A História dos Grandes Prêmios – Argentina 1953

A Fórmula 1 retomou suas atividades em janeiro de 1953 com a disputa do Grande Prêmio da Argentina, ainda sob a égide do regulamento dos carros de Fórmula 2. A corrida foi vencida por Alberto Ascari (Ferrari), mas a prova foi marcada pela morte de 13 espectadores.

Alberto Ascari vencendo o GP da Argentina de 1953 com a sua Ferrari 500

A temporada de 1953

Quando a Fórmula-1 retornou das férias, pouca coisa havia mudado em relação ao regulamento: a categoria continuava a exercer a competição com o regulamento da Fórmula-2 como base e isso indicava que a mudança de forças seria praticamente inexistente. A Ferrari continuaria como a equipe a ser batida e tinham em seus assentos o ultra-veloz e atual campeão do mundo Alberto Ascari no comando de seu Ferrari 500, que o ajudou a conquistar o título de 1952. A Maserati, com o seu modelo A6GCM-53, era a mais próxima da sua co-irmã italiana e a única que poderia desafiar os carros de Enzo Ferrari. Porém, ainda faltava algo a mais para que os carros de Alfieri Maserati pudessem, de fato, bater os vermelhos da Ferrari. Além das participações pontuais, equipes da Gordini, Cooper, Connaught e HWM se fizeram presentes por boa parte do campeonato de 1953.

Os inscritos para o GP argentino

Um total de 16 pilotos foram inscritos para este GP da Argentina, o primeiro da história da então jovem Fórmula-1 fora da Europa contando com boa parte das suas estrelas. A Maserati levou quatro A6GCM-53 para Juan Manuel Fangio (que retornava após longa convalescência do seu acidente em Monza no ano de 1952), José Froilan Gonzalez, Felice Bonetto e Oscar Alfredo Galvez. A Ferrari levou quatro de seu modelo 500 para Alberto Ascari, Giuseppe Farina, Luiggi Villoresi e Mike Hawthorn, que fazia a sua estréia pela equipe italiana. A Cooper levou três carros, sendo dois T20 e um T23: Alan Brown e o argentino Adolfo Schwelm Cruz tomaram posse de dois T20 enquanto que o T23 esteve sob o comando de John Barber. A Gordini alinhou quatro modelos T16 para Robert Manzon, Maurice Trintignant (este viria dividir o carro com Harry Schell durante o GP), Jean Behra e Carlos Menditeguy, enquanto que um Simca Gordini T15 ficou sob os cuidados do argentino Pablo Birger.

Esta corrida marcou a estréia em Grandes Prêmios para os argentinos Pablo Birger, Carlos Menditeguy, Oscar Alfredo Galvez (o grande ídolo local e rival de longa data de Juan Manuel Fangio), Adolfo Schwelm Cruz e do inglês John Barber. Para estes últimos três foi a única aparição na Fórmula-1.

A qualificação

Não houve grande problema para que Alberto Ascari colocasse a sua Ferrari 500 #10 na pole, com a marca de 1’55”4. Fangio quebrou o que seria uma trinca ferrarista na primeira fila ao levar sua Maserati #2 ao segundo posto, tendo as Ferrari de Villoresi e Farina logo em seguida. No quinto lugar aparecia a Maserati #4 de Gonzalez e também a Ferrari #16 de Hawthorn.

Um longo e trágico GP

A pista localizada em Buenos Aires foi idealizada pelo então Presidente Juan Domingo Peron ao final de 1951, aproveitando-se do enorme sucesso que Fangio conquistara naquele ano ao tornar-se campeão do mundo. A pista foi concretizada em dez meses e se caracterizava pelas várias opções de traçado que podiam ser feitas. Para este GP, o primeiro da Fórmula-1 na América do Sul – e claro, fora da Europa – foi utilizado um percurso de 3,9 km. Segundo relatos da época, este GP argentino incluiu algumas extravagâncias como o fretamento de um avião pela ACA (Automovil Club Argentino) para trazer os principais pilotos da categoria e também o número de espectadores para assistirem a corrida. Apesar de informações desencontradas, onde alguns indicam cerca de 300 mil até 500 mil pessoas que acompanharam aquele evento, a superlotação e negligência causaram uma tragédia que poderia ter sido muito maior.

A corrida em si foi um passeio para Alberto Ascari, que liderou de forma tranquila a corrida que teve um pouco mais de três horas de duração e 97 voltas realizadas, ficando uma volta a frente dos outros quatro pilotos que completaram a pontuação. Villoresi, Gonzalez, Hawthorn e Galvez completaram os cinco primeiros. A grande esperança de vitória argentina estava repousada em Fangio, mas este abandonou na volta 36 por problemas na transmissão.

Mas, infelizmente, os desastres é que marcaram este primeiro GP da Argentina: na volta 24 uma das rodas do Cooper de Schwelm Cruz soltou-se e invadiu uma parte da multidão que estava a beira da pista. Na volta 31 é que o grande desastre aconteceu: uma das pessoas invadiu o circuito e Giuseppe Farina, na tentativa de desviar, acabou perdendo o controle de sua Ferrari e foi ao encontro da multidão. Os números de pessoas mortas variaram bastante: enquanto que o número oficial divulgado foi de 10 pessoas mortas, alguns indicam que foi bem mais que isso ao chegar a marca de 30 pessoas ceifadas. E mais tarde teria outro acidente fatal, quando um garoto foi atropelado pelo Cooper de Alan Brown.

A alta lotação das arquibancadas fez com que as pessoas fossem para a beira da pista acompanhar o GP e isso só piorou quando Peron interferiu nos trabalhos da polícia em conter o avanço das pessoas para os locais de maior perigo. Houve também uma possibilidade de não realização da corrida ou adiamento da largada, para que pudessem resolver este problema da superlotação. Infelizmente nada foi feito e a primeira visita da Fórmula-1 a América Sul levou a mancha da tragédia naquele distante dia 18 de janeiro de 1953.

Resultado Final –

Grande Prêmio da Argentina de 1953 – 1ª Etapa

Autódromo Municipal 17 de Outubro – 18 de Janeiro – 97 Voltas

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