História dos Circuitos da Fórmula 1 – Jacarepaguá

Boa noite amados, a nossa inédita viagem pelas pistas do calendário da Fórmula 1, será recheada por tons de saudosismo e também por um pouco de melancolia, pois ela será feita pelo antigo traçado do nosso amado autódromo brasileiro de Jacarepaguá, o qual era situado no coração da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e presenciou momentos bastante marcantes, não só para a riquíssima história do automobilismo brasileiro, como também para as corridas automobilísticas mais importantes a nível mundial. Vamos agora mesmo matar a saudade e destrinchar tudo o que havia de mais encantador nesse sensacional autódromo carioca.

História

Embora pouco conhecido, o sinuoso traçado do Autódromo Nova Caledônia foi o embrião inicial para a existência da pista de Jacarepaguá. O autódromo foi construído no ano de 1965 e foi inaugurado oficialmente em 1967.

A história desta magnifica pista brasileira, a qual estava situada na belíssima cidade do Rio de Janeiro, começou ainda no ano de 1965, quando alguns importantes pilotos e dirigentes automobilísticos locais, após constatarem os grandes riscos que os circuitos citadinos até então comumente utilizados para as corridas ofereciam a integridade dos mesmos e dos espectadores, decidiram que já era a hora de pleitearem a construção de um circuito permanente que proporcionava mais conforto e segurança para as referidas competições.

O renomado arquiteto paranaense Ayrton “Lolô” Cornelsen (foto) foi o responsável por projetar o traçado do Autódromo Nova Caledônia. O empreendimento planeado por Cornelsen previa ainda, a construção de um ousado e bastante variado complexo turístico, em torno do circuito, o qual infelizmente nunca saiu do papel.

Esta ousada ideia começou a sair do papel, quando os idealizadores do projeto acabaram sabendo por acaso da insolvência da Companhia de Loteamentos Nova Caledônia e que a massa falida desta mesma empresa, havia deixado como um de seus ativos, um grandioso e privilegiado terreno localizado em um manguezal às margens da Lagoa de Jacarepaguá, lagoa esta, a qual estava situada na longínqua zona oeste do município carioca, sendo assim o renomado arquiteto paranaense Ayrton “Lolô” Cornelsen foi o escolhido para projetar todo o complexo do novo circuito, incluindo até mesmo o traçado dele.

O arrojado empreendimento planejado pelo curitibano, incluiria além do Autódromo Nova Caledônia e seu sinuoso traçado misto acoplado a uma configuração oval localizada na parte externa deste, um grandioso complexo turístico composto por luxuosos hotéis, uma marina para os iates dos visitantes mais abastados, uma série praças esportivas que possibilitariam a realização de outras competições relacionadas a esportes como voleibol, esqui aquático, pesca e vela e até mesmo um cassino. Com este projeto, a estimativa era de que o autódromo continuasse sendo rentável e auto-suficiente, mesmo quando as corridas não eram executadas nele, sendo assim, o circuito teve a suas obras concluídas no ano de 1965 e a sua inauguração se deu em 1967.

Porém, apesar do autódromo ter sido construído nesta região, as demais instalações vislumbradas por Cornelsen, jamais chegaram a ser edificadas, devido ao fato de o então governador do estado na época ter se apropriado das terras vizinhas da pista, visando a criação de um novo bairro, no caso a região compreendida como a atual Barra da Tijuca. Ainda que esses pormenores tivessem atrapalhado um pouco os planos iniciais, a pista sediou competições domésticas por vários anos, antes de ser brevemente fechada visando a execução de uma meta ainda mais ousada do que a original, a ideia é que o circuito fosse totalmente remodelado para receber o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, o qual era sediado na pista paulistana de Interlagos em um regime que compreendia a mais absoluta exclusividade, durante praticamente toda a década de 1970.

O traçado mais conhecido de Jacarepaguá pelo grande público, surgiu apenas nas reformas de 1977 e teria impressionado diversos pilotos da época por ser bastante desafiador.

As obras do agora rebatizado e remodelado Autódromo de Jacarepaguá, finalmente foram concluídas no ano de 1977, após alguns incômodos e longos atrasos, mas apesar dos referidos transtornos, o circuito carioca finalmente teve a sua merecida chance de ouro no mês de janeiro de 1978, quando sediou o Grande Prêmio do Brasil pela primeira vez. O novo traçado tinha 5.031 km de extensão, percurso este que acabou por chamar a atenção de vários pilotos por possuir curvas e retas de caráter bastante variado, isso significaria que a nova pista iria ser bastante desafiadora para eles e para os seus incríveis bólidos.

A corrida de estreia de Jacarepaguá como sede do Grande Prêmio do Brasil, ocorreu no ano de 1978 e teve o argentino Carlos Reutemann da Ferrari como vencedor…

Mas quem roubou a cena foi o brasileiro Emerson Fittipaldi e a sua Copersucar ao chegarem na segunda colocação. O primeiro pódio de uma equipe brasileira na Fórmula 1 levou os espectadores ao delírio e a euforia.

Esta estreia não poderia ter sido feita em melhor estilo, pois apesar do severo calor da chamada “cidade maravilhosa” ter castigado a multidão apaixonada de fãs de automobilismo que lotaram a pista para assistir a essa corrida, no final os mesmos acabaram por sair ainda mais eufóricos e satisfeitos do que estavam antes de a largada ser dada, pois eles acabaram presenciando uma performance magistral do bicampeão brasileiro Emerson Fittipaldi, a qual valeu a segunda colocação, logo atrás do argentino Carlos Reutemann da Ferrari, que se sagrou vencedor da etapa brasileira. Este foi o primeiro pódio conquistado, não somente da Copersucar-Fittipaldi, como também de uma equipe brasileira na Fórmula 1.

Outros grandes momentos ocorridos em Jacarepaguá, foram a vitória do brasileiro Nelson Piquet na corrida de 1983.

A histórica dobradinha brasileira protagonizada por Piquet e Ayrton Senna na edição de 1986…

E os acontecimentos da etapa de 1989, a qual foi a última disputada no circuito carioca. O vencedor Nigel Mansell da Ferrari pilotava o primeiro carro dotado de câmbio semi-automático, através do acionamento via borboletas localizadas atrás do volante e o brasileiro Maurício Gugelmin da March, conquistou o seu único pódio na Fórmula 1.

Após uma breve ausência dos calendários das temporadas de 1979 e de 1980, Jacarepaguá passou a sediar o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de maneira hegemônica e alguns testes de pré-temporada, a partir do ano seguinte e como não poderia deixar de ser, grandes momentos da história da categoria foram eternizados nas corridas disputadas no circuito carioca, como por exemplo uma magistral performance que valeu o 4º lugar ao suíço Marc Surer a bordo da sua Ensign na chuvosa edição de 1981, a despedida do argentino Carlos Reutemann da categoria e as polêmicas desclassificações de Nelson Piquet e Keke Rosberg na prova de 1982, a primeira vitória de um piloto brasileiro na pista conseguida através de Piquet em 1983, a primeira corrida de Ayrton Senna no mundial ocorrida na edição de 1984, a histórica dobradinha de Nelson e Ayrton na etapa de 1986, a estreia de Senna na equipe McLaren em 1988, além da estreia do inovador sistema câmbio semi-automático da Ferrari com acionamento do volante e do único pódio do brasileiro Maurício Gugelmin, ocorridos na derradeira edição de 1989.

Infelizmente, o ano de 1989, também marcou um dos mais tristes acontecimentos da história de Jacarepaguá. O francês Philippe Streiff, que na época era piloto da modesta equipe AGS ficou tetraplégico, em decorrência de um acidente ocorrido nos testes de pré-temporada daquela temporada, os quais estavam sendo realizados no circuito carioca.

Infelizmente, alguns momentos bastante pesarosos para o certame, como a morte de um torcedor causada pela queda do mesmo de uma das arquibancadas da pista carioca, o acidente que deixou o francês Philippe Streiff tetraplégico nos testes de pré-temporada e problemas relacionados a revista de alguns torcedores, ambos os fatos ocorridos na corrida de 1989, também deixaram o Autódromo de Jacarepaguá negativamente marcado junto a Fórmula 1. Estes fatores lamentavelmente contribuíram para que a categoria retornasse ao circuito de Interlagos, já na temporada de 1990.

Após a saída da Fórmula 1, Jacarepaguá sediou outras importantes categorias do desporto motorizado até o ano de 2004. Quando a partir do ano seguinte, visando obras para os jogos Pan-Americanos, começou a ser destruído aos poucos pela Prefeitura do Rio de Janeiro…

Até ser totalmente desativado e demolido no decorrer do ano de 2012…

Para dar lugar ao atual Parque Olímpico, o qual foi sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016.

Após a saída de Jacarepaguá da Fórmula 1, a pista ainda recebeu uma grande reforma no ano de 1995, o que possibilitou que o Rio de Janeiro, continuasse a receber corridas de outras grandiosas categorias de caráter nacional e mundial, como a Indy, a Stock Car Brasil e a MotoGP, seguindo essa tônica até o ano de 2004, quando alguns planos que visavam transformar o Rio em cidade sede dos Jogos Pan-Americanos e das Olimpíadas acabaram por destruir a pista pouco a pouco, até a sua desativação completa no recente ano de 2012. A Stock Car Brasil, a Fórmula Truck e o Brasileiro de Motovelocidade foram responsáveis por organizarem as últimas corridas desta valorosa e lindíssima joia carioca em formato de autódromo, antes de sua demolição completa enfim ser concluída para dar lugar ao atual Parque Olímpico, em meados de novembro de 2012, tudo que restou nos dias atuais foram apenas dolorosas saudades dos tempos de ouro do Autódromo Internaional Nelson Piquet e do Circuito Oval Emerson Fittipaldi.

Estatísticas

Tabela contendo todos os vencedores das corridas disputadas em Jacarepaguá. O francês Alain Prost é o maior vencedor entre os pilotos com cinco conquistas, enquanto a McLaren é a grande soberana entre as equipes com 4 triunfos conquistados. (Fonte: GP Expert)

Volta Recorde: 1:25:302 (Ayrton Senna, McLaren-Honda MP4/5, 1989) – Qualificação.

Maior Vencedor (Pilotos): Alain Prost (França) – 5 vitórias.

Maior Vencedor (Equipes): McLaren (Reino Unido) – 4 vitórias.

Linha do Tempo

O embrião do Autódromo de Jacarepaguá, foi o traçado do chamado “Autódromo Nova Caledônia”. Esta variante foi utilizada entre os anos de 1967 e 1970, contudo sua extensão é desconhecida.

O traçado de 5.031 km de extensão, o qual é um dos mais conhecidos pelo grande público, surgiu apenas no ano de 1977 e durou até 1994. Foi a única configuração de Jacarepaguá utilizada pela Fórmula 1.

O ano de 1995 marcou as primeiras mudanças drásticas realizadas no traçado do autódromo carioca, pois além das alterações feitas nas curvas Carlos Pace, Nonato, Norte, Sul e Girão, um circuito oval foi acrescentado ao complexo. Esta variante possuía 4.933 km de extensão e foi utilizada até o ano de 2005, ano este que acabou por marcar a despedida do traçado longo.

O ano de 2006 marcou o início dos acontecimentos terríveis que culminaram com a extinção do autódromo, a começar pela mutilação do traçado original, a qual visava executar obras para os Jogos Pan-Americanos de 2007. O traçado curto restante foi utilizado até o ano de 2009 e tinha a extensão de 3.336 km.

A demolição do autódromo já estava praticamente decretada no ano de 2010, quando foi realizado um pequeno rearranjo com uma das curvas do antigo circuito oval, ampliando um pouco mais a extensão da pista para 3.370 km. Esta derradeira configuração do circuito foi utilizada até a sua despedida, a qual ocorreu no ano de 2012.

Características

O traçado do saudoso Autódromo de Jacarepaguá que nós iremos destrinchar nessa sessão, será o utilizado pela Fórmula 1 no período 1978-1989, o qual possui 5.031 km de extensão.

  • Molykote: A primeira curva do circuito possuía raio longo e era tangenciada para a direita. O trecho, cujo nome era uma referência à esta famosa marca de lubrificantes automotivos, necessitava de uma pequena redução de velocidade na sua entrada, para logo em seguida, no decorrer do curso da curva, poder novamente retomar a aceleração total dos bólidos.
  • Carlos Pace: Era uma curva de baixa/média velocidade tangenciada para a esquerda, a qual necessitava de um severo uso de freios e uma providencial redução para a terceira marcha na sua primeira perna, porém a maior dificuldade deste setor era em relação aos incômodos bumps, que não permitiam que os pilotos pudessem acelerar um pouco mais as suas máquinas na curva que foi batizada com o nome do célebre piloto paulistano.
  • Suspiro/Cheirinho: Se tratava de uma das mais desafiadoras curvas de todo o traçado de Jacarepaguá, uma velocíssima guinada para a esquerda, recheada de traiçoeiras ondulações e a qual possuía uma área de escape minúscula. Por conta desses fatores, não eram poucos os casos de pilotos que tiravam o pé neste trecho com medo de cometerem irremediáveis erros de cálculo na trajetória da curva ou temendo que seus carros sucumbissem aos incômodos bumps. Foi nesta curva que o piloto francês Philippe Streiff sofreu o acidente que encerrou sua carreira por completo.
  • Nonato: Outra curva que possuía um elevado grau de dificuldade na sua tangência, teoricamente era uma curva de aceleração plena para a direita que poderia ser feita de motor cheio sem maiores problemas, todavia a sua entrada era praticamente cega e ela exigia que a velocidade dos carros fosse milimetricamente dosada pelos pilotos, já que uma brusca freada em direção a temida curva Norte estava por vir.
  • Norte: Este era considerado o setor mais complicado de todo o trajeto, já que se tratava de uma fechadíssima curva de baixa velocidade tangenciada para a esquerda, com angulação de 180º, uma fortíssima freada e que ainda por cima possuía uma acentuada inclinação, a qual quando era combinada com os já citados bumps, o cansaço físico dos pilotos e abusos de pilotagem dos mesmos na curva Nonato, eram a receita perfeita para inoportunas perdas de tempo em uma volta rápida ou mesmo acidentes de proporção cinematográfica. Também se tratava de um dos melhores pontos de ultrapassagem de Jacarapeguá.
  • Reta Oposta/Junção: Era a maior reta de todo o autódromo e onde eram atingidas as maiores velocidades do mesmo. Uma maravilhosa curiosidade sobre este setor, era que tanto os espectadores, quanto os próprios pilotos, dispunham de uma magnífica visão para a paisagem natural que circundava a saudosa pista de Jacarepaguá.
  • Sul: Era uma belíssima curva de raio bem longo, considerada praticamente “interminável” pelos pilotos, a qual era tangenciada para a esquerda, em altíssima velocidade pelos bólidos. A única coisa que ela necessitava era de uma breve e imperceptível redução de marchas em sua entrada, para logo em seguida voltar a acelerar novamente em direção ao próximo setor.
  • Girão: Se tratava de uma curva de 90º, contornada para a direita, em média velocidade.
  • Morette: Era uma outra curva de 90º, a qual poderia ser contornada a uma velocidade bastante aceitável para este setor, contudo, ela era tangenciada para a esquerda.
  • Lagoa: Era uma curva fechada tangenciada para a esquerda, dotada de uma imperceptível inclinação, a qual necessitava de um uso mais contundente e decidido dos freios por parte dos pilotos, já que era de baixa velocidade. Era outro valioso ponto de ultrapassagem da pista.
  • Box: Uma outra curva de 90º tangenciada para a esquerda, porém ao contrário das outras duas, ela possuía uma angulação mais fechada e só aceitava ser contornada em baixa velocidade.
  • Curva da Vitória: Para nós encerrarmos a nossa volta rápida imaginária pela pista de Jacarepaguá com chave de ouro, nós temos como última curva do circuito, um desafiador cotovelo de 180º, contornado em baixa velocidade e tangenciado para a direita. Este setor tinha esse curioso nome, por conta de algumas corridas disputadas no autódromo carioca, terem sido decididas justamente nessa última curva, quando algum piloto executava com grande sucesso alguma ousada manobra de ultrapassagem sobre o competidor que fosse o líder dessas provas, disputas essas, as quais obviamente levaram as multidões de espectadores ao estado de mais absoluto êxtase nas arquibancadas.

Onboard em Jacarepaguá

Vá de carona com o francês Patrick Depailler, a bordo da sua Tyrrell-Ford Cosworth 008, em uma volta realizada no Grande Prêmio do Brasil de 1978.

Muito bem amados, chegamos ao fim desta maravilhosa viagem pelo saudoso autódromo brasileiro de Jacarepaguá, com esse texto nós conseguimos não apenas dissecar tudo sobre esse magnifico circuito carioca, como também matamos as saudades dos mais importantes momentos que essa joia localizada na orla do Rio de Janeiro, já proporcionou aos adeptos de desportos motorizados de todo o Brasil. Espero muito que todos os leitores tenham gostado e quero desejar um abraço bastante caloroso nos corações de todos!

Att Bárbara Maffessoni.

 

 

 

 

 

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