A História dos Grandes Prêmios – Bélgica 1954

O GP da Bélgica foi o terceiro da temporada e contou com 14 participantes. A Ferrari mostrou força, mas faltou confiabilidade. Melhor para Juan Manuel Fangio que venceu seu segundo GP na temporada.

Juan Manuel com a Maserati 250F em Spa-Francorchamps: segunda vitória para o argentino

Apesar de nenhuma equipe ou piloto ter atravessado o Atlântico para disputa das 500 Milhas de Indianápolis, segunda etapa do campeonato mundial, isso não significou que tenham ficado inativos no período entre os GPs da Argentina e Bélgica: um total de doze corridas extra campeonato foram realizadas. Entre equipe oficial e particulares, a Ferrari foi a grande vencedora neste período ao ganhar um total de sete corridas (três com Jose Froilan Gonzalez e Reg Parnell e uma com Giuseppe Farina), Maserati venceu três, Gordini e Connaught uma cada.

Para este GP da Bélgica apenas 14 participantes foram inscritos, numa manobra dos organizadores em optar pela qualidade do grid ao invés da quantidade. Dessa forma apenas Ferrari, Maserati e Gordini alinharam seus  carros – seguindo o exemplo do que foi a corrida inaugural em Buenos Aires. A Ferrari teve cinco carros, sendo quatro oficiais e um particular: na equipe oficial, ele optaram por dividir os trabalhos com dois Ferrari 625 para Maurice Trintignant e Mike Hawthorn e dois Ferrari 553 Squalo para Giuseppe Farina e Jose Froilan Gonzalez – estes modelos 553 vinham sendo testados exaustivamente pela equipe, que resolveu arriscar o uso deles nessa etapa de Spa-Francorchamps; na única equipe particular, pilotada por Jack Swaters, a Ecurie Francorchamps teve a sua disposição um modelo 625. Mas a Ferrari teria que lidar com os contundidos Farina e Hawthorn: enquanto que o italiano se recuperava do seu acidente na Mile Miglia, o inglês estava no mesmo modo após acidente seguindo de incêndio que o deixou com algumas queimaduras – e para piorar, seu pai Leslie havia morrido há pouco tempo. A Gordini alinhou três T16 para Jean Behra, Paul Frère e André Pilette – e deveria ser quatro, caso André Simon não tivesse ficado doente. Na Maserati foram seis carros, sendo três oficiais e três particulares – onde estes acabaram recebendo ajuda da equipe oficial. Juan Manuel Fangio (a Maserati conseguiu junto a Mercedes autorização para que o argentino alinhasse para eles neste GP), Onofre Marimon e Sergio Mantovani pilotaram os 250F oficiais. Principe Bira alinhou um 250F e Stirling Moss tomou posse, também, de um 250F; Roberto Miéres competiu com um A6GCM.

Pole sem dificuldade para Fangio

 

Apesar do entusiasmo da Ferrari em torno do seu modelo 553, principalmente pelo bom desempenho de Gonzalez nos treinos, o argentino não foi páreo para o seu conterrâneo Fangio quando este cravou a pole e quebrou o recorde que pertencia a ele desde 1951, quando ainda era piloto da Alfa Romeo. Naquela ocasião, Fangio fez o tempo de 4’25’’000 e nesta edição de 1954 o argentino baixou para 4’22’’1, enquanto que Gonzalez fez o segundo tempo, 1’5 segundo de desvantagem para Juan. Farina, Marimon, Hawthorn e Trintignant fecharam os seis primeiros.

Apesar de uma má largada, Fangio vence

O grid de largada em Spa: Fangio a direita, Gonzalez ao centro e Farina a esquerda

Quando o grid foi formado para terceira etapa, um 15º carro estava presente: um Maserati A6GCM estava sob os comandos de Emmanuel De Graffenried, mas este tinha uma finalidade: com uma câmera acoplada no carro, este serviria para captar imagens para um filme que seria estrelado por Kirk Douglas chamado “The Racers”. Na largada Fangio teve uma péssima saída no que resultou na sua queda na classificação, mas que logo foi recuperada pelo argentino que aparecia já em quarto no final da primeira volta, que também contou com o susto vindo de Roberto Mières que teve seu Maserati incendiando-se após os mecânicos terem esquecido de fechar o bocal do tanque e com o carro em movimento, o combustível caiu nas partes quentes e pegou fogo. Mières conseguiu chegar aos boxes onde foi socorrido – ficando inclusive com algumas queimaduras – e abandonando a prova em seguida. Gonzalez e Farina tinham assumido as duas primeiras posições, o que deixaria a Ferrari contente, mas quando o argentino iniciou a subida da Radillion/ Eau Rouge o motor do seu Ferrari quebrou. Giuseppe Farina assumia a liderança com Hawthorn em segundo e Fangio logo em terceiro, já se aproximando do duo ferrarista – sendo que as ultrapassagens aconteceriam na volta três e Juan Manuel Fangio seria o novo líder.

A corrida teve um momento tranquilo até a décima passagem quando Fangio teve que ir aos boxes para trocar a viseira pelos óculos, uma vez que esta se quebrara. Dessa forma, Farina voltava a liderança com Fangio continuando em segundo, pois a sua parada tinha sido rápida e tinha, também, boa vantagem para Mike Hawthorn – o inglês vinha enfrentando problemas com o seu Ferrari, que quebrara um escapamento e passava a encher o habitáculo de gases. Farina foi ultrapassado por Fangio, mas na décima quarta volta o italiano abandonou por problemas no motor e isso deixava o piloto argentino intocável na liderança, uma vez que ele levava uma vantagem enorme para Mike.

Na décima nona volta a Ferrari resolveu substituir Hawthorn por Gonzalez: a primeiro momento tinham avistado que o inglês não estava bem e isso o fizeram pensar que os problemas físicos eram decorrentes do acidente que sofrera na prova extra-campeonato em Siracusa. Gonzalez assumiu o carro e partiu para uma recuperação que o levou até o quarto lugar – aliás, foi o argentino quem descobriu que os problemas de Hawthorn provinham da quebra do escapamento.

A corrida transcorreu normalmente até que Fangio tomasse a quadriculada, marcando assim a sua segunda conquista na temporada. Maurice Trintignant levou a Ferrari ao segundo lugar e Stirling Moss ao terceiro – que ainda teve sorte, pois enfrentou problemas no Maserati nas voltas finais o que poderia ter perdido o lugar para Gonzalez. Para estes dois foram os primeiros pódios de suas carreiras, assim como Moss também foi os primeiros pontos. Gonzalez foi o quarto e André Pilette marcando seus primeiros pontos no mundial (que seriam os únicos) ao terminar em quinto. Farina não apareceu mais naquela temporada, ainda tentando recuperar-se do seu acidente na Mile Miglia – porém voltaria a acidentar-se novamente numa corrida de carros sport em Monza no final do ano, ficando um bom período no hospital. O campeão de 1950 voltaria para a Fórmula-1 apenas em 1955.

Fangio passou a ser o líder isolado com 17 pontos, contra os 9 de Maurice Trintignant que aparecia em segundo; em terceiro aparecia Bill Vukovich com 8 pontos; em quarto Jose Froilan Gonzalez com 6.5; e na quinta colocação Giuseppe Farina com 6 pontos.

Resultado Final

Grande Prêmio da Bélgica de 1954 – 3ª Etapa

Circuito de Spa-Francorchamps – 20 de junho – 36 Voltas

Melhor Volta: Juan Manuel Fangio – 4’25”500

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