Circuitos: Monza
Considerado o templo da velocidade, Monza foi palco de muita festa italiana, mas também de muitas tragédias.
Ficha técnica
Nome do circuito: Autodromo Nazionale di Monza
Comprimento da pista: 5,793 km
Número de voltas: 53
Distância total: 306,720 km
Recorde da pista: 1:21.046, Rubens Barrichello (2004)
Primeira corrida na F1: 1950
Considerado o templo da velocidade, a história do circuito de Monza começou depois da Primeira Guerra Mundial, quando a indústria automobilística italiana começou a crescer e queria mostrar para o mundo o seu prestígio, abalado pela derrota no GP da Itália em 1921, disputado no circuito semi-permanente de Montechiari. Para isso, era preciso encontrar um lugar para a construção de um circuito que fosse permanente, para que as montadoras também pudessem realizar seus testes. Dois locais surgiram como candidatos, Gallarate, que foi dispensada por ser longe demais (hoje o local abriga o aeroporto de Malpensa e fica a 50 km do centro de Milão) e o distrito de Cagnola, em Milão, que também foi rejeitado, dessa vez por ser muito perto da cidade.
Então foi proposto construir o circuito no parque Villa Reale em Monza, uma área cercada e cerca de 24 km de Milão. Local aceito, era a hora de fazer o projeto, que ficou nas mãos do engenheiro Piero Puricelli, que ficou encarregado de criar dois tipos de traçado, um de Grande Prêmio e outro oval, mas que poderiam ser usados em conjunto, somando 14 km.
A inauguração inicial das obras aconteceu no dia 26 de fevereiro de 1922, mas antes das obras começarem, protestos contra a derrubada de um grande número de árvores atrasou o começo das obras. Depois de meses de negociações, as obras puderam começar, mas o traçado teve que ser diminuído para 10 km, aproveitando ao máximo as estradas e trilhas já existentes, para minimizar o número de árvores cortadas.
Começo da construção do circuito de Monza, o terceiro circuito do mundo a ser construído com o único propósito de ser usado para o automobilismo, assim como Brooklands e Indianápolis. O local era perfeito por não ser muito longe de Milão.
O problema é que os organizadores do circuito já tinham prometido a pista para o GP da Itália daquele ano. A solução foi colocar um batalhão de 3500 homens para trabalhar e em 110 dias, o circuito estava pronto.
No dia 28 de julho, os pilotos Felice Nazzaro e Pietro Bordino, dirigindo um Fiat 570, andaram pela primeira vez na nova pista, que foi inaugurada oficialmente no dia 3 de setembro, com uma corrida de voiturettes, vencida por Bordino.
Traçado de Monza em 1922, com as duas pistas combinadas.
Na semana seguinte, no dia 10 de setembro, o GP da Itália foi disputado pela primeira vez em Monza, com a vitória da Fiat 804, pilotada por Bordino, que completou as 80 voltas em um pouco menos de 6 horas.
Pietro Bordino, durante o GP da Itália de 1922. Piloto italiano foi o primeiro vencedor em Monza, além de ter sido o primeiro a andar no circuito, antes da sua inauguração oficial.
Se os primeiros anos foram de felicidade, uma tragédia atingiu o circuito em 1928. Durante a corrida, Emilio Materassi perdeu o controle de seu carro durante uma ultrapassagem na reta principal, batendo nas barreiras e voando sobre o público. O piloto e 22 espectadores morreram no acidente, fazendo com o circuito parasse de receber o GP da Itália até 1931, recebendo apenas o GP de Monza.
O acidente causou uma mudança no circuito em 1930, para trazer mais segurança para o público. Com isso, Monza ganhou uma quarta configuração de pista, chamada de Florio, que integrava partes da pista de corrida e da oval, mas era menor do que o circuito completo.
Traçado chamado de Florio, que continuava a ser uma combinação dos dois circuitos, mas em tamanho menor.
Mas as tragédias continuaram acontecendo. Em 1931, Philippe Etancelin saiu da pista na curva Lesmo e acertou o público. O piloto e mais dois espectadores morreram no acidente, que ainda deixou 14 feridos. Outra tragédia que atingiu o circuito aconteceu no dia 10 de outubro de 1933 e ficou conhecido como “Domingo Sangrento”. Os pilotos Giuseppe Campari da Alfa Romeo e Baconin Borzacchini, da Maserati, perderam o controle do carro após derrapar no óleo deixado por outro competidor. Os dois morreram na hora. Mais tarde, o carro de Stanisław Czaykowski capotou e pegou fogo, matando o piloto polonês.
Acidente em Monza, em 1933, que vitimou os pilotos Giuseppe Campari e Baconin Borzacchini. A corrida ainda teve mais uma vítima e mostrou que os perigos da pista não foram solucionados.
Algumas corridas ainda aconteceram nos anos seguintes, usando variações da pista Florio e da pista Grande Prêmio, até que alterações mais radicais fossem feitas em 1938.
Sob supervisão do engenheiro Aldo di Rionzo, a parte oval do circuito foi abandonada e pista de Grande Prêmio revisada, incluindo alterações nas curvas Vialone e Lesmo. Todas as outras instalações do circuito também foram modernizadas, incluindo a construção de uma nova arquibancada.
Depois de vários acidentes, a parte oval parou de ser utilizada e a parte da Grande Prêmio foi remodelada.
Mas antes do novo autódromo ser inaugurado, veio a Segunda Guerra Mundial e paralisou as atividades em Monza, com o circuito sendo usado para várias outras coisas, entre elas o abrigo de animais do zoológico de Milão. E para piorar, em 1945, um desfile militar na reta principal destruiu o asfalto, enquanto o resto do circuito serviu para abrigar artigos e veículos militares.
Com o fim da Guerra, Monza estava destruído e sem condições de ser usado. No começo de 1948, o Milan Automobile Club decidiu restaurar o circuito, levando apenas dois meses para completar a reforma e colocar a pista em uso.
No dia 3 de setembro de 1950, Monza recebeu o GP da Itália de F1, sendo o circuito que mais recebeu corridas da categoria. Para alegria da torcida local, a corrida foi vencida pelo italiano Giuseppe Farina, pilotando uma Alfa Romeo. Nos dois anos seguintes, a alegria seria ainda maior, com as vitórias do italiano Alberto Ascari, pilotando pela Ferrari, a equipe com mais vitórias no circuito.
Primeira corrida de F1 disputada em Monza. A corrida foi vencida pelo italiano Giuseppe Farina.
Em 1955, um projeto ambicioso recriou o antigo bank, mas dessa vez, fazendo-o mais inclinado. Esse novo circuito oval dividiu os boxes com a pista de Grande Prêmio e podia ser usado tanto sozinho como em conjunto com a principal, formando uma pista de 10 km.
Traçado em 1955, que trouxe o famoso banking de volta e criou a curva Parabólica.
A pista completa foi usada nos Grandes Prêmios da Itália de 1955, 1956, 1960 e em 1961, quando durante a corrida, Wolfgang von Tripps e Jim Clark se envolveram em um acidente na Parabolica, com o carro de Wolfgang voando e atingindo uma área do público. O piloto alemão e mais onze espectadores morreram na hora e mais quatro faleceram no hospital. A tragédia aposentou a pista completa e o bank nunca mais foi usado pela F1. Depois de ser usado por outras categorias, essa parte do circuito foi abandonada de vez em 1970.
Banking em Monza. Depois de ser abandonada, a parte oval do circuito foi reconstruída, recriando a pista completa.
Obras do banking em Monza, reconstruído com mais inclinação do que a original.
Banking em Monza atualmente. Depois de ser abandonado em 1970, local virou local de visitação para os fãs de automobilismo.
Mesmo não usando mais a parte oval, o circuito continuou perigoso e em 1970, o austríaco Jochen Rindt, que liderava o campeonato, perdeu o controle do carro durante os treinos e bateu forte no guard-rail. Rindt tinha o costume de não usar a parte de baixo do cinto de segurança, para poder sair do carro mais rápido em caso de fogo e durante a batida, o piloto deslizou para a frente no cockpit e teve o pescoço cortado pelo cinto. Mesmo sendo resgatado rapidamente, Rindt não sobreviveu e faleceu a caminho do hospital, tornando-se no final da temporada, o único campeão póstumo da F1.
Fiscais olham desconsolados para o carro de Rindt, após acidente que matou o piloto austríaco. Mesmo com sua morte, o piloto ainda se sagrou campeão da temporada de 1970.
Com as velocidades dos carros aumentando, era a hora de mais uma mudança e em 1972, uma chicane foi introduzida no lugar da curva del Vialone, chamada de Variante Ascari, em homenagem ao piloto Alberto Ascari, que faleceu neste lugar em 1955, quando fazia um teste privado.
Traçado em 1972, com a criação da Variante Ascari e o abandono de vez da parte oval do circuito.
Os campeonatos de motociclismo continuavam acontecendo em um traçado sem a chicane, mas depois de cinco mortes em menos de dois meses, as principais competições foram abandonadas, com apenas ligas menores usando a parte júnior do circuito, até serem brevemente retomadas nos anos 1980.
A chicane Ascari sofreria mais uma alteração em 1974, deixando-a com um fluxo melhor e com uma área de escape mais reforçada. Dois anos depois, a curva della Roggia ganhou uma chicane, assim como a reta principal, que ganhou uma chicane dupla, chamada de Variante Rettifilo.
Série de mudanças feitas entre 1974 e 1976. A Variante Ascari teve seu fluxo melhorado e duas novas chicanes foram introduzidas na pista.
Mesmo com as alterações, os acidentes graves continuaram a acontecer. Durante a corrida de 1978, um acidente com vários carros aconteceu na primeira volta. O sueco Ronnie Peterson foi retirado do carro em chamas por James Hunt, mas teve um embolismo no dia seguinte e faleceu.
Acidente na primeira volta com vários carros. Com o carro em chamas, Ronnie Peterson foi resgatado por James Hunt, mas faleceu no dia seguinte.
Depois dos acidentes ocorridos em Ímola, em 1994, todos os circuitos foram revisados, incluindo Monza. Toda a primeira parte do circuito foi alterada, criando mais áreas de escape. Em 2000 veio a última modificação, com a Variante Rettifilo perdendo uma das suas chicanes. Hoje o circuito conta com dois traçados, o Grande Prêmio e o Júnior, que tem 2,405 km e é quase um circuito oval.
Últimas mudanças no traçado, incluindo a mudança na Lesmo em 1995 e a retirada de uma das chicanes da Variante Rettifilo.
Das 69 corridas de F1 disputadas em Monza até 2019, Michael Schumacher e Lewis Hamilton estão empatados em número de vitórias, com cinco cada, mas com o inglês podendo assumir a liderança do quadro esse ano. Os dois pilotos também estão empatados em número de pódios, com 8 cada.
Lewis Hamilton comemora vitória em Monza. Piloto inglês pode se tornar o maior vencedor no circuito.
Já a Ferrari é a equipe que mais venceu no circuito, com 19 vitórias, inclusive a mais recente, com Charles Leclerc, em 2019. Em pódios, a equipe italiana também é imbatível, com 69 pódios, contra apenas 26 da McLaren, que aparece em segundo lugar.
Torcedores vão a loucura com vitória de Charles Leclerc, em 2019, quebrando um jejum de nove anos sem vitórias da Ferrari em casa.
Já entre os pilotos da casa, 14 pilotos italianos já conseguiram um pódio em Monza, sendo 9 deles com a Ferrari. Alberto Ascari, Ludovico Scarfiotti e Giuseppe Farina são os únicos pilotos italianos a vencer no circuito, sendo os dois primeiros com a Ferrari e Farina com a Alfa Romeo.
Entre os brasileiros, Nelson Piquet e Rubens Barrichello estão empatados com 3 vitórias cada. E Barrichello ainda está empatado com Senna em número de pódios, com 5 cada e ainda detém o recorde da pista, conquistado em 2004.
Alberto Ascari e Giuseppe Farina (de óculos), dois dos três pilotos italianos a vencer em Monza.
Além de estar empatado com o maior número de vitórias e pódios entre os brasileiros, Rubens Barrichello também tem o recorde da pista.
Monza já renovou com a categoria até 2024 e espera fazer uma reforma na pista para comemorar o centenário do circuito, em 2022.
Um das pistas que fez parte do primeiro ano da F1 e que ainda está no calendário, Monza já renovou com a categoria até 2024 e espera fazer uma reforma na pista para comemorar o centenário do circuito, em 2022, eliminando algumas chicanes para voltar a velocidade que lhe rendeu o apelido de Templo da Velocidade.
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