A História dos Grandes Prêmios – Espanha 1954
A Espanha voltou a sediar um GP após duas temporadas de ausência e o público viu uma grande disputa nas trinta primeiras voltas, que culminou na vitória de Mike Hawthorn com Ferrari
O último GP disputado em Monza tinha mostrado um Alberto Ascari revitalizado, mostrando a todos que ele ainda podia fazer conduzir um carro de corrida com maestria. É verdade que a sua curta estadia na Maserati foi desastrosa, onde ele não conseguiu repetir os feitos que fizera dele bicampeão consecutivo com a Ferrari no biênio 52/53, porém, quando esteve em posse da Ferrari 625 em Monza, ele reviveu seus bons momentos ao desafiar a Mercedes com Juan Manuel Fangio ao volante. Mas os problemas mecânicos privaram todos de presenciarem um grande duelo que se avistava e até mesmo a possibilidade de vê-lo vencer. Também foi interessante ver o comportamento do jovem Stirling Moss no comando da Maserati, que parecia estar pronto para vencer o GP italiano e foi traído pela falta de confiabilidade da 250F. Mas o seu cartão de visitas tinha sido mostrado. O GP da Espanha mostraria mais uma vez que era possível desafiar a Mercedes, lançando uma luz de competitividade para a próxima temporada.
Os inscritos
Um total de 25 carros foram inscritos para este GP da Espanha, que retornava ao calendário após duas temporadas de ausência por conta de problemas financeiros – e que por muito pouco não acontece também para 1954. A favorita Mercedes levou três W196 para Juan Manuel Fangio, Karl Kling e Hans Hermann. A Maserati cobriu que metade da lista com onze carros inscritos: a equipe oficial teve cinco carros que ficaram para Stirling Moss, Roberto Mieres, Sergio Mantovani, Luigi Musso e o piloto local Francisco Godas Sales; entre os particulares Principe Bira, Emmanuel de Graffenried (que dividiria o A6GCM carro com Ottorino Volonterio), Harry Schell e Giovanni de Riu (com uma A6GCM) se inscreveram em seus próprios nomes, enquanto que a Owen Racing levou um para Ken Wharton (inicialmente seria pilotado por Guerino Bertocchi, que não apareceu) e a Ecurie Rosier que inscreveu um 250F para Louis Rosier.
Após meses de testes que serviram para sanar alguns problemas, o carro feito por Vittorio Jano estava pronto: o Lancia D-50 já chamou atenção pela sua beleza e distribuição de peso por conta dos tanques posicionados nas laterais – o que ajudava a canalizar o ar que passava sob as rodas, melhorando o fluxo. Alberto Ascari e Luigi Villoresi pilotaram os dois carros que ficaram prontos, enquanto que Piero Taruffi, que pilotaria um terceiro, teve que ficar de fora. A Ferrari não contou com Jose Froilan Gonzalez para esta etapa, já que o argentino se machucou num acidente em Dundrod, prova válida pelo Mundial de Carros Sport. A Scuderia teve cinco carros na Espanha, sendo três oficiais que ficaram para Mike Hawthorn, Maurice Trintignant e Giuseppe Farina – mas este último não compareceu por estar se recuperando do acidente sofrido na Mille Miglia realizada meses antes e deste modo a Ferrari teve apenas dois carros oficiais para o GP; os outros dois carros foram inscritos pela Ecurie Rosier para Robert Manzon e pela Ecurie Francorchamps para Jacques Swaters. Vanwall apareceu com o seu Vanwall Special para Peter Collins. E a Gordini alinhou seus três T16 para Jean Behra, Jacques Pollet e Fred Wacker – que não conseguiu qualificar-se para a prova.
Uma chegada em grande estilo
Além dos já consagrados Mercedes W196, o Lancia D-50 era esperado desde o inicio do campeonato, mas o atraso em sua confecção fez essa expectativa aumentar consideravelmente. Quando Alberto Ascari pôde, enfim, pôr as mãos na máquina feita por Vittorio Jano, imediatamente o bicampeão mundial se habituou ao carro e conseguiu a proeza de se colocar na pole position para aquele GP espanhol e com autoridade, uma vez que conseguira a marca com um segundo de avanço sobre Fangio e sua Mercedes. Um tremendo resultado, uma vez que naquele momento bater a Mercedes em algum estágio já era difícil e colocar um segundo então era algo inimaginável. Ascari fez a marca de 2’18’’1 enquanto que Fangio, que utilizara o W196 de rodas cobertas na classificação, ficou um segundo atrás. Mike Hawthorn posicionou a Ferrari em terceiro, dois segundos e meio de atraso para Alberto. Os dez primeiros foram completados por Harry Schell, Luigi Villoresi, Stirling Moss, Luigi Musso, Maurice Trintignant, Hans Hermann e Sergio Mantovani.
Uma grande corrida em Pedralbes e vitória para Hawthorn
A corrida teve o seu inicio com Harry Schell surpreendendo os favoritos ao assumir a liderança já na primeira volta, enquanto que Hawthorn seguiu a mesma tocada e era segundo, com Ascari em terceiro. Fangio não teve boa largada e aparecia em sexto – para a corrida o piloto argentino optou por pelo Mercedes de roda aberta.
Mas alegria de Schell não iria muito longe, uma vez que Ascari resolveu mostrar o grande poder de fogo do Lancia D50 e subir de segundo para primeiro na terceira volta. As voltas seguintes do piloto italiano foram alucinantes, com ele chegando abrir em algumas situações até dois segundos por volta. O Lancia-D50 realmente parecia ser um bom carro, mas os problemas mecânicos ainda eram teimavam aparecer como ficou bem visto quando ele foi aos boxes em duas oportunidades por causa de defeitos na embreagem, o que forçou o seu abandono na volta 10 – Villoresi já havia abandonado com problemas nos freios na segunda volta. Apesar dos azares, a Lancia havia mostrado que tinham chegado com um carro de futuro promissor.
A disputa pela liderança ficou restrita a três pilotos: Schell, Hawthorn e Trintignant estiveram próximos por um bom par de voltas, com o piloto americano se sustentando bem na liderança sem se intimidar com os ataques de Mike, que acabou rodando e caindo para quarto. Mas o bom desempenho do seu Ferrari lhe permitiu passar por Moss e ir ao encalço de Harry e Maurice. Por falar em Moss, este não brilhou como em corridas passagens e acabou abandonando na volta 20 com problemas na bomba de óleo.
Os problemas mecânicos acabaram por definir a corrida já na metade: Schell encerrou a sua grande prova com problemas na transmissão do Maserati na volta 29, enquanto que Trintignant se sustentou até a volta 47 quando saiu pelos mesmos problemas de Harry. O caminho ficou aberto para que Mike Hawthorn chegasse a sua primeira vitória na temporada e segunda carreira com mais de um minuto de vantagem sobre o Maserati de Luigi Musso – que conquistava seu primeiro pódio na Fórmula-1 – e com uma volta sobre Fangio, que não teve o melhor Mercedes naquele final de semana e ainda teve que lutar contra um vazamento de óleo que iniciou há 12 voltas do fim. A quarta e quinta colocações foram ocupadas por Roberto Mieres e Karl Kling.
Como marcos, este GP da Espanha foi o último para a Fórmula 1 que voltaria a ter um GP naquele país apenas em 1968. Jacques Swaters e Principe Bira fizeram suas derradeiras aparições em GPs oficiais na Espanha.
Na tabela final de pontos, Fangio encerrou com 42 pontos (57 total); Jose Froilan Gonzalez em segundo 25 pontos (26 total); Mike Hawthorn terceiro com 24; Maurice Trintignant em quarto com 17; Karl Kling em quinto com 12; Bill Vukovich e Hans Hermmann com 8 pontos cada; Giuseppe Farina e Jimmy Bryan com seis cada.