José Carlos Pace: a estrela perdida

O autódromo de Interlagos tem como nome oficial “Autódromo José Carlos Pace”. Muitos sabem que se trata de uma homenagem a um piloto brasileiro da F1, mas a história completa que levou ao batismo pode ser desconhecida. Por isso, hoje trazemos um pouco da história desse piloto, que pelo seu talento, era considerado um provável campeão mundial. Porém, sua vida terminou com um acidente aéreo em 1977, tornando Pace a estrela perdida do Brasil na Fórmula 1.

A tenra paixão

Em 6 de outubro de 1944, em São Paulo capital, nascia o garoto que viria a ser apelidado de “Moco” (ou Môco). Isso porque vivia fazendo ouvidos moucos, ou seja, só respondia o que lhe interessava. Essa é apenas uma versão da origem do apelido. O que decerto era consenso era sua sua fama de largado e relaxado, a qual não abandonou completamente durante sua vida. Amigo de infância dos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi, se divertia criando e descendo ladeiras com seus carrinhos de rolimã. Criado no bairro do Pacaembu, seus pais esperavam que assumisse o negócio de tecelagem da família. Porém, desde muito cedo uma paixão sempre foi mais interessante.

Pace já andava forte no kart. (Fonte:http://www.nobresdogrid.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=54:pace&catid=37:a-conquista-da-f1&Itemid=37)

Não foi com as corridas, contudo, que o esporte chegou navida de Pace. Ele foi nadador do Palmeiras, chegando a ser campeão dos 100 metros livres. Inclusive matava as aulas do colégio para nadar, mesmo sendo um bom aluno. Na adolescência, tomou grande interesse  por carros, frequentando oficinas e procurando aprender algo com os mecânicos. Nos anos 60, começou a correr de kart escondido dos pais. Já mostrou a marca principal do seu talento: a velocidade, pura e simples. Foi também nesse período que conheceu Elda, sua futura esposa, que começou a namorar com 16 anos.

O concretização do sonho

Pace era grande e pesado, mesmo jovem, o que rendeu mais um apelido: “Bolinha”. Isso era um fator a favor de uma mudança para as corridas de automóvel. Depois de um teste que impressionou o projetista Anísio Campos, com um DKW em Interlagos, Pace abriu as portas do mundo do automobilismo de vez, fazendo uma carreira de sucesso nas categorias brasileiras.

O Karmann Ghia – Porsche guiado por Pace nas provas de turismo. (Fonte:http://www.nobresdogrid.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=54:pace&catid=37:a-conquista-da-f1&Itemid=37)

Foi então chamado por Luiz Antônio Greco, chefe da equipe Willys, para assumir o volante de um de seus carros nas provas de turismo. Foi companheiro de grandes nomes como Bird Clemente e Luiz Pereira Bueno. Uma oportunidade dada a poucos, mas com a fama de faro por talentos de Greco e o talento de Pace, pode se dizer que foi justa. Correu provas emblemáticas como os 1600 Km de Interlagos, atingindo grande sucesso. Correu também pela equipe Dacon, com um Karmann Guia- Porsche, carro que disse posteriormente ser o mais satisfatório de guiar de sua carreira. Chegou a ser companheiro de Emerson Fittipaldi na Mil Quilômetros de Brasília, e logo seguiu a decisão  do futuro bi campeão de  ir rumo à Europa. Vendeu tudo e se mudou para a Inglaterra em 1970, para tentar algo na Formula 3 inglesa.

O atribulado caminho até a F1

Pace se mudou para o vilarejo de Attleborough, sede da escola de pilotagem de Jim Russell. Dividia a casa com o engenheiro Chico Rosa e o piloto Fritz Jordan. Logo ele se casaria com Elda, no consulado brasileiro em Londres.Uma vez que estabelecido no velho continente, Pace conseguiu uma Lotus 59 para participar na Formula 3. De 33 largadas, conseguiu seis vitórias e sete segundos lugares. Ainda foi campeão do Troféu Foward Trust e vice do Troféu Lombank. Com o título de campeão da F3 inglesa logo no seu primeiro ano nas mãos, Pace impressionou um sujeito chamado Frank Williams. Williams, ainda longe de seus áureos tempos, o convidou para correr para ele na Formula 2 europeia no ano seguinte, 1971. A impressão geral no meio automobilístico era a de que era questão de tempo até ele chegar até a F1.

Na primeira temporada na Europa, Pace já mostrou a que veio. (Fonte: http://www1.uol.com.br/bestcars/hm/305-jose-carlos-pace-2.htm)

Não foi um ano fácil para Moco. Inicialmente, ele estava enfrentando sérias dificuldades financeiras, por isso cogitou desistir da carreira. Contudo, com o apoio dos irmãos Abílio e Alcides Diniz, assinou um patrocínio com o Banco Português do Brasil. Com a carreira segura, a temporada da F2 foi recheada de dificuldades, quebras e problemas mecânicos. Mesmo assim, conseguiu cumprir parte do calendário e uma vitória, no GP extra oficial de Ímola.

Foi justamente essa vitória que abriu as negociações para assumir o volante de uma da Ferrari 312 no Mundial de Marcas em 1972. Esse seria um ano de muito trabalho para o brasileiro.Além do Mundial de Marcas, Pace correu no Can-Am pela Shadow Racing. Por outro lado recebeu um convite para correr na F2 pela equipe de John Surtess. Ele aceitou e melhorou seu desempenho do ano anterior. Conquistou uma pole e um pódio em quatro corridas. Mas outra possibilidade muito maior também se apresentou para 72.

O começo tímido

Nesse período, a imagem que se tinha de Pace era a de um piloto que se preocupava apenas em ser rápido. Realmente ele era muito rápido, mas não era tão bom em tirar ou pé, ser cuidadoso em uma curva ou poupar equipamento. Independentemente disso, Moco recebeu propostas para correr na F1 em já em 1972. Conversou com a Brabham e com John Surtess. Por fim, a que ele aceitou veio novamente de Frank Williams. Assim, a estreia veio no dia 4 de março de 1972, no GP da África do Sul, cruzando em 16º. Guiava um March alugado. Na temporada ainda conquistou um sexto lugar na Espanha e um quinto na Bélgica.

O primeiro carro de Pace na F1 (Fonte:http://www.nobresdogrid.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=54:pace&catid=37:a-conquista-da-f1&Itemid=37)

Em 1973, Pace continuou atarefado. Com a Ferrari conquistou um segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans. Por isso,se diz que Enzo Ferrari o convidou para estar na equipe de F1 da Ferrari em 74. O que sabemos é que se houve tal convite, Pace recusou, já acertado. Na Formula 2, guiou novamente pela Surtess. Já na F1 se mudou também para a Surtess. Conseguiu um 4º em Nürburgring e seu primeiro pódio, um terceiro lugar na Áustria. Dessa forma, era o segundo do Brasil na categoria.

O primeiro pódio de Pace e segundo do Brasil na F1. (Reprodução globoesporte.com)

Enfrentando muitos problemas na Surtess e longe de atingir seu potencial, Pace mudaria na metade da temporada de 1974 para a Brabham. Aliás, ele também conseguiu o forte patrocínio da cervejaria Brahma naquele ano. Portanto, foi companheiro de Carlos Reutemann, alcançando um quinto lugar na Itália e um segundo lugar nos EUA. Com o quarto lugar ainda pela Surtess no Brasil, era a sua melhor temporada até então. Porém, seu melhor ano seria o seguinte, o ano da vitória de 1975.

A promissora vitória

No dia 12 de janeiro, o ano começou com o GP da Argentina. Pace largou da primeira fila, em 2º, mas teve que abandonar a prova com problemas mecânicos. A corrida foi vencida por Fittipaldi. Mas o sonho da dobradinha brasileira viria em pouco tempo, justamente no GP do Brasil. Largou em sexto, partiu bem e manteve um bom ritmo. Só para ilustrar a intensidade da prova, assumiu a liderança da prova faltando oito voltas. Logo depois, Fittipaldi assumiu a segunda colocação e estava dado o recado. A primeira dobradinha brasileira na F1. Provavelmente um dos dias mais emocionantes para os frequentadores de Interlagos.

A famosa foto da vitória de Pace em Interlagos (Fonte:http://projetomotor.com.br/pace-o-as-que-morreu-prestes-a-dar-resposta-mais-importante-da-carreira/)

Ainda em 75, Pace conseguiu sua única pole position, na África do Sul. Além disso, um pódio em Mônaco e outra dobradinha na Inglaterra,com  Emerson na ponta. Assim, no seu melhor ano, Moco terminou em sexto no campeonato.

O Brabham BT 45, último (e belo) modelo guiado por Pace. (Fonte:http://projetomotor.com.br/pace-o-as-que-morreu-prestes-a-dar-resposta-mais-importante-da-carreira/)

Em 76, ainda pela Brabham, os números foram mais decepcionantes. O forte motor Ford foi trocado pelo Alfa Romeo, o que não impediu Pace de alcançar dois quartos lugares e um sexto. A grande esperança estava no ano de 1977, com uma boa evolução no carro durante o ano anterior. A primeira corrida do ano deu a ele um segundo lugar, na Argentina. Seria seu último pódio. No Brasil, abandonou a prova. Sua última corrida foi o GP da África do Sul. Já que, no dia 18 de março, a história mudaria de curso.

O precoce fim

Apenas 13 dias depois da corrida na África do Sul, José Carlos Pace embarcou em um avião no Campo de Marte, em São Paulo. Minutos depois, o monomotor se chocou contra uma árvore em Mariporã, matando Moco e o amigo Marivaldo Fernandes. Ele tinha 32 anos, deixando dois filhos pequenos. Foi o precoce fim para a carreira de um piloto extremamente talentoso e promissor. Muitos dizem que ele não seria campeão, não era tão completo. Como todo piloto humano, haviam críticas bem embasadas e elogios sem exageros.Talvez nosso trio de campeões seria um quarteto. Nunca saberemos. Todavia, o que realmente importa é o fato de o Brasil ter tido um talento tão grande, provavelmente só abaixo de Senna ,Piquet e Fittipaldi. Se o título de Pace é uma dúvida, a certeza é de que inegavelmente perdemos uma grande estrela.

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