História dos Circuitos da Fórmula 1 – Mosport Park
Boa noite amados, a nossa mais nova e maravilhosa experiência visando conhecer um dos muitos fantásticos circuitos que já estiveram ou ainda estão na Fórmula 1, será pela velocíssima e desafiadora pista canadense de Mosport Park, situada na pacata Bowmanville, pequena cidade da província de Ontario, a qual se destaca por ter uma riquíssima e diversificada beleza natural dotada de longos rios e florestas, isso faz com que além de ter um excelente traçado, Mosport possivelmente possua uma das mais bonitas paisagens naturais entre todos os autódromos do mundo. Que tal nós conhecermos um pouquinho mais sobre ela? Então, vamos logo começar nosso turismo automotivo de hoje!
História
A história do primeiro circuito de caráter permanente da história do Canadá, começa ainda no ano de 1958, quando uma associação que regia o automobilismo local, no caso o British Empire Motor Clube (BEMC) colocou a ideia na mesa pela primeira vez e após uma longa reunião deste grupo, o mesmo decidiu formar uma caravana que rodaria o país inteiro, visando encontrar o melhor terreno possível para tirar do papel, os planos de construir um autódromo moderno e de preferência que possuísse um traçado bastante agradável para pilotos, equipes e adeptos do desporto motorizado da época.
Foi quando no verão daquele mesmo ano, o comitê formado pelo BEMC encontrou um excelente terreno dotado de 182 hectares de terra – 450 acres na medida dos canadenses – localizado nas cercanias da então pacata cidade de Bowmanville, situada na província de Ontario, a qual contava na época com 7.397 habitantes. Este terreno ficava dentro de uma das mais abastadas propriedades rurais desta região e teria agradado aos organizadores da empreitada, pelo fato de possuir uma belíssima paisagem natural, especialmente composta por florestas e uma acidentada topografia de caráter misto, recheada tanto por aclives, como por declives respectivamente.
Após o BEMC bater o martelo e optar pelo arremate do simpático terreno de Bowmanville, os organizadores da obra sentiram uma certa dificuldade relacionada a algumas tarefas, as quais não estavam tão habituados e esse complicado pormenor, acabou com que os idealizadores da construção da pista, rapidamente providenciassem a criação de uma empresa desmembrada do British Empire Motor Clube. Foi então que o grupo Mosport Limited – uma abreviação de Motorsport Limited, contração esta que também acabou por batizar o então inédito autódromo canadense – passou a se responsabilizar por todos os pontos que envolvessem o circuito, para isso os melhores técnicos desta área foram contratados visando tirar a ideia do papel, o mais rápido possível.
No entanto, mesmo com o grupo especializado na construção de praças esportivas automobilísticas tendo sido criado, os primeiros progressos reais na construção da recém batizada iniciativa Mosport Park se deram somente no ano de 1960, através do projetista e então diretor da cúpula gerenciadora do autódromo Alan Bunting. O traçado desenhado por Bunting chamava a atenção pelo grande número de retas e desafiadoras curvas de altíssima velocidade, trechos estes que rapidamente se moldavam ao acidentado terreno escolhido pelo BEMC, que em conjunto com algumas obras de terraplanagem, acabou fornecendo uma ótima prévia do que estava por vir em relação ao traçado, o que acabou gerando uma grande expectativa no corpo administrativo de Mosport e nos cidadãos locais, já que esta construção gerou não só alguns empregos, como também um ligeiro aumento na população de Bowmanville, após mudanças de alguns trabalhadores temporários oriundos de outras partes do Canadá.
Naquele mesmo ano, durante uma rápida passagem pela cidade de Toronto, o respeitadíssimo piloto britânico Stirling Moss teria ficado bastante entusiasmado quando soube da construção do circuito e acabou por agendar uma breve visita a Bowmanville, visita esta que tinha como objetivo conhecer um pouco mais sobre o velocíssimo traçado projetado por Bunting. Moss a princípio teria ficado encantado com o esboço do percurso, com a exceção de um trecho composto por dois hairpins no formato de um “caracol”, isso fez com que ele imediatamente sugerisse que esse gancho localizado na parte sul da pista, fosse substituído por duas curvas com raio de 90 graus tangenciadas para a direita, com isso o britânico acreditava que o trecho entregaria não apenas uma dificuldade maior aos piloto, como iria da mesma forma proporcionar um melhor espetáculo ao público que assistisse as corridas disputadas em Mosport.
Os dois trechos originalmente conhecidos como “5a” e “5b“, acabaram por ser batizados com o nome de Moss Corner, como uma espécie de presente a Stirling pela sua ótima contribuição e não foi a toa, pois esta parte da pista é considerada tanto por pilotos, como por espectadores como a maior atração do autódromo canadense. Embora uma série imensa de contratempos, relacionados a alguns atrasos gerados por uma incessante temporada de fortes chuvas no solo canadense, fizessem com que o orçamento da construção aumentasse de uma maneira ligeiramente substancial, o circuito de Mosport Park foi finalmente concluído em maio de 1961. No final do mês de junho, o traçado que possuía a extensão de 4.102 km, recebeu como corrida inaugural comemorativa, a Player’s 200, prova esta que foi coincidentemente vencida pelo Lotus-Climax do próprio Stirling Moss.
Após sediar com relativo sucesso, algumas provas das mais conhecidas categorias automobilísticas do Canadá e dos Estados Unidos até o ano de 1966, o na época dirigente de Mosport Park, Harvey Hudes decidiu que já era hora da pista se candidatar a receber uma etapa do campeonato mundial de Fórmula 1. Essa estreia se deu no ano seguinte, quando no dia 27 de agosto de 1967, cerca de 58.000 pessoas foram ao autódromo assistir a um desempenho dominante do australiano Jack Brabham e do neozelandês Denny Hulme, que a bordo de seus Brabham-Repco BT24 não deram chances aos seus adversários. O contrato de Mosport Park para sediar o Grande Prêmio do Canadá, a princípio incluía um rodízio com a pista de Mont-Tremblant por questões financeiras, mas a partir da edição de 1971 até o ano de 1977, Mosport assumiu a preferência entre os organizadores da Fórmula 1 e sediou a etapa canadense de maneira ininterrupta.
A estadia de Mosport Park na Fórmula 1 marcou momentos extremamente gloriosos para a categoria, mas registrou ainda trapalhadas de nível histórico. A última vitória da carreira do norte-americano Peter Revson em 1973, como também a bonita festa feita pelos espectadores locais para o último triunfo da equipe canadense Wolf na derradeira prova de 1977, conseguida através do sul-africano Jody Scheckter foram os pontos mais relevantes das corridas canadenses disputadas em Bowmanville.
Enquanto que desempenhos constrangedores do piloto Al Pease na corrida inaugural de 1967 e na edição de 1969, onde nesta última foi o único piloto da história da categoria a ser desclassificado por ser lento em demasia, a desastrosa estreia do Safety Car, aliada a confusões na tabela de tempo dos pilotos na edição de 1973 vencida por Revson e um episódio de agressão a um comissário de pista protagonizado pelo britânico James Hunt na prova de despedida de Mosport da Fórmula 1, foram os referidos acontecimentos de repercussão negativa.
Desde então, o pioneiro circuito canadense não recebeu corridas da categoria em mais nenhuma oportunidade, o fortalecimento do Circuit Gilles Villeneuve ante aos organizadores foi um dos principais motivos para que nenhuma outra pista do país ameaçasse tomar o posto de Montreal, como sede do Grande Prêmio do Canadá. Atualmente, a pista de Mosport Park recebe apenas categorias regionais e dos Estados Unidos, exatamente como nos seus anos iniciais de operação.
Estatísticas
Volta Recorde: 1:11:385 (Mario Andretti, Lotus-Ford Cosworth 78, 1977) – Qualificação.
Maior Vencedor (Pilotos): Jackie Stewart (Reino Unido) – 2 vitórias.
Maior Vencedor (Equipes): McLaren (Reino Unido) – 3 vitórias.
Linha do Tempo
Características
- Turn 1: A primeira das diversas curvas de raio longo da pista, ela é tangenciada para a direita, é inclinada e possui uma média declividade, contudo a falta de área de escape e estreiteza do trecho, faz com que o mesmo necessite de uma leve e imperceptível redução de velocidade. Ainda sim, há pilotos que volta e meia tentam desafiar essa lógica.
- Clayton: Com um raio mais generoso, tangenciada para a esquerda e situada em um setor de acentuado declive e inclinação da pista, ela pode ser contornada em aceleração total sem maiores problemas, já que se trata de uma curva bastante larga e tolerante com erros de cálculo dos pilotos.
- Quebec: De longe a que possui raio mais fechado das três grandes primeiras curvas, a Quebec é tangenciada para a direita e não deve ser subestimada, a princípio ela parece ter uma única tomada e isso faz com que os pilotos menos experientes percam tempo neste setor. A primeira perna necessita de uma considerável redução de velocidade, para só no meio da curva poder retomar a aceleração total.
- Turn 4: Outra curva que não possui nome, se trata de uma veloz guinada para a esquerda dotada de uma longa e interminável descida, além é claro de seus guard-rails situados bem próximos a pista, separados apenas por uma pequena área de escape. Este é o trecho de ligação que leva ao lendário Moss Corner.
- Moss Corner: Este é de longe o setor mais traiçoeiro de toda a pista de Mosport Park e por consequência o mais icônico, tendo sido desenhado pelo próprio Stirling Moss em sua breve visita as obras da pista no ano de 1960 e é formada por duas curvas feitas para a direita batizadas como 5a e 5b respectivamente. Para poder tangenciar a sequencia de curvas de maneira correta, os pilotos devem literalmente grudar junto a parte interna da saída da curva 4, frear de maneira contundente para contornar a primeira perna, a qual tem entrada totalmente cega por conta do ligeiro aclive, continuar o balé colando o carro na zebra interna dessa perna mais lenta, dar uma leve beliscada no aceleredor antes de reduzir novamente, para aí sim poder dar aceleração total na rápida segunda perna. Essa técnica combinação de curvas é conhecida pelos fãs de automobilismo como “uma mistura das curvas Di Lesmo de Monza com o traiçoeiro relevo da Eau Rouge de Spa-Francorchamps”.
- Mario Andretti Straightaway: A maior reta de todo o circuito e também onde os carros atingem a maior velocidade, mais a maior atração deste extenso retão é o fato de ter uma variação de relevo tão brusca quanto a da antiga reta de largada do circuito sul-africano de Kyalami, possuindo não um, como vários desses “deeps”.
- The Esses/White: A última sessão de curvas do circuito é igualmente interessantíssima, a primeira perna dos Esses possui raio longo, inclinação, topografia mista de aclive e declive, é tangenciada para a direita e pode ser feita com aceleração total. A segunda já se estabiliza em relevo plano, é mais lenta e é contornada para a esquerda. Enquanto a última curva desse setor, por vezes chamada também como White, é feita para a direita, começa descendo, termina subindo e embora possua um ângulo mais fechado, pode ser contornada sem a necessidade de redução, dependendo da tocada de cada piloto.
Onboard em Mosport
Vá de carona na Ferrari 312T2 de Niki Lauda, em uma raríssima volta onboard da temporada de 1976.
Muito bem amados, chegamos ao fim de mais uma encantadora viagem feita sobre uma pista clássica que já esteve nos antigos calendários da Fórmula 1, no caso essa legítima pérola canadense chamada Mosport Park, localizada no coração das florestas da pequena e acolhedora Bowmanville, cidade próxima a Ontario. Um abraço bastante caloroso nos corações de todos!
Att Bárbara Maffessoni.