A História dos Grandes Prêmios – França 1953

O tão esperado duelo entre Ferrari e Maserati aconteceu na longas retas de Reims, durante a disputa do GP da França. E coube a Mike Hawthorn a vitória neste GP, após grande duelo contra Juan Manuel Fangio.

A largada para o GP da França, quinta etapa

As duas corridas disputas em Zandvoort e Spa-Francorchamps havia deixado uma boa dose de expectativa no ar por conta do desempenho dos Maserati frente aos Ferrari. É claro que as falhas dos Maserati nestas duas corridas – especialmente em Spa – deram uma bela ajuda para que a Ferrari e, principalmente Ascari, continuassem seus domínios. Porém a aproximação dos A6GCM da Maserati, principalmente pelas mãos de “Hermanos” José Froilan Gonzalez e Juan Manuel Fangio, fazia criar um cenário onde a disputa contra o esquadrão ferrarista pelo restante do campeonato fosse visceral. O circuito de Reims, onde foi disputado o GP da França daquele ano, com seu layout de circuito super veloz, era o palco onde as duas co-irmãs italianas mediriam as suas forças. O circuito de Reims, em relação a prova que foi disputada ali em 1951, recebeu alterações: em 1951 o traçado original de 7.816km subiu para 8.347km, sendo que o circuito original passava por dentro da cidade de Guex e agora passava apenas ao lado. O final de semana foi dividido em conjunto com as 12 Horas de Reims, que não contava pontos para o Mundial de Sportscar.

A Gordini levou quatro T16 que foram pilotados por Jean Behra, Maurice Trintignant, Harry Schell e Roberto Miéres, que voltou ao grid após ter disputado apenas o GP da Argentina em janeiro. Ferrari continuou com seu famoso escalão formado por Alberto Ascari, Luigi Villoresi, Giuseppe Farina e Mike Hawthorn. Os italianos procuraram trazer modificações para o motor do Ferrari 500 para que não sofressem com o alto consumo do circuito francês – um outro Ferrari 500 foi inscrito pela Ecurie Rosier e pilotado por Louis Rosier. A Maserati não levou modificações para o seu A6GCM, mas a grande novidade era a efetivação de Onofre Marimon na equipe e o retorno de Felice Bonetto após não ter corrido na Bélgica, enquanto que  Jose Froilan Gonzalez e Juan Manuel Fngio completavam a equipe e Emmanuel de Graffenried alinhou seu Maserati particular. A HWM contou com os trabalhos de seus dois pilotos regulares Lance Macklin e Peter Collins, enquanto que o piloto local Yves Giraud-Canbatous juntou-se a eles apenas neste GP para a condução dos três HWM 53. O veterano de guerra e maior vencedor da prova francesa estava de volta ao GP: Louis Chiron, que venceu por cinco vezes a corrida (1931, 34, 37, 47 e 49), alinhava um OSCA assim como Elie Bayol. Stirling Moss havia saído da Connaugth para enfim pilotar para a Cooper Car Company, onde esteve ao volante de Cooper T23 de motor Alta, diferente dos outros dois que foram pilotados por Bob Gerard e Ken Wharton que eram modelos T23, mas com motor Bristol. A Connaught teve três carros nessa prova: os dois oficiais pilotados por Roy Salvadori e pelo Principe Bira, chamado para substituir Moss. O terceiro Connaught foi inscrito de forma particular pela Ecurie Belge de Jonnhy Claes, que havia pilotado na Bélgica para a Maserati.

Ascari é o pole em Reims

A classificação foi um prenúncio do que poderia ser a corrida, com Fangio e Ascari duelando fortemente pela pole. Porém, o italiano da Ferrari acabou ganhando a disputa pela posição de honra e garantindo mais uma pole, com Felice Bonetto em segundo – neste caso não foi o italiano da Maserati quem colocou o carro na segunda posição, mas sim Gonzalez que conseguiu uma bela volta e ficou apenas 0.3 do tempo de Ascari e, curiosamente, o argentino acabou sendo o quinto na classificação com 1.2 segundos de desvantagem para o tempo de Ascari. A terceira posição foi ocupada por Villoresi, a quarta por Fangio, em quinto Gonzalez e em sexto Farina. A disputa foi tão ferrenha entre Ferrari e Maserati que a diferença entre Ascari e o sexto Giuseppe Farina foi de 1.3 segundos. Mike Hawthorn e Onofre Marimon apareciam em sétimo e oitavo respectivamente, mas com uma diferença de mais de dois segundos para os que iam à frente. De se destacar nesta qualificação a Gordini, que marcou tempo apenas com Harry Schell (20º) enquanto que os demais não foram à pista por estarem envolvidos nas atividades das 12 Horas de Reims, mas mesmo assim ainda alinharam seus carros nas últimas colocações.

Duelo espetacular e primeira vitória para Mike Hawthorn

O grande duelo: Hawthorn (#16) e Fangio (#18) duelaram por trinta voltas e doze trocas de liderança, onde o inglês da Ferrari levou a melhor e venceu seu primeiro GP.

O dia da corrida em Reims estava quente, mas nos bastidores estava ainda mais fervoroso e as tensões vinham do lado ferrarista. A desclassificação do principal carro da equipe durante as 12 Horas de Reims, pilotado por Umberto Maglioli/ Piero Carini, causou uma fúria em Enzo Ferrari – que ficara em Modena –  que soubera do acontecido e imediatamente ordenou para o então diretor da equipe, Nello Ugolini, que a equipe fosse retirada do Grande Prêmio. Foram horas de conversas para que as coisas apaziguassem, até que chegaram num acordo e a Ferrari garantiu a sua participação naquela quinta etapa.

Jose Froilan Gonzalez conseguiu uma bela largada e já era o primeiro ao final da grande reta e para ele foi importante essa saída, afinal estava numa estratégia de pouco combustível para que pudesse lhe dar a maior vantagem de velocidade nas retas. Enquanto que Gonzalez procurava se distanciar, Ascari, Villoresi, Bonetto, Hawthorn, Fangio, Farina e Marimon se seguiam bem mais próximos, mas sem se ameaçarem.

Logo a Maserati ficaria sem um carro naquela batalha contra a Ferrari: Bonetto rodou e caiu para décimo, deixando o trio da Ferrari bem postado com Ascari, Villoresi, Hawthorn e depois a Maserati de Fangio logo a frente de Farina. Problemas mecânicos eliminaram alguns pilotos do meio do pelotão, como foram os casos de Macklin, Trintignant, Wharton, Bayol e Bira. Os Gordinis, que não haviam treinado, conseguiram avançar bem na classificação, mas perderam os carro de Mieres e Schell por problemas de motor.

Gonzalez continuava bem na liderança, mas precisou parar nos boxes na 29ª volta para reabastecimento. O grande problema é que não havia conseguido a diferença que esperava para, pelo menos, voltar no meio do bolo – o piloto argentino conseguiu apenas 27 segundos de vantagem sobre Ascari. Na mesma volta que Froilan Gonzalez foi aos boxes e voltou em sexto, Fangio chegou a liderança após despachar as Ferraris que iam a sua frente, mas o desafio viria de quem menos se esperava: Mike Hawthorn, nas ultimas etapas, tinha sido o piloto Ferrari mais lento – entre os oficiais – mas naquela etapa de Reims o piloto inglês estava em outro nível quando acompanhou o passo do argentino e subiu para segundo.

A tomada de liderança por parte de Fangio e a segunda colocação de Hawthorn acabou por oferecer ao público presente um espetáculo da melhor qualidade: os dois pilotos se entregaram a uma batalha velocidade e audácia pura, onde as trocas de liderança foram o ponto alto. Nem Fangio e muito menos Hawthorn, conseguiam abrir grande diferença entre eles, e isso foi importante para que o jogo de vácuo entre o Maserati e Ferrari permitisse aquela luta visceral que tanto se ensaiava desde o GP holandês. Fangio e Hawthorn se revezaram na liderança pela liderança doze vezes e sempre com os dois fazendo as retas de Reims lado a lado e se olhando constantemente, procurando saber quem frearia por último nas curvas para assumir a liderança. Se o Maserati de Fangio era veloz nas retas, o Ferrari de Hawthorn compensava nas curvas e isso o deixava igualar no restante do circuito. Enquanto que a liderança era disputada de forma titânica, atrás outro duelo entre Ferrari e Maserati acontecia: Ascari continuava em terceiro, sem ter muitas chances de chegar nos dois ponteiros, mas já estava se preparando para duelar com Gonzalez que estava em grande forma após subir de sexto para quarto. Dois duelos fenomenais pelas quatro primeiras posições entre as duas melhores equipes do campeonato.

Mas as derradeiras voltas definiram a contenda: Mike Hawthorn passou Fangio na 57ª volta e conseguiu suportar bem a pressão do argentino para vencer a sua primeira corrida na Fórmula-1, tornando-se o primeiro britânico a conseguir o tal feito e o primeiro a vencer um GP desde a conquista de Richard Seaman no GP da Bélgica de 1938. Gonzalez venceu o duelo contra Ascari e ficou em terceiro, deixando o então vencedor das últimas nove corridas em quarto – a última vez que Ascari ficou de fora do pódio havia sido na prova de abertura do mundial de 1952 na Suiça. A quinta colocação ficou para Giuseppe Farina. Onofre Marimon teve chances de conseguir uma boa pontuação quando estava no encalço dos Ferrari, mas uma pedra jogada pelo carro de Ascari furou o radiador de seu Maserati e obrigou o argentino abandonar. Bonetto abandonou com motor estourado e a Gordini teve apenas um carro chegando ai final, que foi de Jean Behra.

Esta corrida ficou conhecida como a “Corrida do Século” devido ao grande duelo que se fez neste GP entre Ferrari e Maserati, e principalmente entre Hawthorn e Fangio.

A classificação do campeonato após este GP da França: 1º Alberto Ascari 28 pontos; 2º Mike Hawthorn 14 pontos; 3º Luigi Villoresi 13 pontos; 4º Jose Froilan Gonzalez 11 pontos; 5º Bill Vukovich 9 pontos.

Resultado Final –

Grande Prêmio da França de 1953 – 5ª Etapa

Circuito de Reims – 5 de Julho – 60 voltas

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