História dos Circuitos da Fórmula 1 – Kyalami
Boa noite amados, a nossa maravilhosa e encantadora viagem por todas as pistas de corrida que já frequentaram ou frequentam o calendário da Fórmula 1 continua, sendo assim embarque agora nesta aventura pelo técnico e desafiador circuito de Kyalami, uma verdadeira pérola localizada no coração da província de Gauteng, próxima a Joanesburgo, na África do Sul. Kyalami segundo uma palavra traduzida da nativa linguagem zulu, significa “minha casa”, bastante acolhedor não é? Então sem mais delongas, vamos destrinchar cada detalhe do mais marcante autódromo africano de sempre, fazendo um verdadeiro “safári” por ele.
História
A história do mais cativante circuito de corridas da África do Sul e do continente africano em geral, começou no ano de 1961, quando um pequeno grupo de pessoas formado pelo então prefeito de Joanesburgo Dave Marais, juntamente com os pilotos locais Alex Blignaut e Francis Tucker – grupo este que futuramente viria a se tornar o South African Motor Racing Club – notou que o acanhado Circuito Prince George, situado na localidade de East London já não comportava tão bem as demandas da corrida sul-africana da Fórmula 1, foi então que após uma longa reunião entre esses investidores no Kelvin Hotel, acabou fazendo com que os fundadores da nova organização máxima do automobilismo local decidissem construir uma nova pista do zero, visando sediar não apenas os principais campeonatos de automobilismo regionais e do mundo inteiro, mas principalmente aquela que era considerada a maior joia da coroa, no caso um Grande Prêmio do Mundial de Fórmula 1.
Naquele mesmo ano, o circuito de 4.104 km de extensão localizado em um acidentado terreno muito acima do nível do mar foi construído em tempo recorde e tão logo inaugurado, passou a receber corridas de diversas categorias de automobilismo, mas a primeira corrida da Fórmula 1 no circuito viria apenas na temporada de 1967, quando uma Kyalami cada vez mais modernizada substituiu enfim a já cansada pista de East London. Essa corrida de estreia serviu não apenas como cartão de visita para a nova casa sul-africana, ante a categoria, como se tornaria uma das mais emblemáticas da história do mundial.
Esta etapa marcou a primeira vitória de um piloto mexicano no certame através de Pedro Rodríguez e também o desempenho heroico do piloto rodesiano John Love em seu Cooper-Climax alugado, Love que era uma verdadeira celebridade do automobilismo sul-africano e estava inscrito somente para aquela prova, fez bonito logo nos treinos qualificatórios onde largou na 5º posição, contudo o a grandiosa façanha viria mesmo na corrida. Mesmo perdendo várias posições na largada, o rodesiano que conhecia já conhecia a pista com a palma da sua mão, contou com os abandonos de alguns ponteiros, em conjunto com mais algumas brilhantes ultrapassagens, até assumir a liderança de maneira inesperada na volta de número 60 quando Denny Hulme precisou fazer uma longa parada nos boxes. Infelizmente faltando 13 voltas para o fim da corrida de estreia de Kyalami na Fórmula 1, um problema na bomba de combustível tirou a vitória do rodesiano, o deixando com uma boa, porém amarga segunda posição, o que frustrou vários espectadores presentes no autódromo.
Após essa promissora estreia, muitas outras excelentes corridas foram disputadas em Kyalami, quase sempre como etapa de abertura do Mundial, nessas provas houveram muitos momentos interessantes como por exemplo a última vitória da carreira de Jim Clark em 1968, o último triunfo de Jack Brabham em 1970, a primeira corrida vencida por Mario Andretti na Fórmula 1 em 1971, a primeira vitória de Carlos Reutemann em 1974, a corrida de número 300 da Fórmula em 1978, o bicampeonato de Nelson Piquet em 1983, o primeiro ponto de Ayrton Senna em 1984, a última corrida disputada em um sábado no ano de 1985. Infelizmente momentos tristes como as mortes de Peter Revson em 1974, de Tom Pryce e do fiscal Jansen van Vuuren em 1977, o auge da guerra política de FISA e FOCA em 1982 e os constantes boicotes por conta do Apartheid entre os anos de 1983 e 1985, também se eternizaram na estadia da “Casa Zulu” na categoria rainha do automobilismo.
Todos esses momentos ocorreram quando Kyalami ainda possuía seu traçado original datado da década de 1960, pois após a saída da pista da categoria em 1985, devido a pressão da comunidade internacional por conta do regime do Apartheid, ela ainda sofreria 2 drásticas reformas até o seu retorno em 1992, quando o veloz traçado de 4.104 km de extensão deu lugar a um insosso e travado percurso de 4.261 km. As duas últimas corridas de Fórmula 1 disputadas em Kyalami e no continente africano nos anos de 1992 e 1993 respectivamente, tiveram Nigel Mansell e Alain Prost como vencedores, ambos a bordo da mágica Williams “de outro planeta”.
Desde então, pouco se falou de um retorno da Fórmula 1 a Kyalami, pois mesmo com a mais recente remodelação de traçado da “Casa Zulu” ocorrida em 2016, os gerenciadores do circuito afirmam que os custos elevados são um grande entrave para que a pista volte a sediar uma corrida da categoria no momento, mas não descartaram totalmente a possibilidade do atual percurso de 4.580 km de extensão retornar daqui alguns anos, se o momento financeiro assim permitir.
Estatísticas
Volta Recorde (Traçado de 1967-1985): 1:02:366 (Nigel Mansell, Williams-Honda FW10, 1985) – Qualificação.
Volta Recorde (Traçado de 1992-1993): 1:15:486 (Nigel Mansell, Williams-Renault FW14B, 1992) – Qualificação.
Maior Vencedor (Pilotos): Niki Lauda (Áustria) – 3 vitórias.
Maior Vencedor (Equipes): Ferrari (Itália) – 4 vitórias.
Linha do Tempo
Características
- Reta de Largada: É a maior reta de toda a pista, com a largada sendo dada em terreno totalmente plano, ela muda bruscamente para um trecho de enorme declividade em direção a Crowthorne, a primeira curva de Kyalami.
- Crowthorne: Uma traiçoeira e veloz curva de raio longo contornada para a direita dotada de um pequeno declive, é justamente o trecho onde começa o carrossel de alta velocidade da pista. Era bastante comum alguns pilotos mais arrojados, tentarem a sorte em manobras ousadas de ultrapassagem também.
- Barbecue: Curva de raio um pouco menor em relação a Crowthorne, para a direita e onde o trecho em descida é bem maior, embora não pareça, é possível sim contorná-la sem reduzir a velocidade.
- Jukskei Sweep: Após uma brusca interrupção de relevo oriunda da saída da curva Barbecue, nós temos agora uma velocíssima guinada para a esquerda de raio mais aberto do que o das curvas anteriores, desta vez o trecho possui aclive, isto é, possui uma subida bastante íngreme.
- Sunset: A maior e mais rápida curva do circuito, é tangenciada para a direita. Neste trecho, a aclividade do terreno é bem maior do que a subida presente na Jukskei Sweep.
- Clubhouse: A curva mais lenta da pista, é um pequeno cotovelo tangenciado para a esquerda, dotado de uma leve aclividade e onde é bastante necessário manter os freios dos carros em dia, mesmo que ela possibilite certos tipos de improvisos.
- The Esses: Um trecho muito técnico bastante semelhante a um pêndulo no sentido esquerda-direita, o mergulho para a esquerda necessita de um pouco de paciência dos pilotos, porque é preciso reduzir a velocidade de uma maneira em que não ocorra nenhuma perda de tempo na volta rápida, já que ela não possui um ponto de tangência “perfeito”. Já a subida para a direita, pode ser contornada tranquilamente de motor cheio, mesmo possuindo um raio mais fechado, já que a inclinação permite que não haja nenhuma redução de velocidade.
- Leeukop: Curva de 180º tangenciada para a direita, semelhante a um hairpin, mas como ela possui a combinação mista de aclive acentuado e grande inclinação, pode ser contornada em alta velocidade sem maiores problemas.
- The Kink: A última curva do circuito possui características bastante semelhantes as da Jukskei Sweep, mudando apenas o ângulo mais agressivo de sua subida e também a sua direção, cujo tangenciamento se dá para a direita.
Onboard em Kyalami
Embarque de carona na Ensign N180 do suíço Clay Regazzoni, em uma volta onboard datada do ano de 1980, pelo traçado clássico utilizado entre os anos de 1967 e 1985.
Embarque também na carona da McLaren MP4/6 de Ayrton Senna, em uma volta onboard da corrida de 1992, desta vez já com outro traçado.
Muito bem amados, mais uma vez chegamos ao enfim de mais um intenso mergulho sobre a história de uma pista que já esteve encantando os olhinhos dos espectadores na Fórmula 1, espero que tenham gostado de embarcar neste maravilhoso safári pelas retas, curvas, subidas e descidas desse verdadeiro diamante bruto em forma de circuito, localizado no coração da África do Sul. Um abraço bastante caloroso nos corações de todos!
Att Bárbara Maffessoni.