Peter Collins

Na história dá Fórmula 1 há vários casos de pilotos que foram promessas. Aquele jovem iniciante talentoso, que não tem um equipamento vencedor, mas tem um óbvio talento e um futuro promissor, e que todos consideram que será um futuro campeão quando tiver um carro a altura do seu talento; mas que por algum motivo isso não se concretiza. Podem ser vários esses motivos: um mau gerenciamento da carreira, instabilidade psicológica por não suportar a pressão e responsabilidade de representar uma equipe grande, estar no lugar certo na hora errada, acidentes fatais ou não… Há o recente exemplo de Robert Kubica, que todos consideravam um futuro campeão, um piloto com um claro talento e capacidade, mas que teve sua carreira na Fórmula 1 irremediavelmente prejudicada por causa de um acidente em um carro de rali.

Um dos primeiros casos na categoria foi o de Peter Collins.

Peter John Collins nasceu em 6 de Novembro de 1931 em Kiddermaster, no Worcestershire, Inglaterra. Era filho de um vendedor de automóveis bem sucedido, e começou a sua carreira logo depois do final da II Guerra Mundial. Foi contemporâneo de Stirling Moss, e ambos começaram na Fórmula 3, categoria onde dominavam os motores de 500 cc, montados por vários construtores como Cooper ou HWM. Foi aliás com esta última equipe que Collins começou a tentar a sua sorte na Fórmula 1 aos 21 anos, em 1952, sem resultados expressivos. Em 1954, foi para a Vanwall, mas os resultados também foram precários, sem colocar o seu carro na zona dos pontos. A mesma coisa aconteceu em 1955, desta vez a bordo de um Maserati 250, inscrito pela BRM.

De 1952 a 1958 participou das 24 Horas de Le Mans, com as equipes Aston Martin, David Brown e Ferrari.

De 1953 a 1957 competiu nas Mille Miglia, pelas mesmas equipes.

Enzo Ferrari e Peter Collins

Seu talento para a pilotagem fizeram com que fosse contratado por Enzo Ferrari para guiar um dos seus carros para a temporada de 1956. E foi aí que Collins mostrou todos os seus dotes de pilotagem… e quase foi campeão do mundo! começou por ser segundo em Mônaco, depois ganhou na Belgica e na França, vitórias essas que só não foram surpreendentes para quem conhecia os seus dotes de condução.

Após isso, Collins foi segundo em Silverstone, e chegou à ultima prova do campeonato, em Monza, numa posição em que poderia ser campeão do Mundo. Nessa corrida, Fangio estava liderando, quando teve um problema na coluna de direção, e teve que ir para os boxes. A equipe ordenou a Luigi Musso para que cedesse o lugar a Fangio, mas o italiano recusou. Contudo, o piloto argentino teve o carro de Peter Collins para prosseguir a corrida e ganhar o título (Na época o regulamento permitia a troca de carros entre pilotos da mesma equipe).


Fangio terminou a corrida em segundo lugar (vencida por Stirling Moss) e conseguia os pontos suficientes para ser campeão do mundo pela quarta vez. Quando perguntaram a Collins o porquê deste gesto de aparente “fair-play”, ele responsdeu: “Sou muito jovem para ser Campeão do Mundo, haverá outras oprtunidades”. Caso tivessem sido aplicadas as regras de hoje, Collins teria sido o campeão do mundo mais novo até 2005, quando Fernando Alonso conquistou o seu primeiro título mundial… Nesse ano, Collins obteve duas vitórias, cinco pódios e 25 pontos no campeonato, terminado em terceiro lugar.

Peter Collins, Fangio e Mike Hawthorn

Em 1957, Collins teve um novo companheiro de equipe: o seu compatriota Mike Hawthorn. Os dois estabeleceram de imediato uma empatia nas pistas e fora delas, uma amizade que durou até ao fim. Hawthorn chamava-o de “mon ami mate”. Nesse tempo, Collins conheceu e se casou com uma herdeira americana, Louise King, e viviam juntos uma vida de “jet set em Mônaco, onde o casal tinha um iate. Contudo, a temporada de 1957 foi ruim, em comparação com a anterior. O melhor que Collins teve foram dois terceiros lugares em Reims e Aintree. no final da temporada, Collins foi nono no campeonato, com oito pontos, e dois pódios.


Em 1958, a Ferrari conseguiu um modelo melhor: o Dino 246. Collins e Hawthorn sabiam que tinham um carro para competir com os Vanwall e os emergentes Cooper de motor traseiro, que tinham surpreendido o mundo da Fórmula 1 ao ganhar as duas primeiras corridas do campeonato, em Buenos Aires e em Mônaco, com Stirling Moss e Maurice Trintignant. Foi terceiro em Mônaco, e só voltou a pontuar em Reims, acabando a corrida na quinta posição.

E em Silverstone, com Collins no sexto lugar no grid de largada, disparou logo para a primeira posição, e não mais a largou até ao final da corrida. Era a sua terceira vitória na carreira, e tudo indicava que poderia ser o que precisava para disputar pela segunda vez o título mundial, com o seu maior rival, Mike Hawthorn.


A prova seguinte era no temido “Inferno Verde”, o circuito alemão de Nurburgring. Nos treinos, Collins foi quarto, e no dia da corrida, em 3 de agosto de 1958, Collins e Hawthorn perseguiram até à décima volta o Vanwall do seu compatriota Tony Brooks, uma perseguição incessante que terminou em tragédia. Nessa décima volta, Brooks liderava, com Collins em segundo e Hawthorn em terceiro. Então, quando os três pilotos chegaram a Pflanzgarten, o carro de Collins fez a curva muito aberta e bateu numa vala, desaparecendo da vista de Hawthorn, que ia logo atrás. O inglês foi cuspido para fora do carro e bateu contra uma árvore, causando traumatismos graves no crânio. Levado para Colônia, o inglês morreu no final dessa tarde, aos 26 anos.

Apesar de não ter terminado a temporada de 1958, nesse ano ganhou uma corrida e conseguiu dois pódios, terminando na sexta posição, totalizando 14 pontos. Quanto à sua carreira na Fórmula 1, o resumo é este: 35 Grandes Prêmios, em sete temporadas (1952-58), três vitórias, nove pódios, 47 pontos no total.


Um depoimento de um amigo de Collins, no documentário “Ferrari: The Race To Immortality”:

Peter foi um dos grandes pilotos da Fórmula 1. Viajamos de país para país, de grande prêmio a grande prêmio. Eu me sentava nos boxes enquanto ele corria e, à noite, todos se reuniam nos hotéis e restaurantes.

Participou da Mille Miglia de 1957, uma corrida de resistência de estrada ao longo de 1000 milhas pela Itália. Peter competiu junto com Alfonso de Portago, um piloto da Ferrari. Eles eram amigos e bastante parecidos – ambos estavam determinados a espremer cada gota de excitação da vida. Alfonso nunca esteve sem uma garota.

Esta foi a última vez que vimos Alfonso. Ele estava liderando a corrida quando um pneu explodiu e seu carro voou para a multidão, matando-o, seu navegador e nove espectadores. Cinco deles eram crianças. Foi uma catástrofe. Eles nunca mais fizeram a Mille Miglia depois disso.

Não me lembro como Peter reagiu. Corridas eram perigosas: a morte não era comum, mas também não era incomum. Os pilotos aceitavam os riscos, porque essa era a vida que eles amavam. Eu me lembro quando Peter começou a falar sobre se algo acontecesse com ele, mas eu disse a ele que isso não iria acontecer. Eu não via nada de bom em pensar sobre isso.

Eu nunca me preocupei. Eu sabia que ele não era indestrutível, mas ele sabia administrar os riscos. Ele foi um ótimo piloto: quando venceu o Grande Prêmio da Inglaterra em julho de 1958, chegou a dizer que poderia se tornar o melhor. Ele tinha 26 anos. Ele morreu três semanas depois. Ele perdeu o controle em uma curva durante o Grande Prêmio da Alemanha. Eles dizem que ele foi jogado do cockpit e bateu em uma árvore. Eu não gosto de pensar nisso.

Eu estava nos boxes. Eu sabia que algo estava errado quando ele não apareceu, mas foi só quando descobri que ele estava sendo levado de helicóptero para o hospital que percebi que era sério. Quando cheguei lá, fui levado para um telefone – meu pai estava na linha dos EUA. Ele tinha ouvido o que tinha acontecido e tinha puxado os cordões para descobrir mais. Ele me disse que Peter tinha ido embora. Ele disse que não queria que um estranho me contasse.
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Eles me levaram para o porão e me mostraram seu corpo. Eu vi o pé dele debaixo do lençol e disse que era o suficiente. Eu ainda posso ver isso agora. Isso nunca vai me deixar. Nós tínhamos acabado de comprar nossa primeira casa, perto de seus pais em Kidderminster. Nós estávamos apenas começando nossa vida juntos, e lá estava: acabou.

Voltei para os EUA depois. Eu tive apenas um ano e meio de convivência com Peter, mas foram os momentos mais felizes. Ele era um homem maravilhoso: um piloto brilhante com um espírito brilhante. Eu me sinto muito sortudo por ter feito parte da vida dele.


Peter Collins era um excelente piloto, e tinha tudo que era necessário para ser Campeão do Mundo. Essa tinha sido a segunda morte do ano na Fórmula 1, algumas semanas depois de Luigi Musso, em Reims, na França. E foi nesse dia que Mike Hawthorn, que tinha visto Collins morrer à sua frente, decidiu abandonar a Fórmula 1 no final da época, independentemente de conseguir ou não o título mundial. Ele conseguiu o título. E cumpriu a promessa.


Fontes:

https://www.theguardian.com/sport/2017/nov/03/1957-mille-miglia-ferrari-louise-king-peter-collins

https://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Collins_(racing_driver)

https://www.f1-fansite.com/f1-drivers/peter-collins/

http://www.statsf1.com/en/peter-collins.aspx

https://www.oldracingcars.com/driver/Peter_Collins

http://www.enciclopediaf1.com.br/pilotos/peter-collins

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