Circuitos: Spa-Francorchamps

Um dos circuitos preferidos dos pilotos, Spa-Francorchamps é famoso por suas curvas desafiadoras e seu passado trágico. 

Ficha técnica
Nome do circuito: Circuito de Spa-Francorchamps
Comprimento da pista: 7,004 km
Número de voltas: 44
Distância total: 308,052 km
Recorde da pista: 1:46.286, Valtteri Bottas (2018)
Primeira corrida na F1: 1950

O circuito de Spa-Francorchamps tem uma longa tradição no automobilismo. Além de fazer parte da primeira temporada da F1, também é um dos que mais recebeu corridas da categoria até o momento. A história do circuito começou com a grande popularidade do automobilismo na Bélgica depois da Primeira Guerra Mundial. O cavaleiro Jules de Thier buscava um local para trazer de volta a La Meuse Cup, uma corrida patrocinada pelo jornal La Meuse, no qual Thier era dono e que foi interrompida pela guerra. Thier se encontrou com o Barão Joseph de Crawhez (prefeito de Spa) e o piloto Henri Langlois van Ophem, para escolher onde o circuito seria construído. O local escolhido foi um triângulo formado pelas estradas 32, 23 e 440, que conectam as cidades de Francorchamps, Malmédy e Stavelot.

Primeiro traçado de Spa, nos anos 1920, que tinha 15,820 km.

A primeira tentativa de se organizar uma corrida em Spa aconteceu em 1921, mas com somente um inscrito, a corrida não foi adiante. A pista, que tinha 15,820 km, acabou sendo inaugurada por motociclistas, com os carros só competindo em 1922. Dois anos depois, foi a vez das 24 Horas de Francorchamps serem disputadas. O primeiro grande evento internacional veio em 1925, com o GP da Bélgica, válido pelo Mundial de Construtores e organizado pela AIACR (Association Internationale des Automobile Clubs Reconnus, hoje conhecida como FIA). A corrida foi vencida por Antonio Ascari, que pilotando uma Alfa Romeo, completou os 800 km da prova em 6h43m. 
Em 1939, veio a mudança que culminou na criação de uma das mais famosas sequências de curvas do automobilismo: Eau Rouge e Raidillon, quando um trecho foi construído por cima da Virage de Ancienne Douane, ligando as duas curvas. O nome Eau Rouge vem de um riacho de 15 km que passa por debaixo do circuito e que por ter uma alta concentração de ferro, sua água acaba tendo uma coloração avermelhada.

Traçado de Spa em 1939, com a criação da Eau Rouge e Raidillon, passando por cima da Virage de Ancienne Douane.

 

Nome Eau Rouge vem do riacho que passa embaixo do circuito e tem sua água avermelhada pelo excesso de ferro.

Assim como aconteceu nas outras pistas da Europa, a Segunda Guerra Mundial trouxe destruição ao circuito de Spa, que teve que esperar até 1947 para que a reconstrução fosse concluída, com a mudança da curva Stavelot, que foi alterada para que o circuito se mantivesse dentro dos limites da cidade e a retirada da chicane Malmedy, que tinha sido introduzida numa mudança em 1934.

Traçado de Spa entre 1947 e 1978. Curva Stavelot foi alterada para ficar dentro dos limites da cidade.


No dia 18 de junho de 1950, Spa recebeu sua primeira corrida de F1, vencida por Juan Manuel Fangio. A corrida contou com a participação de Alberto Ascari, filho de Antonio, primeiro vencedor no circuito, que chegou em 5º e depois veio a vencer o GP da Bélgica em 1952 e 1953. 

Fangio lidera o GP da Bélgica. Piloto argentino se tornou o primeiro a vencer uma corrida oficial da F1 no circuito.

Mas o maior problema do circuito era a segurança e acidentes graves eram frequentes. Um dos pilotos a se acidentarem na pista foi Stirling Moss, que bateu forte na curva Burnenville, durante o treino para a corrida de 1960 e sofreu várias fraturas, inclusive nas pernas. Ao ir buscar socorro, o piloto Mike Taylor teve uma quebra de barra de direção e bateu forte, ficando paralisado por anos. Durante a corrida, Chris Bristow e Alan Stacy perderam a vida na mesma curva em que Moss se acidentou, sendo os dois únicos pilotos de F1 a falecerem no circuito, das 48 vítimas fatais da pista até o momento. A morte de Bristow revela a falta de segurança da época, já que o piloto perdeu o controle do carro e capotou, sendo decapitado por uma cerca de arame farpado que ficava ao lado da pista. Os guard rails só seriam instalados no circuito três anos depois.

Destroços do carro de Stirling Moss, um dos quatro graves acidentes durante o fim de semana do GP da Bélgica de 1960.

Em 1966, um grave acidente fez Jackie Stewart pedir mais segurança, não só para os carros, mas nos circuitos também, já que naquela época, não havia muitos fiscais ou equipe médica no local. Após o acidente, Stewart foi socorrido por Graham Hill e Bob Bondurant, que viram o carro do escocês capotar. Com ajuda de espectadores, já que não havia fiscais na pista, conseguiram tirar o piloto do carro e o levaram para um celeiro numa fazenda perto da pista, até a chegada da ambulância, que só foi enviada pelo diretor de prova quando ele viu que apenas sete carros completaram a primeira volta e mandou o resgate atrás dos pilotos faltantes.

Carro de Jackie Stewart depois de acidente em 1966. Piloto teve que ser resgatado por colegas e espectadores e passou a exigir melhores condições de segurança nas pistas.

Os pilotos se juntaram a Stewart pedindo medidas de segurança em Spa e como não foram atendidos, a corrida de 1969 foi boicotada. No ano seguinte, uma obra no último minuto instalou barreiras em volta da pista, depois que a chicane na Malmedy foi reconstruída. A corrida de 1970, vencida pelo mexicano Pedro Rodriguez, foi a última no circuito antes do GP da Bélgica passar a ser disputado nos circuitos de Zolder e Nivelle. As 24 horas de Spa, assim como outras séries de carros esportivos e motovelocidade continuaram a correr no circuito, mas entre 1971 e 1975, mais oito mortes aconteceram na pista belga. Uma mudança foi feita, instalando uma chicane na Masta Kink, mas o resultado foi pior do que o esperado e sendo mais perigosa que a própria curva, a chicane nunca foi usada.
Se nada fosse feito com relação à segurança da pista, o circuito corria um sério risco de não receber mais nenhuma categoria. A solução veio em 1979, com a construção de uma seção de 6,947 km, mudando o formato da pista para o que é conhecido hoje. A solução agradou, já que criou uma pista que reunia desafio, mas sem se descuidar muito da segurança.

Novo traçado utilizou apenas uma parte do traçado original. Com isso, Spa passou a ter 6,947 km, menos da metade do tamanho anterior.


Outras mudanças vieram para tentar diminuir a velocidade dos carros, com a construção da chicane “Bus Stop”, que na verdade era o local de uma parada de ônibus de verdade, já que o circuito ainda era formado por ruas públicas. Depois de vários acidentes em Zolder, a F1 voltou para Spa em 1983, usando os boxes construídos para a F1, entre a Bus Stop e a La Source, Em 1985, Spa passou a sediar o GP da Bélgica definitivamente.

Chicane Bus Stop, que na realidade, era um ponto de ônibus, já que parte do circuito era formado por ruas públicas.

Traçado de Spa em 1983, já com a chicane Bus Stop e a mudança da linha de largada/chegada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar da segurança ter sido reforçada, acidentes continuaram a acontecer, como o de Alex Zanardi, na Raidillon, durante o treino para a corrida de 1993. Por conta desse acidente, uma chicane foi adicionada na Eau Rouge, mas a mudança durou apenas um ano, com o traçado original voltando a ser usado, com uma área de escape aumentada. Outra mudança estreou em 2000, com alteração da entrada e saída dos boxes. Outra mudança expressiva veio em 2004, com a alteração na entrada da Bus Stop, que ganhou uma curva acentuada antes de seguir para a chicane.

Traçado de Spa em 2004. Principal mudança foi na Bus Stop, que ganhou uma entrada mais acentuada.

Se tudo parecia seguro para o circuito, uma demanda por mais mudanças, feitas por Bernie Ecclestone em 2005, colocou em cheque a continuidade do circuito no calendário. Com uma administração falida, o circuito não conseguiu cumprir com o pedido e a corrida não aconteceu e 2006, depois de já ter ficado de fora em 2003, quando a proibição de propaganda de tabaco passou a vigorar. O governo da Wallonia, onde o circuito está localizado, teve que correr para liberar o dinheiro necessário para a reforma, que incluiu novas instalações dos boxes, o que afetou a Bus Stop, que ganhou espaço para ser remodelada, assim como a La Source, que foi ampliada. Outra mudança foi o fechamento das estradas ao redor, para tornar Spa um circuito permanente e fechado pela primeira vez.

Traçado de Spa desde 2007, com mudança radical na Bus Stop.


Apesar de todas as alterações, Spa continua sendo uma pista perigosa, principalmente nas curvas Eau Rouge e Raidillon, que no total vitimou sete pilotos em toda a história do circuito, sendo o piloto francês Anthoine Hubert, o último a falecer nessas curvas, quando se envolveu em um acidente com múltiplos carros durante a primeira corrida da F2, em 2019. O outro piloto envolvido, Juan Manuel Correa, quase teve um pé amputado e um ano após o acidente, ainda se recupera das lesões sofridas. 

Piloto francês Anthoine Hubert, que faleceu após um grave acidente na Raidillon, em 2019.

Outro grave acidente aconteceu em 2018, durante o treino para as 6 horas de Spa, Pietro Fittipaldi quebrou as duas pernas depois que uma pane elétrica o fez perder o controle do carro. Na F1, o último piloto a se acidentar nas famosas curvas foi Kevin Magnussen, em 2016. A batida do dinamarquês foi tão forte que o encosto de cabeça saiu voando. Apesar da força da batida, o piloto dinamarquês sofreu apenas um corte no tornozelo. A primeira curva também teve sua cota de acidentes, muitos envolvendo vários pilotos. O mais famoso sendo a da largada de 1998, quando David Coulthard perdeu o controle do carro e bateu na barreira de proteção. O impacto devolveu o piloto para o meio da pista, causando uma batida que envolveu 13 carros. 

Acidente de Kevin Magnussen em Spa, em 2016. Apesar da batida forte, que soltou o encosto de cabeça do carro, o piloto sofreu apenas um corte no tornozelo.

 

Caos na primeira curva do GP da Bélgica de 1998, depois que David Coulthard bateu e voltou para o meio da pista. No total, 13 carros foram envolvidos.

Quanto aos vencedores, Michael Schumacher foi o piloto que venceu em Spa, com 6 vezes. A pista é especial para o piloto alemão, já que foi lá que ele conquistou a primeira sua vitória em 1992, um ano depois de ter estreado na F1 no mesmo circuito. Foi também em Spa que o piloto celebrou seu sétimo título por antecipação, em 2004. Outro piloto que comemorou seu primeiro triunfo no circuito belga foi Charles Leclerc, que venceu a corrida em 2019.

Michael Schumacher celebra sua 1ª vitória na F1, em 1992. Piloto alemão é o maior vencedor no circuito, onde também fez sua primeira corrida pela F1, em 1991

Entre os brasileiros, Senna venceu no circuito em 5 ocasiões e Felipe Massa, levou a corrida de 2008. E apesar de ter cinco vitórias, Ayrton Senna nunca conquistou uma volta mais rápida em Spa. Mas o nome Senna não ficou de fora dessa, com Bruno Senna representando a família e conquistado a marca durante a corrida e 2012.

Ayrton Senna celebra vitória em Spa em 1988, a primeira de cinco do brasileiro no circuito. Apesar do sucesso nessa pista, o piloto nunca conquistou uma volta rápida, honra que ficou para seu sobrinho Bruno.

Já entre os belgas, nenhum piloto da casa venceu em Spa até agora, com Paul Frere, Olivier Gendebien e Jacky Ickx, conseguindo apenas pódios. A corrida desse ano terá 3 representantes indiretos do país. Lance Stroll e Lando Norris tem cidadania belga por parte de mãe e Max Verstappen, apesar de correr sob a bandeira holandesa, nasceu na Bélgica e também tem mãe belga.

Lance Stroll, Max Verstappen e Lando Norris. Apesar de não correrem representando a Bélgica, os três tem laços com o país.

 

Com uma longa história no automobilismo, Spa-Francorchamps está garantido até 2022.

E uma boa notícia para os fãs do circuito e para muitos pilotos, que tem a pista belga como sua favorita: o circuito já teve seu contrato renovado e continuará a abrigar a F1 pelo menos até 2022. Atualmente, Spa também abriga corridas da WEC como as 6h e 24h de Spa, além de provas de GT, motovelocidade e DTM.

 

 

 

 

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