A História dos Grandes Prêmios – Mônaco 1955
Mônaco voltou a receber uma etapa da Fórmula-1 após uma temporada de ausência. A corrida marcou a primeira conquista de Maurice Trintignant na categoria e o mergulho de Alberto Ascari no mar. Para ele foi, também, a última corrida na categoria.
O caloroso GP da Argentina foi castigante para os carros e pilotos, porém as 25 voltas iniciais deram aos que estavam presentes um pequeno aperitivo do que podia vir a ser aquele campeonato: o duelo entre Fangio, Gonzalez e Ascari foi o ponto alto da corrida, com os três pilotos duelando constantemente pela liderança. No entanto, o forte calor acabou por dar fim a esta disputa que poderia, em outras condições, ter prolongado por mais tempo. Por outro lado, o principal sentimento é que a Mercedes não teria vida tão fácil naquela temporada, principalmente pelo desafio que parecia vira mais por parte da Lancia que da Ferrari já que a primeira tinha apresentado um carro mais veloz e ainda tinha em seus assentos o bicampeão Alberto Ascari, que era um dos poucos a ter capacidade suficiente para desafiar Fangio. Já a Ferrari não contaria mais com Jose Froilan Gonzalez, que decidira participar apenas dos GPs argentinos e não mais do campeonato completo. Com Giuseppe Farina longe de seus dias de glória, a Ferrari se apresentava naquele momento do mundial sem um piloto de classe. Por ironia do destino, o GP de Mônaco, que voltava ao calendário após um ano de ausência, seria um presente e tanto para eles.
Os Inscritos
Para este Grande Prêmio de Mônaco, que também levou o título de GP da Europa, 25 pilotos foram inscritos e apenas 20 puderam largar. A Mercedes inscreveu três W196 para Juan Manuel Fangio, Stirling Moss e Hans Hermann. Fangio e Moss pilotaram carros com entre-eixos menores, projetados exatamente para este tipo de circuito, enquanto que Hermann andou no convencional. Karl Kling seria inscrito, mas o acidente durante a Mille Miglia impossibilitou. A Gordini colocou três T16 a disposição de Robert Manzon, Jacques Pollet e Élie Bayol – que foi o único a pilotar um T16 com modificações para aquela temporada. A Vanwall estreava naquela temporada e inicialmente com dois VW55 para Mike Hawthorn e Ken Wharton, mas este último sofreu um acidente em Silverstone e acabou ficando de fora. A equipe de Stirling Moss inscreveu um Maserati 250F para Lance Macklin, enquanto que Ted Whiteaway pilotaria um HWM inscrito por ele mesmo.
A Lancia inscreveu quatro D-50 para Alberto Ascari, Luigi Villoresi, Eugenio Castellotti e para o veterano Louis Chiron – que tornaria-se o piloto mais velho a largar num GP. A Maserati levou quatro 250F para Jean Behra, Roberto Mieres, Luigi Musso e o estreante Cesare Perdisa, que havia impressionado a equipe com boas atuações nas corridas extra-campeonato. Por último, as inscrições da Ferrari, que levou cinco carros ao todo sendo dois modelos 625 para Giuseppe Farina e Maurice Trintignant e três modelos 555 para Harry Schell, Piero Taruffi e Paul Frère.
Uma qualificação disputada, com pole para Fangio
Os treinos começaram mal para Hans Hermann, que acabou acidentando ainda nos treinos livres e tendo que ser substituído por Andre Simon, que correria pela Gordini naquela etapa. A escolha pelo francês serviu para que este arrumasse uma vaga na equipe da Mercedes no Mundial de Sportscar, que disputaria as 24 Horas de Le Mans em poucos meses.
A disputa pela pole polarizou entre Fangio, Ascari e Moss, com os dois primeiros cravando o mesmo tempo (1’41’’1). Como o argentino fez a melhor marca primeiro, a pole ficou para ele com Ascari em segundo e Stirling em terceiro, um décimo atrás dos dois campeões. Castellotti, confirmando a bom carro da Lancia, fez o quarto tempo (1’42’’0) e Jean Behra, que chegou ter hipóteses de pole, ficou apenas com o quinto tempo (1’42’’5). Roberto Mieres, Luigi Villoresi, Luigi Musso, Maurice Trintignant e Andre Simon – ainda tentando se adaptar ao W196 – fecharam os dez primeiros.
Quebras, mergulho e vitória inesperada
Juan Manuel Fangio conseguiu sustentar a liderança naquele GP, seguido por um impressionante Castellotti que fora mais ágil ao pular de quarto para segundo. A presença do italiano naquela segunda colocação foi importante para que o argentino conseguisse abrir boa vantagem, uma vez que Eugenio estava em luta acirrada contra Moss e mais atrás estava Ascari.
Castellotti ainda conseguiu sustentar a segunda posição até a quinta volta quando Moss o superou, mas o italiano ainda teria um bom duelo contra seu companheiro Alberto Ascari que trazia a tiracolo o francês Jean Behra. Enquanto isso, Fangio seguia forte em primeiro e Stirling começava a se aproximar do argentino – vindo a descontar a desvantagem de cinco segundos e passar a rodar próximo do bicampeão.
Enquanto as duas Mercedes faziam sua corrida particular na dianteira, Castellotti foi superado por Behra – que já havia ultrapassado Ascari – e que cairia ainda para quinto, quando Alberto também o passou. Castellotti ainda precisou ir aos boxes para trocar um dos pneus e isso deu a Trintignant, que largara em nono, a chance de subir para quinto na classificação.
A corrida teve um breve momento de marasmo quebrada apenas pela falha de motor do Mercedes de Andre Simon na volta 24. Porém, na
volta 50, foi a vez de Fangio abandonar quando o eixo traseiro do seu Mercedes quebrou, deixou a liderança nas mãos de Stirling Moss. Jean Behra havia ido aos boxes algumas voltas antes por problemas na pressão do óleo, que proporcionou a subida de Ascari para a segunda posição e Trintignant para terceiro – Behra ainda voltou para a prova ao trocar o carro com Perdisa, que rodava em 6º lugar. Perdisa pegou o carro de Jean, caindo algumas posições.
Moss conseguiu abrir grande vantagem sobre Ascari, a ponto de quase colocar uma volta no italiano. Dessa forma, parecia que a sua primeira vitória na Fórmula-1 era certa quando o motor do Mercedes estourou na volta 80. Uma grande frustração para a Mercedes e também para o jovem inglês. Agora a liderança era de Alberto Ascari, mas ele não teve muito tempo de apreciar a liderança, uma vez que acabou perdendo o controle de seu Lancia no Porto e caindo no mar – para alguns Ascari se distraiu com o público que o aplaudia após o abandono recente de Moss e para outros, o italiano acabou escorregando no óleo deixado pelo Mercedes. Alberto conseguiu emergir das águas com um nariz quebrado, sendo levado para o hospital onde ficou sob observação. Já o Lancia, foi retirado algumas horas depois.
Maurice, que estava em segundo, herdou a liderança e ficou lá até que recebeu a quadriculada seguido por Eugenio Castellotti, Cesare Perdisa – que herdou a terceira posição assim que Behra quebrou – foi o terceiro, tendo os pontos compartilhados com Behra. A quarta posição foi de Giuseppe Farina e quinta posição para Luigi Villoresi.
Aquela corrida foi a última da carreira de Alberto Ascari, que veio morrer quatro dias depois enquanto testava um Ferrari 750 em Monza. Um fim trágico para aquele que muitos ainda depositavam grande esperança.
Aquele retorno do já tradicional GP de Mônaco acabou por ser um dos mais emblemáticos daquele tempo e também da história da Formula-1.
A classificação daquele mundial mostrava Maurice Trintignant na liderança com 11 pontos; Juan Manuel Fangio em segundo com 10 pontos; Giuseppe Farina em terceiro com 6,5 pontos; Eugenio Castellotti em quarto com 6 pontos; José Froilan Gonzalez em quinto com 2 pontos.