do mundial de Fórmula 1 daquele ano, em Monza, Clark, correndo pela primeira vez na pista (por ordem da equipe, ele ficou de fora do Grande Prêmio da Itália do ano anterior), fez uma largada brilhante, mas chocou-se com o Ferrari 156 de Wolfgang von Trips, líder do campeonato e grande favorito ao título, que largara na pole position. O piloto alemão e 14 espectadores morreram. Clark sentiu que Von Trips era o responsável pelo acidente, mas preferiu ficar quieto. Quase até o final de sua vida, o escocês foi responsabilizado pelo acidente.

Temporada de 1962

Clark no GP da Alemanha de 1962

Em 1962, Chapman lançou, pelas mãos de Clark o revolucionário Lotus 25, na primeira corrida do mundial, disputada nos Países Baixos. O modelo 25 se tornaria o primeiro carro de chassi monocoque bem sucedido. Antes do campeonato, porém, a Lotus forneceu o modelo 24 a Clark (e vendeu o mesmo carro para particulares). Com o Lotus 24 Clark fez algumas corridas em 1962, saindo-se muito bem. Tudo indicava que seria com esse carro que a equipe brigaria por seu primeiro título. Mas, surpreendendo a todos, no primeiro GP do mundial de 1962, a equipe deu o novo e revolucionário 25 para Clark competir, enquanto Taylor, companheiro do escocês, corria com o já relativamente bem testado 24, um carro “tradicional”. Naquela etapa do campeonato a opção dada a Taylor se mostrou mais vantajosa, em termos de resultado final: Com o quase não testado 25, Clark largou em 3º, atrás de Graham Hill, da BRM e do Lola de John Surtees. Na corrida Clark liderou por algumas voltas, parecendo que iria dominar a prova, mas teve problemas na embreagem. Por mais 60 voltas Clark tentou levar um carro problemático até o final, desistindo definitivamente a 10 voltas do término. Taylor, com o Lotus 24 foi segundo, atrás do vencedor Graham Hill, que competia com o modelo P57, que vinha sendo desenvolvido desde o ano anterior. Um carro mais fácil de dirigir, mais confiável e, vez ou outra, até mais rápido que o Lotus 25. O ano de Clark foi marcado por atuações mágicas, pelo desenvolvimento incrível do 25 e por uma série de problemas mecânicos. Jim chegou à última corrida só precisando de uma vitória para ser campeão. Partiu na frente e dominava a prova, quando um vazamento de óleo deu a vitória e o título (ambos com todos os méritos, pelo trabalho duro e o oportunismo) para Hill. Os mecânicos haviam se esquecido de apertar um parafuso. É possível que o mais notável do desempenho de Jim Clark em 1962, visto de uma maneira ampla e com certo distanciamento histórico, seja o fato de um piloto que era menos experiente que o talentoso e esforçado Hill, e que estava pilotando um carro que não só era menos desenvolvido que o da BRM, como era um conceito totalmente novo, e portanto na teoria cheio de falhas a serem sanadas antes de se tornar competitivamente viável, chegou até a última corrida com boas chances de ser campeão, só perdendo por uma fatalidade e vencendo de forma tão absoluta no ano seguinte.

Temporada de 1963

Em 1963 a história foi outra: Clark se tornou o então mais jovem campeão, aos 27 anos, além de bater ou igualar muitos recordes de uma temporada: 7 vitórias, 7 poles, 6 voltas mais rápidas (igualando Ascari em 1952), 73 pontos absolutos (54 válidos), 9 pódios (até então recorde, e também recorde de pódios consecutivos). O desempenho pode fazer parecer que o Lotus 25 era um carro muito superior em 1963. Impressão falsa. Ele foi uma máquina “um pouco melhor” que a concorrência no balanço do ano. Clark é quem fazia a diferença.

Na abertura do campeonato, em Monte Carlo, Clark perdeu a liderança para Graham Hill na largada, mas recuperou 18 voltas depois. O “Escocês voador” liderou por 60 voltas, até a caixa de câmbio do carro quebrar. Após o GP de estreia, Clark venceu as 4 corridas seguintes consecutivamente, e mais impressionante, com o mesmo jogo de pneus. Na Alemanha, usando pelo quinto GP os mesmos pneus, e com problemas no motor, chegou em segundo com muita dificuldade.

Na Itália, aonde ainda era massacrado pela opinião pública, venceu a dura batalha com a Ferrari de Surtees, a BRM de Hill e a Brabham de Gurney, que nessa corrida tinham carros nitidamente melhores, sagrando-se assim, campeão por antecipação.

Nos EUA, problemas com a bateria na largada, fizeram Clark perder mais de uma volta em relação a todos os concorrentes já no começo da prova. Ele fez uma corrida de recuperação e chegou em terceiro.

Nesse ano, Clark estreou nas 500 Milhas de Indianápolis. O Lotus de motor traseiro foi motivo de piada antes da corrida. Mas quase venceu, chegando em segundo lugar. Em agosto, participou de outra etapa da Fórmula Indy, em Milwalkee, aonde chegou em primeiro após dura batalha com Foyt e Gurney.

Temporada de 1964

Jim Clark no pit do GP da Alemanha de 1964

Parecia que o campeonato de 1964 seria igual ao de 1963: Clark dominava o GP de Mônaco, abertura da temporada, quando um pneu furado o fez perder posições. O escocês fez uma genial corrida de recuperação e estava em segundo quando, a quatro voltas do final, o motor de seu Lotus estourou. Mesmo assim, ficou em quarto. Na sequência venceu na Holanda e na Bélgica, onde largou em sexto por problemas com o câmbio nos treinos: Clark, apesar de não ter carro para acompanhar seus principais concorrentes na prova (Dan Gurney e Graham Hill, que estavam mais rápidos pararam por pane seca. John Surtees, e Bruce McLaren que teve problemas com combustível no final da corrida e ainda assim chegou a apenas 3,5 segundos de Clark), soube poupar combustível, assumindo a liderança na última volta (foi a única que vez que ele não liderou o maior número de voltas de um GP ao qual venceu). Neste GP da Bélgica, o combustível de Clark acabou na volta de comemoração da vitória e Jim Clark chegou a metade do campeonato como líder. Chapman resolveu então estrear o Lotus 33 num GP válido para o mundial, a primeira corrida da segunda metade (6ª etapa do campeonato, na Alemanha). O carro havia sido pouco testado, participara das 200 milhas de Aintree alguns meses antes, mas ficara seriamente danificado, por causa de um acidente causado por problema mecânico. Jim achava que era prematuro usar o 33, além de se sentir mais a vontade com seu velho e leal Lotus 25. Mesmo assim Colin manteve sua decisão. No GP da Alemanha, Clark passou a usar o modelo 33 e com muito esforço largou em segundo e manteve essa posição até abandonar por problemas mecânicos. Algo semelhante aconteceu nas corridas seguintes, Áustria e Itália. Em nenhum momento dessas 3 provas, o escocês teve chances de vitória. Mas foi, dentro das limitações do carro, brilhante, fazendo o máximo que podia. O 33 era aperfeiçoado e uma luz no fim do túnel se abria. Nos GP dos Estados Unidos, penúltima etapa, Clark saiu na pole e, após certo tempo na liderança, um contratempo o obrigou a fazer uma corrida de recuperação. Estava em segundo quando a bomba de gasolina falhou, a 7 voltas do fim. Na última corrida, saiu na pole e ia vencer a prova e o campeonato, quando a 2 voltas do fim o motor ficou sem óleo e explodiu. Ele chegou em quinto na prova, ficando em terceiro na classificação geral. Soube-se depois que foi um erro no cálculo da quantidade de óleo colocado no carro.

Mesmo com a perda do título o ano não foi de todo improdutivo: Clark partiu na pole em Indianápolis (aonde a grande maioria dos competidores usava agora carros de motor traseiro) e teria vencido a corrida não fosse a quebra da suspensão. O escocês venceu a BTCC, campeonato Inglês de Turismo, uma espécie de “Stock Car inglesa” numa tradução livre.

Ao todo em 1964, Jim Clark participou de 47 corridas. Ao final do ano, Clark recebeu, das mãos da Rainha Elisabeth II a OBE.

Temporada de 1965

Clark observando sua Lotus no GP da Alemanha de 1965

Na temporada de 1965, Clark participou pela primeira vez da Copa da Tasmânia, campeonato de 8 corridas disputadas na Austrália e Nova Zelândia (metade em cada país) em janeiro e fevereiro. Era uma competição automobilística muito importante na época. Jim foi campeão, e ainda foi campeão do campeonato francês de Fórmula 2, venceu corridas importantes de carros esportivos, turismo e outras competições. Teve um desempenho ótimo em corridas importantes que acabou não vencendo, como o Tourist Trophy, (válido para o mundial de marcas) a corrida dos campeões e as 200 milhas de Riverside (conhecida também como Times Mirror GP), mas, principalmente, conquistou seu segundo título na Fórmula 1, com 6 vitórias em 9 corridas disputadas (de um total de 10). Para correr em Indianápolis, Clark inclusive abriu mão de participar do GP de Mônaco, na mesma data. Apesar dos resultados não mostrarem, a disputa foi dura com a BRM e, em algumas corridas, com a Brabham e a Ferrari. Clark ganhou as 6 primeiras corridas que disputou consecutivamente. Com a ausência na prova de Monte Carlo, a segunda etapa, contabilizamos 5 vitórias consecutivas “oficiais” para o escocês, na época a segunda melhor marca do mundo, igualando a de Jack Brabham em 1960 com um Cooper e só superada pelas 7 (9, se for descontada as 500 milhas de Indianápolis de 1953, critério utilizado por alguns) de Ascari, em 1952-1953, com uma Ferrari. Sendo que as marcas de Ascari e Brabham foram obtidas com um carro cuja superioridade em relação aos concorrentes era maior do que o Lotus 33 de 1965. No GP da Inglaterra, Clark obteve sua 4ª vitória seguida (então outro recorde), e enfrentou sérios problemas com a pressão do óleo.

Após conquistar o título na 7ª etapa (a sua 6ª vitória no ano) Clark e a Lotus relaxaram nas corridas finais. Ainda brigou com as BRMs de Hill e Stewart na prova seguinte, na Itália, se revezando diversas vezes na liderança com esses 2 pilotos, antes de abandonar. No México, etapa final, fez a pole. Mas abandonou nas voltas iniciais e em nenhum momento ameaçou a vitória de ponta a ponta da Honda de Richie Ginther. Em 1965, Clark foi primeiro ou segundo no grid em todas as corridas que participou, totalizando 9 vezes.

Clark tirou o mês de maio inteiro para se preparar para Indianápolis. E ele obteve uma das vitórias mais expressivas da história da famosa corrida, liderando 190 das 200 voltas e vencendo com praticamente 2 minutos de vantagem. A era dos carros com motor traseiro estava definitivamente estabelecida na Fórmula Indy, e Clark teve grande parte do mérito, que se torna mais expressivo se for levado em conta às pouquíssimas vezes que ele competiu na categoria.

No total Clark venceu expressivas 23 corridas em 1965, na Europa, América do Norte, Oceania e África.

Pouquíssimos esportistas chegam a ser capa da famosa revista Time, e a grande maioria é nascida nos Estados Unidos. Dentro os esportistas apenas 3 foram automobilistas, e Clark foi o único estrangeiro. O escocês foi capa numa edição de 1965. Além do ritmo intenso de trabalho em corridas, treinos e testes, Clark também tinha muitos compromissos sociais, além de alguns comerciais, cujo número cresceria nos anos seguintes.

Temporada de 1966

Em 1966 começou uma “nova” Fórmula 1, com motores de 3 litros. A Lotus não conseguiu fazer um carro competitivo. Clark sofreu 2 acidentes, sendo 1 grave: nos treinos para o GP da França, quando foi atingido no rosto por um pássaro e um no GP da Alemanha. Mesmo assim, teve quase sempre bons desempenhos, sendo alguns brilhantes, como no GP da Inglaterra, realizado duas semanas depois do acidente na França. Clark ainda estava seriamente machucado. O carro era ruim e o motor ultrapassado. Choveu antes da corrida deixando a pista mais difícil e perigosa. A partir de um determinado momento da prova, Clark ficou sem freios e mesmo assim levou seu Lotus a um quarto lugar. Outra atuação brilhante aconteceu na Holanda, aonde durante a maior parte da corrida Clark liderou, e mesmo quando estava atrás de Jack Brabham, deu trabalho para o australiano por algum tempo. Jim Clark se tornou o único piloto a vencer um GP do Mundial com o motor BRM de 16 cilindros, nos Estados Unidos.

Na Copa da Tasmânia, Clark foi terceiro. Nas 500 milhas de Indianápolis, conquistou um brilhante segundo lugar. Para alguns foi uma atuação superior, pelas circunstâncias, à vitória do ano anterior. Uma semana após o GP dos EUA, Clark estava no Japão para participar de uma corrida de Fórmula Indy fora do campeonato. Mas por uma série de problemas não largou.

Ainda em 1966 Jim voltou, após quase 10 anos, a disputar um rali, o do RAC. Teve um ótimo desempenho antes do carro quebrar.

Foi nesse ano que Clark disputou pela última vez eventos na Inglaterra, com exceção do GP do Mundial de Fórmula 1. Problemas com impostos fizeram com que o escocês fosse morar na Suíça.

Temporada de 1967

Clark com sua Lotus na sua vitória no GP dos EUA de 1967

A temporada de 1967 começou com um título na Copa da Tasmânia, mesmo utilizando um ultrapassado Lotus 33, adaptado para a categoria, Clark em 8 corridas ganhou 5 e foi 3 vezes segundo colocado. O motor que a Ford (em associação com a Cosworth) desenvolvia para a Lotus desde o ano anterior, ficou pronto para terceira etapa, na Holanda. O Cosworth DFV se tornou o mais bem sucedido motor na história da Fórmula 1, ganhando inclusive em sua estreia.

Problemas no desenvolvimento do carro tiraram o título de Clark. Tudo levava a crer que no ano seguinte Jim Clark voltaria a conquistar o título, já que terminou o ano com vitória nas duas corridas do ano, disputadas nos Estados Unidos e no México. Terminou o ano ainda na terceira colocação do campeonato.

Temporada de 1968

Colin Chapman, para não “acabar com a Fórmula 1”, concordou em vender o motor para outras equipes. No GP da África do Sul de 1968, Jim Clark se tornou o maior vencedor de GPs válidos para o Mundial de Fórmula 1. O escocês conquistou seu terceiro título na Copa da Tasmânia, desta vez com um carro de Fórmula 2 adaptado, o Lotus 48. O intervalo entre a derradeira vitória de Clark no Mundial, na África do Sul e a primeira das 8 etapas da Copa da Tasmânia em Pukekohe, na Nova Zelândia, foi de apenas 5 dias.

Morte

 

Memorial dedicado a Jim Clark em Hockenheim

Estátua de Jim Clark na sua cidade natal, Kilmany, na Escócia

Tudo levava a crer que viria um terceiro título de Fórmula 1 e uma segunda vitória em Indianápolis, pelo ótimo conjunto construído pela Lotus. Prova disso que Graham Hill faturou o seu bicampeonato e a equipe o troféu de construtores no final do ano.

Clark detinha na época quase todos os recordes da Fórmula 1 e estava muito perto de alcançar o de pontos e o de frequências ao pódio, então nas mãos de Fangio.

Mas em 7 de abril de 1968, durante uma corrida da Fórmula 2 em Hockenheim, Alemanha, Jim Clark morreu quando seu carro saiu do traçado e bateu em algumas árvores. A causa do acidente nunca foi definitivamente identificada, mas investigadores concluíram que um pneu traseiro vazio foi a causa mais provável. A morte do escocês foi um grande golpe para a Lotus e para a Fórmula 1. Clark permaneceu fiel à equipe durante quase toda a sua carreira na Fórmula 1. Foi ele quem tornou famosa a equipe, ajudando o time de Colin Chapman a estabelecer os alicerces na Fórmula 1 moderna.

Legado

Em sua carreira na Fórmula 1, Clark venceu 25 GPs e conseguiu 33 pole positions. Clark diferiu da atual geração de pilotos de Fórmula 1 devido à sua habilidade de guiar e vencer em todos os tipos de carro. Seu desempenho no Lotus Cortina em stock cars foi excelente, correu na Nascar americana (para a equipe Holman e Moody), lutando com os desajeitados carros esportivos da Lotus, incluindo os tipo 30 e 40 e dirigindo os carros Lotus da Indy em corridas de subida a montanha na Suíça. A participação de Clark nessas provas suíças, que eram competições reais, foi apenas para exibição, mas dirigir um Fórmula Indy em uma “pista” totalmente inadequada e com desempenho convincente não é pouca coisa. Clark sobressaiu em uma época quando pilotar de forma absolutamente genial era mais importante que contratos comerciais e proteção ao piloto. Piloto rápido, mas ao mesmo tempo frio, sabia quando acelerar. Estrategista brilhante, se adaptava a situações adversas. Errava muito pouco, bem como sabia poupar o equipamento, que, aliás, gastava geralmente menos do que outros pilotos com o mesmo carro no mesmo ritmo. Ao contrário do que muitos dizem hoje, foi um brilhante acertador de carros.

Seu recorde de vitórias foi batido 5 anos após a sua morte, por seu compatriota Jackie Stewart. Algumas das marcas mais significativas de Clark só foram superadas ou ao menos igualadas nos anos 1980, por pilotos, que além de grandes gênios, corriam em condições muito mais favoráveis.

O total de pontos que ele obteve em 1963, 73 (54 válidos) durou até 1985, quando Alain Prost fez 76. Note-se que o campeonato de 1963 teve 10 corridas, enquanto o de 1985 teve 16. Que os carros de meados dos anos 1980, embora não possam ser comparados aos do finalzinho do século XX e início do XXI, já eram, em comparação aos dos anos 1960, muito mais duráveis e seguros. Além disso, os pilotos nos anos 1980 se dedicavam muito mais a Fórmula 1, não se dividindo tanto em outras categorias, testavam muito mais, as equipes tinham muito mais recursos, e até fatores indiretos como por exemplo a evolução da medicina facilitaram a vida dos pilotos. O acidente que nos anos 1960 poderia ser fatal, deixar com sequelas ou requerer longa recuperação, nos anos 1980 poderia ser superado de forma muito mais eficiente e em tempo muito mais rápido.

O recorde absoluto de voltas mais rápidas foi quebrado por Prost em 1988, no mesmo ano em que Ayrton Senna quebrou o recorde de vitórias em um mesmo campeonato. O mesmo Senna, em 1989, deixou para trás o escocês em poles, enquanto Prost nesse mesmo ano chegava ao recorde de voltas na liderança.

Por uma série de circunstâncias, toma-se a noção que os números de Clark (que de forma alguma eram ruins), mesmo antes de seu acidente poderiam ser mais impressionantes.

Por outro lado, os números que Jim obteve, a durabilidade de suas marcas, se importantes, não foram o principal legado de Clark, aliás, dentre tantas contribuições, algumas inconscientes, fica difícil destacar uma como a mais importante. É preciso sempre lembrar que o escocês estreou no Mundial de Fórmula 1 menos de 6 meses depois de sentar-se pela primeira vez num Fórmula 3, e sem nunca se quer ter guiado Karts (excelente escola para pilotos de Fórmula), treinado em simuladores (que nem existiam), nem qualquer vantagem do tipo.

Clark influenciou, como piloto e pessoa, direta ou indiretamente, automobilistas de muitas gerações embora nem todos os seus “pupilos” tivessem as suas características. Clark teve alguma influência inclusive em alguns pilotos mais velhos e experientes, como Graham Hill e Jack Brabham. Jackie Stewart, que correu com Clark, e Nigel Mansell que, então adolescente era (como é até hoje) seu grande fã são apenas dois exemplos. Jim era, enfim admirado e respeitado por todos.

Quando Clark morreu, Chris Amon disse: “Se isso pôde acontecer a ele, que chance o resto de nós tem?”

Ele foi introduzido no International Motorsports Hall of Fame em 1990, ano da fundação da entidade. Em 2002 foi eleito membro do Scotish Hall of Fame. Também nesse caso, Clark foi “admitido” como membro no ano da criação da instituição.

Em 2011 recebeu uma homenagem feita pela equipe KV Racing, quando assinou uma semana antes do grande prêmio de Saint Petersburg com Tony Kanaan, que honrou as cores verde e amarelo e o número 82 que foi utilizada por Jim Clark para vencer as 500 Milhas de Indianápolis de 1965.

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